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Transporte Sentimental



Sexta-feira, 04.12.15

«acrónimo» de joão rasteiro

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João Rasteiro (n.1965) neste seu décimo livro de poemas escolhe um título que convida à síntese. Poe exemplo há palavras como OVNI e RADAR que são acrónimos pois resultam das iniciais de outras palavras. Num certo sentido toda a Poesia é um resumo, um apanhado, uma síntese. Por exemplo - o poema de Fernando Pessoa «Ó mar salgado / quanto do teu sal / são lágrimas de Portugal» corresponde à verdade histórica de se saber hoje que na «carreira da Índia» entre 1551 e 1650 saíram de Portugal para Goa 539 naus das quais 136 naufragaram. Como em toda a poesia moderna, há neste trabalho um cruzamento de referências (Herberto Helder, Jorge Melícias, José Tolentino Mendonça, Cesare Pavese e Aldous Huxley) mas no fundo é a pergunta do poema da página 42 que permanece: «Não sei se foi Deus / que concebeu a poesia e as estrelas / (…) ou se foi a poesia que criou Deus e as estrelas». Pode dizer-se que o ponto de partida deste livro é a oposição entre Homem e Deus tal como se anuncia no poema da página 13 («No princípio era o homem, e a opulência do sopro») mas o ponto de chegada é a oração como metáfora de toda a poesia no sentido em que se escreve para ligar de novo tudo o que a morte separou: «Uma oração não é um perfeito / amor-perfeito, em seu óbelo / uma oração nunca é um amor-perfeito / assim é a impiedade a seu tempo. / E tudo assim sobrevirá, em tempos, / de olvido, a boca do pecado é sublime / entre a dobra sagrada do nódulo». Ou como confirma Maria Irene Ramalho no posfácio «O poema não é para ser soletrado. O poema é um acrónimo» talvez porque as palavras são «corpos tocáveis, sereias visíveis e sensualidades incorporadas» tal como afirmou Fernando Pessoa pela voz de Bernardo Soares no «Livro do desassossego». Na página 51 escreve-se «O que quero dizer é que a leitora pode (e deve) consultar o dicionário» mas este livro de João Rasteiro merece (e muito) também ter leitores atentos, interessados e curiosos. (Editora: Edições Sem Nome, Posfácio: Maria Irene Ramalho, Imagens: Daliborka Kordié, Grafismo: Luiz Pires dos Reis/ Xenia Pereira Reis) --

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por José do Carmo Francisco às 11:09


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