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Transporte Sentimental



Quarta-feira, 20.03.13

a vida do povo cantada pelo povo

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«Cancioneiro do Ribatejo» organização e prefácio de Alves Redol
Com o subtítulo de «A vida do Povo cantada pelo Povo», o ponto de partida deste
livro é uma frase de Almeida Garrett: «Quem não tem olhado senão à superfície
da nossa literatura, não crê que ao pé, por baixo, andava outra literatura que
era a verdadeira nacional, a popular, a vencida, a tiranizada por invasores
gregos e romanos». Editada em 1950, esta recolha demorou 14 anos e contou com a
colaboração de: Henrique Lamas, Álvaro do Amaral Neto, Bona da Silva, Teresa
Redol, Delmira Redol, João Galão, Faustino Bretes, Francisco Alves Moreira,
Luís Duarte, Manuel Cartaxo, Diogo Roque, Rodrigues Regalão e Estevão Pio
Nunes.
Depois do trabalho sobre «Glória –uma aldeia do Ribatejo» não admira que
Alves Redol tenha ficado enfeitiçado pela quadra popular. Rodney Gallop definiu
essa quadra como um misto de «sinceridade, nitidez, concisão, espontaneidade e
humanidade comunicativa». A poesia ao longo dos séculos nunca recuou em chamar
as coisas pelos seus nomes, algo entre a canção e a oração. Muitas vezes o
analfabeto tem consciência de que cantar é o melhor remédio contra o
esquecimento; se cantar o poema já não se perde. A oração é a outra metade do
poema, a ligação ao mundo que está por cima, a comunicação com o desconhecido,
com a outra diferente realidade. Ou seja; tanto pode ser a saudade do amor («Se
fores ao Alentejo / ao monte onde eu mondei / a filha do lavrador / que case
que eu já casei») como a poderosa lucidez de quem sabe o seu lugar no Mundo:
«Quem é pobre sempre é pobre / quem é pobre nada tem / quem é rico sempre é
nobre / e às vezes não é ninguém».
Apenas mais duas quadras mostrando como exemplo as duas geografias: a da
paisagem e a da alma. No primeiro caso as cheias do Tejo: «Temos nova invernia
/ temos o povo assustado / se o tempo não alivia / temos o campo alagado». No
segundo a geografia da paixão: «Os teus olhos são escuros / como a noite mais
cerrada / mas apesar de tão negros / sem eles não vejo nada». Nas 200 páginas
do livro e nas centenas de quadras está toda a alma do Povo – ofícios e
profissões, vida e morte, pobreza e sabedoria, queixumes e vaidades, festas e
cantigas.
(Editora: O MIRANTE, edição comemorativa dos 100 anos do nascimento de Alves
Redol)
José do Carmo Francisco
--

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por José do Carmo Francisco às 15:28



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