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Transporte Sentimental



Quinta-feira, 18.04.13

um búzio de istambul que se ouve à beira do mondego

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«O búzio de Istambul» de João Rasteiro
«Natureza e Cultura» – esta dupla inscrição pode ser uma das chaves para
entrar neste livro de João Rasteiro (n.1965). O título está na página 63: «O
binómio de Newton, dos silêncios que sufocam o tempo, das palavras de sangue
cintilante, do poema de vida e morte, o binómio das aldeias ininterruptas é tão
sublime e majestoso como a rosa, como o martírio do búzio de Istambul».
Trata-se aqui de um mundo uno. É o poema que une as coisas mais diversas e
opostas, sejam as águas em tumulto do Bósforo ou as águas calmas do Mondego:
«Toda a memória é uma forma de solidão, a respiração, a margem das palavras. O
eco.» Dito de outra maneira: «o poema atravessando dois mundos de ecos
intangíveis / a força consagrada dos búzios florindo a sua órbita viva /
advindo nos hortos perfumados dos jardins de Istambul».
Se «Natureza e Cultura» pode ser a primeira inscrição do livro, a segunda será
«Amor e Morte»: «quando em 1996, sob o vento de Outubro, antes que a noite se
aproximasse, te procurava por entre os odores dos amieiros, porque o amor é
forte como a morte, mais forte que a eternidade dos mortos – te procurava
na pureza do linho e das mortalhas sagradas, pai».
Voltando à dualidade «Natureza e Cultura», depois da homenagem a Camões («Junto
às margens impassíveis dos rios da Babilónia / os salgueiros têm fólio espinhos
hábeis de silêncios») o autor regressa à Natureza: «Agora que todo o campo,
todos os animais, todas as aves, toda a terra, todos os amieiros me pertencem,
regresso até ao fim do mundo» Mas já tinha viajado pela Cultura na primeira
parte do livro. A sua biografia («ser bardo e sonhador é devorar o fogo
sagrado, o correr das chuvas») envolve leituras de poetas como Camões, Fernando
Pessoa, Fiama, Luiza Neto Jorge, Gastão Cruz, Ramos Rosa, Jorge de Sena, Miguel
Torga, Eugénio de Andrade ou Mário Cesariny: «Deixa que chegue a ti o que não
tem nome: o que é o fogo. / Tocaste a luz, a quietude da luz e inventaste a
blasfémia / a respiração / retrocedeste em círculos / desceste ao pântano das
madrugadas que se acolhem largadas sob as chuvas»
O búzio de Istambul ouve-se à beira do Mondego, entre Coimbra e a Figueira da
Foz. O mundo é uno: o poema junta de novo o que a geografia separou.
(Editora: Palimage, Prefácio: Casimiro de Brito, Capa: Rogério Oliveira)
José do Carmo Francisco
--

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por José do Carmo Francisco às 16:14


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