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Transporte Sentimental



Quarta-feira, 28.10.15

«minima azorica» de onésimo teotónio almeida

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Antes da nota de leitura, gostaria de contar uma pequena história sobre «mínimos». Em 1980 houve os Jogos Olímpicos de Moscovo. Num «cartoon» Álvaro Cunhal desce as escadas de um avião soviético e é interpelado por um membro da nomenklatura: «Camarada, fizeste os mínimos?». A sua resposta é: «Mínimos? Nós em Portugal, camarada, fazemos sempre os máximos!». Adiante. O título e o subtítulo deste livro de Onésimo Teotónio Almeida (n.1946) são um achado de ironia de Theodor Adorno a João de Melo – entre o título latino e o subtítulo português. O primeiro lembra a gratidão e a lealdade enquanto o segundo desenha os Açores numa frase curta: «A terra é pouca e o mar infinito». Os textos aqui reunidos foram escritos entre 1994 e 2014 e os autores feitos tema destas comunicações, prefácios, artigos e outras participações em livros colectivos «estão todos mortos, todavia são ainda-vivos. Fazem parte do cânone literário e do imaginário açórico.» O ponto de partida deste volume de 230 páginas (nada mínimo!) é um facto: «Os Açores viveram entre os meados da década de 80 do século passado e o início do presente milénio, o mais dinâmico período da sua história cultural.» O autor parte do chão dos Açores para o espaço universal: «senti-me micaelense quando fui para a Terceira mas senti-me açoriano no Continente e na Espanha senti-me português. Mais tarde, na América senti-me europeu e na China senti-me ocidental.» Há uma frase de Vitorino Nemésio em 1932 (famosa, sintética e incisiva) que marca uma época: «Para nós a geografia vale outro tanto como a história!» e o autor deste livro começa com uma adversativa a «Mau tempo no canal» de Vitorino Nemésio (a cidade da Horta) mas sabendo que o resto de Nemésio é rural. E prossegue: «Dias de Melo é Pico e muito mar. Martins Garcia é também Pico no seu melhor. Alguma Horta e Lisboa no romance «A fome». Álamo Oliveira será talvez o mais urbano com o seu «Pátio de Alfândega» e alguns contos. João de Melo é Achadinha, um mundo remoto bem longe da cidade. Em «Gente feliz com lágrimas» Lisboa entra e está toda em «Um homem suspenso». Fernando Aires é citadino. Cristóvão de Aguiar é todo freguesia no seu (e meu) Pico da Pedra. Vasco Pereira da Costa é angrense em muitos contos e coimbrão no romance. Daniel de Sá é freguesia, a Maia, a uma hora da Ribeira Grande.» Concluindo se refere o nome dos autores aqui revisitados, entre outros temas mais gerais: Vitorino Nemésio, Arruda Furtado, Antero de Quental, Pedro da Silveira, José Enes, Dias de Melo, José Martins Garcia, Fernando Aires e Daniel de Sá. Curiosa a ligação de Tostoi a Antero; em 15-3-1889 anotou: «Levantei-me cedo outra vez, trabalhei imenso. Li Quental. Bom.»Por fim uma história passada com Emanuel Félix em Paris. Ao dialogar com um patrício a viver em Paris já há muitos anos, o poeta angrense pergunta-lhe por dificuldades em não se perder na confusão da cidade. A resposta é lapidar: «Eu antes de vir aqui para Paris andei no mar muitos anos. O mar é muito grande, não tem letreiro nenhum e eu nunca me perdi!» (Editora: Companhia das Ilhas, Capa: Jorge Aguiar Oliveira, Revisão e Índice: Vasco Medeiros Rosa) --

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por José do Carmo Francisco às 11:11



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