Saltar para:
Posts [1]
,
Pesquisa e Arquivos [2]
Transporte Sentimental
navegação
« dia anterior
início
dia seguinte »
Domingo, 08.05.16
levi condinho e alfredo roque gameiro - o campo na cidade
Respeito as opções dos meus amigos em relação à Internet e há entre eles quem não tenha «mail» nem «facebook». Este poema de Levi Condinho tem a data de 3-10-78 e está inédito até hoje. A ilustração do poema é dada pela aguarela de Alfredo Roque Gameiro intitulada «Alfama» e onde se percebe uma das constantes da Cultura Portuguesa – o Campo na Cidade. Para não ir mais longe, isso tudo está em Cesário Verde. E vamos ao poema que com todo o gosto divulgo neste Blog: «Sou contemporâneo de antigos camponeses / que me falavam da existência de demónios voadores / e bruxas perdidas pelos vales húmidos / a minha infância passou-se entre a luz do candeeiro a petróleo / a candeia de azeite / a lanterna de lata e vidro /e o gasómetro a carbureto no barbeiro aos sábados à noite / recordo os jogos inventados / na palha / na poeira / na água / e nessa lama de terra habitada / apenas por minhocas e outros /bichos inocentes / tempo de eiras de trigo e trilhos puxados pelos bois /«os boizinhos leões com corações de passarinhos»/ e os bois largavam grandes bostas fumegantes / pela estrada de pedra e pó / e eram tão puras as bostas que era vulgar apanhá-las do chão / com as mãos espalmadas / para encher os cestos de verga / e adubar as terras / tinha 3 anos talvez quando a minha avó / contribuiu para a primeira bebedeira da minha vida - hoje podia contá-las / às centenas mas quão distante o sabor / inicial do vinho da infância / muitas coisas se tinham passado neste século sem que / o soubesse – via as revistas da guerra e gostava das fardas dos soldados aliados e o nome de Hitler soava / aos meus ouvidos como se fosse / a marca de uma máquina destruidora / e sem sentido / mal eu sabia que entretanto em Nova Iorque / um negro chamado CHARLIE PARKER / anunciava o meu futuro/ de música e delírio permanente / sei que Deus habitava em mim porque eu tão pequeno / e cândido era maior e melhor / do que qualquer divindade dos / teólogos e dos místicos / sou portanto testemunha de inúmeras e pequenas sensações / com as quais podia demonstrar / a Verdade da Existência se acaso / a Verdade Existisse / hoje tenho os pés ainda assentes no chão / mas o chão começa a sacudir-me / como quem deixou de reconhecer / o direito que tenho de o pisar/ a lucidez é um dom dos que foram inocentes e sabem hoje / a inocência de cór em demasia / «quando é que nos vamos todos suicidar» / - sim mas que horror ser devorado / por estes vermes que povoam agora a Terra / vou ainda sair daqui à procura da Alegria porque ela há-de / ter poiso em qualquer lado – nas asas de um besouro voando / no cardos da Praia da Riviera – ou nos teus seios libertos enfrentado a tempestade.» Nota final – a gravura de Roque Gameiro está na Livraria Fabula Urbis, ali à Sé, na Rua Augusto Rosa 27. --
Autoria e outros dados (tags, etc)
por
José do Carmo Francisco
às 15:57
link do post
comentar
favorito
navegação
« dia anterior
início
dia seguinte »
Mais sobre mim
ver perfil
seguir perfil
13
seguidores
Pesquisar
Pesquisar no Blog
pesquisar
calendário
Maio 2016
D
S
T
Q
Q
S
S
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
« Abr
Jun »
Posts mais comentados
lisboa «cool» - jornalist...
(9)
cristiano ronaldo vingou ...
(7)
J.H.Santos Barros e Ivone...
(6)
o gonçalo, chefe de redac...
(6)
à maneira de fernando alv...
(5)
Arquivo
2017
Fevereiro
Janeiro
2016
Dezembro
Novembro
Outubro
Setembro
Agosto
Julho
Junho
Maio
Abril
Março
Fevereiro
Janeiro
2015
Dezembro
Novembro
Outubro
Setembro
Agosto
Julho
Junho
Maio
Abril
Março
Fevereiro
Janeiro
2014
Dezembro
Novembro
Outubro
Setembro
Agosto
Julho
Junho
Maio
Abril
Março
Fevereiro
Janeiro
2013
Dezembro
Novembro
Outubro
Setembro
Agosto
Julho
Junho
Maio
Abril
Março
Fevereiro
Janeiro
2012
Dezembro
Novembro
Outubro
Setembro
Agosto
Julho