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Transporte Sentimental



Domingo, 14.04.13

aproveitemos a vida no que ela tem de melhor

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«Photomaton – Auto-retratos íntimos» de João Viegas
João Viegas (n.1945) recuperou do seu Blog um conjunto de textos que
deixaram o efémero da Internet para se situarem no mais durável do papel
impresso. Num tempo de comunicação veloz (Youtube, Website, Facebook,
Farmville, Twitter) e mesmo sabendo que «um blog é uma espécie de vampiro»,
o ponto de partida é, ainda assim, um verso de Carlos Drummond de Andrade:
«A Solidão gera inúmeros companheiros em nós mesmos». Tendo-se estreado em
1983 com «O galo de Barcelos ao poder» e prosseguido com «As noites longas
do FM estéreo» de 1986, João Viegas publicou em 2004 «Gostastes?» na
Editorial Bizâncio e é co-autor do livro «O canto do galo» também da
Bizâncio em 2009.
Este livro surge com uma cartografia pessoal. Nele o autor regista os
filhos («Não é um familiar. Nem um vizinho. Nem um amigo. Nem uma paixão»),
o pai («O meu pai morreu há anos»), a mãe («Deste-me a Vida, o maior
presente de todos») e a mulher: «Há cerca de vinte anos conheci numa
pequena ilha no meio do Atlântico a Mulher da minha vida». Mas sendo um
livro pessoal não se fica pelo «eu» e avança decidido para o olhar mais
plural sobre o povo, a sociedade e o país onde o autor vive. Uma memória
viva da guerra em África («Quando eu tinha 15 anos começou a Guerra
Colonial / e os irmãos mais velhos dos nossos colegas a serem chamados /
para Angola que Salazar dizia “É nossa!”») prolongada nas
palavras do pai do autor quando este regressa de dois anos em Moçambique e
se reencontraram: «Então rapaz, correu tudo bem? Para outros correu tudo
mal como o Silva que já se tinha despedido dos amigos e fazia a última
patrulha em Moçambique: «Ficou espalhado em mil pedaços por terras
africanas».
O inventário do Portugal é irónico; seja na memória («Tínhamos um Império,
dois se contarmos com o cinema») seja no jogo dos apelidos: «Ninguém perdoa
ao Cavaco ser Silva, por isso ele vinga-se com o Professor Doutor mas mesmo
assim continuam a olhá-lo como um “saloio”». O autor diz o que
pensa sobre as leituras («Desde que me recordo como ser pensante todas as
minhas lembranças surgem associadas a Livros») e sobre as mulheres: «O
Presente para uma mulher de 40 anos é para ser vivido intensamente, antes
que se transforme em Passado». Sem esquecer a sua noção de felicidade:
começa com uma advertência («Todos os destinos são permitidos com excepção
dos Centros Comerciais») e termina com um aviso: «Aproveitemos a Vida no
que ela tem de melhor, / o Amor, a Amizade, o Prazer nas suas várias
facetas. / Sem nunca esquecer que Vida há só uma. Esta.»
(Editora: Mercado dos Sonhos, Capa: Sofia Silveira)
José do Carmo Francisco
--

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por José do Carmo Francisco às 23:26



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