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Sexta-feira, 02.09.16
«a batalha de covões» de josé viale moutinho
José Viale Moutinho (n.1945) estreou-se em 1968 na ficção com «Natureza morta iluminada» e «A batalha de Covões» de 2016 é o seu mais recente título. Vencedor do Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco com o livro «Cenas da vida de um minotauro» em 2002, apresenta nesta novela uma segurança narrativa que o leitor, terminada a leitura das 137 páginas do livro, poderá pensar como o padre Donaldo quando afirmou que Aparício Picallo vivia «disfarçado de cónego num bispado espanhol de dia e de noite corria praticando malfeitorias, dizendo que era para continuar a batalha de Covões.» O ponto de partida da narrativa é um assalto: «A camioneta de passageiros que fazia a ligação entre Braga e Chaves foi assaltada por guerrilheiros e os passageiros despojados de quantos valores levavam.» Só que as coisas não são assim tão simples: «O meu irmão reparou que todos tinham botas militares. Ainda por cima falavam todos espanhol, espanhol de Madrid, nenhum falava galego.» Tudo se explica na página 31: «Aquele ataque à camioneta de carreira fora perpetrado pelos guardas civis disfarçados de guerrilheiros, para provocar a atribuição de culpas e denúncias às autoridades portuguesas e Covões apareceu subitamente escrita no mapa com um risco à volta, a assinalar que era ali, no Barroso arraiano, que as coisas tinham de ser resolvidas.» Habilmente tecida, em paralelo com uma narrativa factual, surge uma história de «novelos» e de mistérios entre avó e neta: «a avó passava-lhe os seus novelos, seja as artes dos seus poderes antes de abandonar o mundo dos vivos.» Outro mistério é o da ponte da Misarela quando o Aparício sentiu que «os do Franco lhe andavam na peugada» e quando chegou à ponte da Misarela «não viu ponte nem nada, apenas o moleiro, o Gervásio, sentado numa pedra a tocar num cavaquinho e a rir-se, o malandro.» Claro que, nesta história, o Aparício vendeu a alma ao Diabo. Ao mesmo tempo a história (do livro) mergulha na outra história (a geral) e perceb-se que em 1945 (Março) se reúne um grupo de «comunistas, anarco-sindicalistas, socialistas e uma representação republicana». Nas Caldas da Rainha vivia nos anos 40 um advogado que amolava tesouras, um pouco como n página 79 deste livro: «um professor que sabia de tudo e tinha fama de republicano, que escapara duas ou três vezes a ser fuzilado e agora vivia como sapateiro.» Mas nem tudo é rígido e sério nesta história de uma batalha que, pelos vistos, ainda não terminou; há também momentos de humor do mais fino como quando num comboio francês Aparício fala com uma dama desconhecida e já em Paris ela lhe pergunta o nome. Ele responde «Jean Gabin». Logo ela responde com uma gargalhada - «Simone Signoret!» (Editora: Teodolito, Retrato do autor: Siza Vieira, Águas-fortes: Goya, Editor: Carlos da Veiga Ferreira) --
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por
José do Carmo Francisco
às 13:37
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