
O velho «Diário Popular» fez parte da minha educação sentimental entre os 10 e os 15 anos em Vila Franca de Xira. No Domingo à noite havia um grupo de fiéis leitores que esperava a chegada de uma carroça com um oleado no Inverno. Jacinto Baptista era o capitão de uma equipa de jornalistas e só de recordar os seus nomes fico comovido: José de Freitas, Mário Ventura, Abel Pereira, José de Lemos, Fernando Teixeira, Urbano Carrasco, Baptista Bastos. Em 1978 enviei a Carlos Pinhão de A BOLA um poema sobre a morte de Ruy Belo mas o poema foi publicado no «Diário Popular» na última página do Suplemento Cultural de quinta-feira. Quando recebi o prémio «Revelação» de Poesia ex-aequo com o poeta e jornalista Raúl Marques seguiu-se uma aproximação a Jacinto Baptista e passei a colaborar no «Diário Popular» e em «O Ponto»». Perante a minha inexperiência a resposta foi «O caminho faz-se caminhando». Devo-lhe esse incentivo e ainda hoje quando escrevo no meu Blog «transporte sentimental» ou envio um poema para o meu amigo Luís Milheiro («emboscadas do esquecimento») vem ao de cima o que ele me transmitiu nesses tempos: escrever a idade do autor, o número de páginas de cada livro e se possível o seu preço. Ainda hoje tenho uma colecção de fotografias de escritores que serviu de base à nossa coluna «A oficina do escritor» em «O Ponto». Jacinto Baptista foi director de um jornal popular mas foi eleito pelos dois lados: do lado da ferrugem e do chumbo, do lado da camisa branca e do fato completo. O seu rigor de historiador passou intacto para as páginas do jornal mas havia ao mesmo tempo um poeta disfarçado que um dia saltou para as páginas da Revista Colóquio/Letras da Fundação Gulbenkian num memorável poema em prosa sobre o Miradouro de São Pedro de Alcântara. --