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Transporte Sentimental



Sábado, 11.05.13

«todos eles são seres humanos»

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«Salazar Portugal e o Holocausto» de Irene Flunser Pimentel e Cláudia
Ninhos
Salazar manteve no período da II Guerra Mundial um difícil equilíbrio entre
a «autoridade necessária e a liberdade possível» fazendo com que os
Portugueses se mantivessem «analfabetos, pobre e religiosos» enquanto para
os estrangeiros Portugal «foi um país de trânsito e não um país de exílio».
Explicando melhor as diferenças: «Um judeu alemão deixava de ser alemão por
ser judeu enquanto um judeu português era sempre um português». Nesta breve
nota de leitura são de referir apenas três aspectos.
Primeiro – o papel do cônsul Aristides de Sousa Mendes que salvou
milhares de pessoas: «Eu sou cristão e como tal acredito que não devo
deixar esses refugiados sucumbir. Todos eles são seres humanos». A sua
acção teve um castigo pois Salazar não lhe perdoou a desobediência:
«Impossibilitado de trabalhar, ficou arruinado e teve de viver da caridade.
Morreria em 1954, só sendo reabilitado em 1987» Em Marselha o cônsul José
Augusto de Magalhães tinha ideias próximas às de Sousa Mendes: «entre as
criaturas que nascem para fazer mal e outras que só sentem prazer em fazer
bem, eu pertenço ao número dos últimos». Segundo – a Imprensa
portuguesa em geral e a Imprensa Regional em particular. A «Gazeta das
Caldas» de 1/8/40 refere que a cidade tem vindo a oferecer «ultimamente uma
nota de vida cosmopolita, em virtude dos numerosos estrangeiros que nela
vieram acolher-se, foragidos da tormenta que assola a maior parte da
Europa». Também a Foz do Arelho surge no livro pelos piores motivos: «Em
Novembro de 1943 foi censurada a notícia da queda de um bimotor inglês na
Foz do Arelho». A censura do Estado Novo funcionava por eliminação de
«todas as notícias que não interessavam à nação, ou melhor, que a censura
achava que não interessavam á nação e que não deviam chegar ao seu
conhecimento de forma a não alarmar a população». Terceiro – a
participação directa de portugueses no Holocausto. Inácio Augusto Anta,
formado na Escola do Exército, saiu de Portugal em 1936 com destino a Paris
mas parou em Barcelona onde casou com um senhora ligada ao governo catalão
tendo perdido o único filho em fuga nos Pirenéus. A mulher foi enviada para
Ravensbrük e Anta foi morto em Sachsenhausen numa câmara de gás. Mais feliz
foi a história de José Agostinho das Neves: «Nascido em Lisboa, tinha cedo
ido viver para França onde tomava conta de uma agência livreira. Denunciado
por ser anti-nazi em 1940, esteve preso em Dachau até ser libertado pelos
americanos».
Ficam três notas sobre um livro extenso (e intenso) de 928 páginas,
dividido em duas partes: Portugal e a Alemanha na véspera da II Guerra
Mundial e Portugal, a II Guerra Mundial e o Holocausto.
(Editora: Temas e Debates/Círculo de Leitores, Capa: Vera Braga, Revisão:
Levi Condinho, Foto: Roger Kahan)
José do Carmo Francisco
--

Autoria e outros dados (tags, etc)

por José do Carmo Francisco às 20:24


1 comentário

De Luis Eme a 12.05.2013 às 13:05

pois, nesses tempos ser humano era um pecado e poderia até dar direito a prisão...

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