
O teu rosto é uma bandeira de alegria na tarde de sol de Outono e há aqui, em frente a nós, jovens soldados prontos a seguir a tua rota em direcção à batalha. O teu olhar incita, a tua voz comanda, o teu porte altivo estimula os hesitantes e em pouco tempo se forma uma hoste guerreira que vai encher a estrada principal da vila antiga onde vives. Por aqui passaram em tempos soldados franceses a caminho de Abrantes: dizimaram vidas, saquearam adegas, roubaram cereais, destruíram tulhas de azeite. Mas o teu olhar de mulher-menina prefere a doçura da paz, convoca a alegria, empurra o sorriso de quem, como eu, espera um sinal. Perto de nós há uma azáfama na apanha da azeitona. Vem gente de longe, basta ver as matrículas dos automóveis parados na beira da velha estrada de Castelo Branco. Eles não contam as horas que passam dobrados sobre a azeitona, os sacos aos poucos cheios com o que está nos ramos cortados com o serrote. Depois de retirados os frutos negros que vão para o lagar, o que resta serve para alimentar as grandes fogueiras na tarde do sol de Outono. Passam camionetas de passageiros, saem estudantes a caminho de casa, a tarde começa a declinar, a monotonia da floresta de pinhal integra-se nos sons do Mundo quando os animais se tornam a ortografia sonora da tarde. Às dezassete horas chega a noite e toda a gente se recolhe a casa com os animais de pasto. No rosto da mulher-menina se integram os mundos da Geografia mas também da História. E da quotidiana versão de um desenho a preto e branco onde as sombras são mais frágeis do que a luz. E de uma partitura musical, de um cântico, de uma alegria todos os dias renovada na convocação que chega logo de manhã entre a tua casa e o teu escritório. O teu rosto de mulher-menina é uma bandeira de alegria. --