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Transporte Sentimental



Quinta-feira, 02.07.15

«a prova do fogo» de joaquim nascimento

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Depois de dois livros de memórias sobre a sua terra natal (Pereiros) e do relatório anotado do pároco local em 1758, a seguir a uma viagem à Guerra Colonial e outra à Gastronomia em livros anteriores, Joaquim do Nascimento assina este trabalho recente com o subtítulo de «Iniciação, Percurso e Prática dos Maçons Portugueses». Poderia tomar o título de «O tesouro do avô» pois o ponto de partida da narrativa é a descoberta numa casa em Riolindo do espólio do avô comum do narrador (Bonifácio) e da sua prima Benedita : «Ao avental, às luvas, à credencial, às rosas secas, tudo o que estava no baú de lata juntei o alfinete que continuei a usar cada vez com mais orgulho.» É a descoberta do espólio do avô que dá origem ao pequeno Museu local onde perdura a memória desse velho Republicano, Maçon e Carbonário e onde os livres-pensadores «gostam tanto do rico como do pobre, desde que sejam virtuosos, do sábio como do ignorante, desde que sejam competentes, do homem como da mulher, desde que sejam livres e de bons costumes». O percurso pessoal do protagonista dos primeiros capítulos em linha com o percurso social do espólio do seu avô descoberto na aldeia natal, funciona como uma norma estabelecida desta ficção narrativa: dois caminhos, dois universos, duas ideias. Dum lado a Fraternidade; do outro as paixões, a ignorância e a superstição. Na recusa do segundo ponto e na aceitação do primeiro, surge uma escolha e um destino para o protagonista cuja ideia central é «obedecer às leis do País, viver de acordo com a honra, praticar a justiça, amar o seu semelhantes, trabalhar sem descanso para o bem-estar da Humanidade e prosseguir a sua emancipação progressiva e pacífica». O texto do protagonista não se limita ao relatório, ao registo, à anotação minuciosa. A emoção surge no seu testamento, feito perante os Obreiros: «À minha filha, a Luz dos meus olhos, deixo os meus bens materiais, os meus escritos e a memória da minha passagem por este Mundo. À minha mulher, com quem partilhei 45 anos de vida, deixo o sorriso, a ternura, a rectidão e o denodo da nossa filha mais nova e deixo, igualmente, a memória da nossa filha que nos tiraram e que nunca deixou de ser o essencial da nossa saudade». (Editora: Cosmos, Prefácio: António Pedro Pires, Nota de contracapa: Jorge Barra, Foto da Capa: Ana Paula Nascimento) --

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por José do Carmo Francisco às 18:52



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