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Transporte Sentimental



Quarta-feira, 07.01.15

«a viagem do tangomau» de mário beja santos

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São «Memórias da Guerra Colonial que não se apagam» e há, neste livro de 518 páginas, uma viagem entre dois mundos (Europa e África, guerra e paz) e entre dois tempos: 1968 (Mafra, Ponta Delgada, Amadora) e 2010 (o território complexo e o mosaico humano da Guiné). Presente em toda a viagem, a literatura acompanha o militar como contraponto à realidade que o envolve: Ruy Belo, Sophia, Pedro Tamen, Ruy Cinatti e Herberto Helder mas também Amândio César, Tomaz de Figueiredo, Curzio Malaparte, Kafka e Saint-John Perse. Mais tarde lê Sartre, Conan Doyle, Kerouac, Hemingway, Graham Greene, Steinbeck e Moravia. Muito antes de descobrir que o aerogramas eram mentiras generalizadas já o militar se debatia entre o juramento de bandeira («Juro ser fiel à minha Pátria e estar pronto a lutar e a dar a vida por ela»)e a guerra de guerrilha: «É para esmagar esta subversão que precisamos de atiradores hábeis». Percebeu que descolonização era inevitável («o que estudara sobre a presença portuguesa em África deixara-o desenganado quanto à chamada guerra justa») e nas aulas de Mafra ouve «críticas ferocíssimas sobretudo quanto às mentiras ou lógica de pechisbeque porque se defendia o Portugal Imperial, agora Ultramarino.» Quando volta em 2010 aos lugares da sua guerra, o militar sabe que «não se faz uma viagem ao passado para amaldiçoar o presente» e o seu discurso aos antigos comandados é elucidativo: «Quase menino e moço saí de casa de minha Mãe para me fazer soldado como vós. Os primeiros contactos foram difíceis, nada sabia sobre os vossos usos e costumes, aqui cheguei de barco e cedo me empolguei por este pedaço de terra dos negros que me coube por missão ou dever por carta de perdão. Fiz-me homem entre vós. Venho suplicar-vos que não percam a vossa nobreza, a vossa postura senhorial a despeito de tanta agrura. O Deus misericordioso, que nos comtempla, se exulte com a nossa alegria e me perdoe as faltas e me conceda junto de vós, alcançar a vida eterna. Porque o vosso e o meu Deus ditam o mesmo mandamento, amarmo-nos uns aos outros como Ele nos amou». (Edição: Temas e Debates/Círculo de Leitores, Capa: José Antunes, Revisão: Pedro Ernesto Ferreira) --

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por José do Carmo Francisco às 18:13


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