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Transporte Sentimental



Domingo, 13.12.15

jornalismo «distraído, arrogante, pouco informado»

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Estas palavras verdadeiras e dolorosas surgem na página 64 do livro «As flores nascem na prisão» da autoria de Adelino Gomes (Círculo de Leitores) e referem as preocupações de uma jornalista (Bárbara Reis) que foi porta-voz do administrador transitório da ONU em Timor Leste, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Li no «Diário de Notícias» de hoje (dia 13-12-2015) uma crónica desportiva assinada por Nuno Coelho e nela uma frase está errada. Vejamos: «No segundo tempo Quim Machado trocou Ruca por Vasco Matos.» Ora o nome do jogador do Vitória de Setúbal é Vasco Costa. Acabei de ler um livro com dois lapsos que me parecem terríveis: surge Portugal dos Pequeninos em vez de Portugal dos Pequenitos e Portalegre (Brasil) quando no Brasil existe sim uma cidade com o nome de Porto Alegre. Outro dia li num livro de memórias «Camarão» da Ajuda por Caramão da Ajuda. Num outro livro apareceu-me uma confusão enorme entre Port Said e Port of Spain. Ora Port Said fica à saída do deserto do Egipto no Canal do Suez (Mediterrâneo) e Porto of Spain é o nome de uma cidade numa ilha (Trindade ou Trinidad) lá para as Caraíbas.Procurei uma imagem de Vasco Matos que eu conheci muito bem em 1997 (ou coisa que o valha) numa equipa de Juniores do Sporting Clube de Portugal mas não o consegui apanhar e tenho estas imagens de uma outra equipa de Juniores dos «leões». Aprendi com Jacinto Baptista no «Diário Popular» que é importante arranjar sempre um desenho, uma gravura ou uma fotografia que completem qualquer texto. Segundo as suas palavras em 1978 o jornal existe para «formar, informar e divertir». Claro que para mim as gralhas não têm graça nenhuma mas isso é outra conversa. E algumas nem são gralhas mas um espelho de ignorância. --

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por José do Carmo Francisco às 16:31

Sábado, 12.12.15

«era uma vez o tempo» de fernando aires

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Na página 16 do livro «Mau tempo no canal» Vitorino Nemésio (1901-1978) escreve que «sete anos nas ilhas dão grande fundura ao tempo». Na verdade ali o tempo é outro em todos os sentidos. Ora este livro de Fernando Aires (1928-2010) é um «Diário» de mais de 700 páginas cobrindo um certo tempo açoriano de Dezembro de 1982 a Maio de 2010. Um dos aspectos curiosos deste livro é a reflexão sobre o próprio «Diário» que Fernando Aires refere deste modo: «Estas linhas (bem ou mal) têm servido para dizer a todos que eu existo.» Noutra reflexão surge o Passado, o Presente e o Futuro: «O passado é uma perda e o futuro uma privação. Perda e privação, dois vazios que geram angústia. Só resta o presente – contingente, fugidio, dependente da trama que me transporta e que não foi inteiramente tecida por mim. E do modo como me prende, fica-me o sentimento da impotência, da provisoriedade, de que tudo se vive só uma vez para ser logo perdido. Era uma vez a vida…» Mas o autor nunca se fecha em si mesmo pois sabe-se inserido num colectivo: «O português é assim. Escabuja, agita-se até ao paroxismo. Fala mal de tudo e de todos ameaçando céus e terra, afirmando que se ele mandasse, etc. Para logo depois, acalmado e quase feliz, aceitar tudo, resignar-se com tudo, contemporizar com o inimigo.» A meditação sobre a escrita do Diário funda-se no «eu» e tem momentos de dúvidas («Ultimamente começo a manhã sem nada para dizer. A sensação de que já me esgotei. Procuro e procuro cá dentro. Nada – só areia e cardos.») mas depressa a razão de ser do percurso das vivências se impõe porque a finalidade da vida não pode ser apenas e só viver, daí a explicação: «Esta a razão de a gente se pôr a esculpir estátuas de deuses e a pintar retratos de homens. A compor poesia, prosa e sinfonia.» O testemunho pessoal não fica de fora neste volume. Vejamos um aspecto do retrato de Zeca Afonso na página 74: «Nele, sempre vi o exilado de uma pátria, cujas fronteiras só ele conhecia até onde. Sentimental e idealista, descosia-se pouco com a maioria dos companheiros que não lhe acompanhavam os sonhos nem sintonizavam em identidade de projectos. Sempre me fascinou nele um certo mistério, um certo ar dilacerado por tragédias ocultas, um certo lago secreto de palavras não ditas.» (Editora: Opera Omnia, Prefácio: Eugénio Lisboa, Posfácio: José Leon Machado, Apresentação: Onésimo Teotónio Almeida, Notas da contracapa: João de Melo, Eduíno de Jesus e Eugénio Lisboa, Coordenação: Maria João Ruivo Sousa Franco, Capa: João Ramos) --

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por José do Carmo Francisco às 19:58

Sexta-feira, 11.12.15

dissertação para um quadro de ana calheiros

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Há neste quadro uma mulher de beleza sem idade que suspende no seu olhar todo o movimento do Mundo. Não sei que paisagens vão afinal povoando o seu sorriso apenas anunciado de perfil como se reeditasse as raparigas dos quadros de Vermeer entre o frio dos canais e o calor da paixão. O mesmo será dizer - entre as paisagens exteriores e as paisagens interiores. Nada ou quase nada sei desta mulher serena, sábia e sedutora, desta mulher capaz de incitar a novos caminhos para percorrer e novas direcções para tomar. No seu olhar o tempo inscreve novas paisagens para o inesperado calendário sentimental de quem a contempla na Galeria no centro da Cidade de Lisboa. O quadro regista um esplendor, uma marca, um timbre que sobe na sua voz até à maior altura desta canção ainda sem título. Porque se trata de uma canção, sem dúvida. Mesmo sem palavras, mesmo sem métrica, há aqui uma poderosa máquina de sons, uma alegria convocada, uma serena felicidade que esta mulher inaugura, anuncia e compartilha. Tal como o sol teima em afastar a névoa matinal nos lugares da cidade, os seus olhos são uma força contra a melancolia que se instalou durante a noite no coração de todos nós. Por isso o seu olhar tem a força de uma bandeira capaz de juntar todos os que se perderam nos caminhos da solidão sem esquecer os lugares do desespero e do vazio. Mesmo sem a cadência do tambor, a bandeira deste olhar convoca, treina e conduz um batalhão de indecisos. --

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por José do Carmo Francisco às 22:54

Sexta-feira, 11.12.15

o rio tejo, a «gazeta do sul» e as fragatas

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Montijo – O Tejo, a «Gazeta do Sul» e as fragatas Vi o Rio Tejo pela primeira vez em 1957 e lembro-me do que se olhava da Ponte em Vila Franca de Xira: os avieiros nos seus barcos-casa e os campinos a caminho da lezíria com o seu avio semanal. No Porto Alto à noite havia sempre um homem de capuz e oleado a segurar uma lanterna pintada de verde e de vermelho porque a ponte sobre o Rio Sorraia era de madeira e só podia passar uma camioneta de cada vez. No Montijo em 1957 estranhei a água quente nas torneiras e os homens que passavam a caminho do Campo Luís Almeida Fidalgo com um tijolo na mão. Eles queriam ver o jogo sem pagar bilhete e o tijolo ajudava junto ao muro. Outros com mais sorte subiam para o telhado da malhada do Ferra, ao funda da Rua Sacadura Cabral. As fragatas eram muito importantes ao tempo para transportar os produtos e as mercadorias do outro lado do Tejo para Lisboa. Vinha cortiça de Pegões em galeras, vinha madeira, vinho das Faias, conservas da Vila. O Frescata e o Isidoro eram as mais conhecidas. Como só havia uma ponte desde 1951 e a outra (Lisboa-Almada) só veio a aparecer em 1966, compreende-se a força e a importância das fragatas. Nesse ano de 1957 ainda se falava do naufrágio de 1941 quando morreram muitos fragateiros do Montijo (e não só) no meio de grande tempestade no estuário do Tejo, o Mar da Palha. No Santuário da Atalaia havia desenhos ingénuos daqueles que no meio do desastre tinham invocado a protecção da Senhora da Atalaia e vinham agradecer por ela os ter salvo. Foi no Montijo que vi o primeiro jornal da minha vida, a «Gazeta do Sul». Naquele temo havia poucas máquinas de escrever e os jornais eram feitos a chumbo. Eu ia a caminho da Escola Primária e ficava com o nariz colado ao vidro das oficinas do jornal onde se estreou o poeta Sebastião da Gama. Nasceu aí a minha actual carteira de jornalista. --

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por José do Carmo Francisco às 14:58

Terça-feira, 08.12.15

o saloio, a pacalaia, o francês e a falta que camilo nos faz ainda hoje

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António Lobo Antunes na entrevista ao Diário de Notícias tenta rasurar os autores portugueses da sua geração. Sobre Fernando Pessoa defendeu a ideia peregrina de que um autor só pode ser grande se for um grande D. Juan. Basta ver dois grandes autores como Raul Brandão («Húmus») ou Carlos de Oliveira («Uma abelha na chuva») para se perceber o contrário. Ou de como não é por ter sido pai de muitos filhos que Jorge de Sena («Sinais de fogo») é um grande autor. Clara Ferreira Alves, por sua vez, na Revista do Expresso de 21-1-2015 chamou «coitado» a Camilo Castelo Branco mas a falta que eu sinto é a de Camilo polemista. Por exemplo o livro «De L´Amadis de Gaule» de Eugenio Baret (1816-1887) foi lido e anotado por Camilo. Logo nas primeiras páginas perante a nota original «Ferdinand, pére de Jean 1er» surge a advertência de quem sabe: «O pai de D. João I era D. Pedro; D. Fernando era irmão». A seguir perante o nome de Vasco de Lobeira que não consta do «Nobiliário» do Infante D. Pedro, Camilo escreve: «Inépcia. D. Pedro tratou de fidalgos exclusivamente». Logo a seguir havendo confusão sobre as Casas de Gouveia e Aveiro, Camilo proclama: «Tolice. Gouveias e Aveiros eram a mesma família». Depois sobre Ayala (autor de «El Rimado de Palacio») que o francês afirma «fait prisonnier en 1367» Camilo esclarece: «Aqui há confusão. Ayala ficou cativo em Aljubarrota em 1385». Enfim, como afirma João Paulo Freire «Nada lhe escapava». Para concluir: peneiras qualquer um pode ter mas joeiras só para quem sabe. Nem António Lobo Antunes nem Clara Ferreira Alves se podem substituir ao juízo do tempo. Quem diz tempo diz ensaístas habilitado para esse juízo como Óscar Lopes, Jacinto do Prado Coelho, Fernando J.B. Martinho, Fernando Venâncio, Manuel Frias Martins ou Gastão Cruz. --

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por José do Carmo Francisco às 12:56

Segunda-feira, 07.12.15

«mulher inclinada com cântaro» de jaime rocha

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Neste livro de 24 páginas, breve mas luminoso e intenso, a Nazaré está presente em força: pelo autor (Jaime Rocha), pela editora (Volta d´mar) e pela citação inicial de Raul Brandão, autor do livro «Os pescadores» onde surgem páginas de antologia sobre a Nazaré e as suas gentes. Os poemas recordam um «assombro», não um assombro qualquer mas este assombro povoado por uma mulher («A mulher despeja as tripas de peixe no mar»), por um cão («O cão não a deixa») e por um homem que faz perguntas: «e se a eternidade fosse assim: / um cacho de uvas no nevoeiro?» O «assombro» da citação inicial de Raul Brandão é o outro nome da morte: «Mas agora é o tempo da morte.» E trata-se de uma morte concreta embora o poema não refira o nome daquele que está ausente, «alguém que nunca chegou, alguém comido pelos crustáceos.» Depois da morte, a mulher e o cão esperam o regresso do corpo: «ambos sabem que um náufrago vive no coração do mar / à espera que as correntes e as rochas / o devolvam à terra». O poema-chave do livro é o da página 18: «A mulher inclina-se então sobre / o cântaro, tapada por um lenço / e bebe a água, toda a água, deixando / os lábios colados ao barro.» Aqui a morte do náufrago é a oposição à vida da água; essa oscilação entre a morte e a vida fica expressa no poema da página 20: «Quando o náufrago aparece / na rebentação, a fonte seca e todos / os cântaros racham com o sopro da água.» A narrativa poética chega ao fim - «Nesse dia, tudo o que era vivo parou / a luz, a água, o vento./ Só a mulher / com o cântaro conseguiu aproximar-se / da praia e chorar.» A praia fica vazia porque «as mulheres desapareceram» e apenas resta o livro como memória desse tempo: «O que se segue fica escrito nas folhas de um livro.» Este livro de 24 páginas, breve mas luminoso e intenso. (Editora: Volta d´mar, Foto/capa: Sylviane Lehuby, Produção: Luís Paulo Meireles) --

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por José do Carmo Francisco às 21:48

Sábado, 05.12.15

«passos perdidos» de ernesto rodrigues

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Ernesto Rodrigues (n.1956) é um profundo conhecedor do século XIX português tanto no jornalismo, na cultura e nas artes como na política, na ciência e na história. Homem dos sete ofícios na área das letras (poeta, tradutor, editor, ensaísta, crítico, contista e ficcionista) foi também jornalista e leitor de Português na Universidade de Budapest. Neste seu recente livro de ficção, o século XIX está bem presente no primeiro capítulo cujo título é uma homenagem a Camilo Castelo Branco enquanto o discurso de José Luciano de Castro aqui recordado acompanha a outra homenagem (mais discreta) pois o enredo amoroso lembra outro romance de Camilo - «Coias espantosas». Trata-se de facto da queda de um anjo, neste caso um deputado com a idade da democracia («vou candidatar-me à décima quinta eleição») que exerce o cargo desde 1975 num Parlamento que já foi Mosteiro de São Bento da Saúde e é vizinho do Poço dos Negros: «Em 1515, D. Manuel mandara abrir um poço para enterrar os escravos, sem direito a adro ou interior de igreja.» Nesse Parlamento uma senhora ocupa o trono e diz coisas como esta: «O meu medo é o do inconseguimento…o inconseguimento de eu estar num centro de decisão fundamental a que possa corresponder uma espécie de nível social frustracional derivado da crise.» É no velho edifício parlamentar que surge um projecto novo: «comprar aldeias vazias do interior, para férias, onde se circulasse de bicicleta.» Mas antes de o projecto entrar no hemiciclo a narrativa regista e sinaliza algumas opiniões certeiras (e talvez camilianas) sobre os problemas do país («falta-nos uma justiça inteligente; no seu lugar crescem lóbis»), sobre o Governo («pejado de licenciados em Direito que pouco fazem e sonham nada fazer») e ainda sobre os candidatos à Assembleia: «Quanto mais estúpido for o candidato melhor responderá ao elogio; necessitado, mais cedo cede às migalhas». A narrativa combina a lucidez com o humor. Veja-se a referência a um pequeno partido («num partido que cabe em dois ou três táxis, fácil se tornava identificá-los») ou a um comentador televisivo também docente universitário («que lia livros como likes eu punha no facebook») e tudo isto numa terra, a nossa terra, «que já quase nada produz, além de nabos». Para além do enredo da história, o interesse do livro está na ironia suprema de, 150 anos depois do discurso de José Luciano de Castro, mostrar que o país continua em muitos aspectos hoje (2015) como no tempo do discurso - 1865. Algumas gralhas não alteram em nada o fascínio do livro: «snob» sem itálico na página 57, desconto de tempo «como no futebol» na página 71, «constituintes» por eleitores na página 76, «também» sem acento no «e» na página 80 e «cachas» de batatas por cascas na página 115. (Edição: Âncora Editora, Capa: Sofia Travassos Diogo, Foto: António Baptista Lopes) --

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por José do Carmo Francisco às 19:34

Sexta-feira, 04.12.15

«acrónimo» de joão rasteiro

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João Rasteiro (n.1965) neste seu décimo livro de poemas escolhe um título que convida à síntese. Poe exemplo há palavras como OVNI e RADAR que são acrónimos pois resultam das iniciais de outras palavras. Num certo sentido toda a Poesia é um resumo, um apanhado, uma síntese. Por exemplo - o poema de Fernando Pessoa «Ó mar salgado / quanto do teu sal / são lágrimas de Portugal» corresponde à verdade histórica de se saber hoje que na «carreira da Índia» entre 1551 e 1650 saíram de Portugal para Goa 539 naus das quais 136 naufragaram. Como em toda a poesia moderna, há neste trabalho um cruzamento de referências (Herberto Helder, Jorge Melícias, José Tolentino Mendonça, Cesare Pavese e Aldous Huxley) mas no fundo é a pergunta do poema da página 42 que permanece: «Não sei se foi Deus / que concebeu a poesia e as estrelas / (…) ou se foi a poesia que criou Deus e as estrelas». Pode dizer-se que o ponto de partida deste livro é a oposição entre Homem e Deus tal como se anuncia no poema da página 13 («No princípio era o homem, e a opulência do sopro») mas o ponto de chegada é a oração como metáfora de toda a poesia no sentido em que se escreve para ligar de novo tudo o que a morte separou: «Uma oração não é um perfeito / amor-perfeito, em seu óbelo / uma oração nunca é um amor-perfeito / assim é a impiedade a seu tempo. / E tudo assim sobrevirá, em tempos, / de olvido, a boca do pecado é sublime / entre a dobra sagrada do nódulo». Ou como confirma Maria Irene Ramalho no posfácio «O poema não é para ser soletrado. O poema é um acrónimo» talvez porque as palavras são «corpos tocáveis, sereias visíveis e sensualidades incorporadas» tal como afirmou Fernando Pessoa pela voz de Bernardo Soares no «Livro do desassossego». Na página 51 escreve-se «O que quero dizer é que a leitora pode (e deve) consultar o dicionário» mas este livro de João Rasteiro merece (e muito) também ter leitores atentos, interessados e curiosos. (Editora: Edições Sem Nome, Posfácio: Maria Irene Ramalho, Imagens: Daliborka Kordié, Grafismo: Luiz Pires dos Reis/ Xenia Pereira Reis) --

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por José do Carmo Francisco às 11:09

Quinta-feira, 03.12.15

jacinto baptista ou o poeta disfarçado de jornalista

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O velho «Diário Popular» fez parte da minha educação sentimental entre os 10 e os 15 anos em Vila Franca de Xira. No Domingo à noite havia um grupo de fiéis leitores que esperava a chegada de uma carroça com um oleado no Inverno. Jacinto Baptista era o capitão de uma equipa de jornalistas e só de recordar os seus nomes fico comovido: José de Freitas, Mário Ventura, Abel Pereira, José de Lemos, Fernando Teixeira, Urbano Carrasco, Baptista Bastos. Em 1978 enviei a Carlos Pinhão de A BOLA um poema sobre a morte de Ruy Belo mas o poema foi publicado no «Diário Popular» na última página do Suplemento Cultural de quinta-feira. Quando recebi o prémio «Revelação» de Poesia ex-aequo com o poeta e jornalista Raúl Marques seguiu-se uma aproximação a Jacinto Baptista e passei a colaborar no «Diário Popular» e em «O Ponto»». Perante a minha inexperiência a resposta foi «O caminho faz-se caminhando». Devo-lhe esse incentivo e ainda hoje quando escrevo no meu Blog «transporte sentimental» ou envio um poema para o meu amigo Luís Milheiro («emboscadas do esquecimento») vem ao de cima o que ele me transmitiu nesses tempos: escrever a idade do autor, o número de páginas de cada livro e se possível o seu preço. Ainda hoje tenho uma colecção de fotografias de escritores que serviu de base à nossa coluna «A oficina do escritor» em «O Ponto». Jacinto Baptista foi director de um jornal popular mas foi eleito pelos dois lados: do lado da ferrugem e do chumbo, do lado da camisa branca e do fato completo. O seu rigor de historiador passou intacto para as páginas do jornal mas havia ao mesmo tempo um poeta disfarçado que um dia saltou para as páginas da Revista Colóquio/Letras da Fundação Gulbenkian num memorável poema em prosa sobre o Miradouro de São Pedro de Alcântara. --

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por José do Carmo Francisco às 15:13

Terça-feira, 01.12.15

«a verdadeira história do século 20» de claudio willer

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Trata-se do primerio livro da nova colecção «cadeRnos suRRealistas sempRe» dirigida por Maria Estela Guedes. Claudio Willer (n.1940) foi presidente da União Brasileira de Escritores entre 1988 e 2004. Poeta, ensaísta e tradutor, é também psicólogo e sociólogo. Os seus poemas neste livro integram epígrafes de Julien Gracq, Rimbaud, Henri Béhar, Novalis, Herberto Helder, André Breton e Mário Cesariny, o que revela um grande conhecimento do surrealismo por parte de um autor que já em 1965escrevia algo como isto: «Tudo o que escrevo se dirige a um só tipo de público, muito difícil de definir – o uso de palavras como «marginal» ou «rebelde» arrisca rotular ou cristalizar o que é muito mais dinâmico e complexo. Na realidade trata-se de pessoas portadoras de alguma monstruosa deformação espiritual, como uma ferida mal cicatrizada que as torna mais sensíveis a certos estímulos.» Esse texto de 1965 antecipa o do século XXI colocado na página 7 do livro no sentido em que interroga o intervalo entre a vida e a morte: «POESIA PICTÓRICA; VISUAL: SIMBOLOGIA DA ÁGUA Quando a praia onde você está é sentida como real unicamente por / trazer a lembrança viva dos cheiros, claridade e ruídos da / outra praia onde você esteve, muito tempo atrás / quando nada mais resta a não ser a impressão de que viver foi inútil / e de que morrer é algo totalmente idiota.» (Editora: Apenas Livros «apenaslivros2@gmail.com», Revisão: Luís Filipe Coelho, Capa: Maria Tomás, Direção: Maria Estela Guedes) --

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por José do Carmo Francisco às 11:01

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