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Transporte Sentimental



Segunda-feira, 07.09.15

«portugal lugares ilustrados» de catarina cardoso

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Graças aos conhecimentos e aos esforços do meu amigo João Viegas, este livro de Catarina Cardoso (n.1973) chegou hoje à minha mesa de trabalho. Trata-se de uma viagem em Portugal em forma de desenho e de texto de apoio em português e em inglês. A viagem tem três espaços principais (Norte, Centro e Sul) e as seguintes paragens: Vila Nova de Cerveira, Soajo, Minho (Braga), Guimarães, Porto (Ribeira), Douro (rio), Vila Meã, Aveiro (Costa Nova), Coimbra, Caldas da Rainha, Óbidos, Golegã, Berlengas, Ericeira, Cascais (costa e baía), Lisboa (Tejo, São Pedro de Alcântara, Pastéis de Belém), Arrábida, Carrasqueira, Porto Covo, Arraiolos (campo e tapetes) Marvão, Serpa, Mértola, Cacela Velha, Tavira e Sagres. Ao todo são 30 pontos de Portugal, ilustrados pela autora que organizou os desenhos depois de «parar, observar, respirar e viver» cada um dos lugares. Como convite à descoberta e leitura (em dupla inscrição) deste livro de desenho e texto fica uma memória de Caldas da Rainha na velha e sempre nova «praça da fruta». Poderia ficar outro mas há na citação uma pessoal trajectória nesta velha praça caldense: desde criança muitas vezes e todos os anos por lá passei, algumas vezes para beijar minha tia Francelina que lá vendia os seus animais e mimos da horta situada ali no Casal dos Carvalhos, bem perto do Zambujal e das Antas. (Edição: da autora, Apoios: Banco Espírito Santo e Sociedade Lisbonense de Metalização) --

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por José do Carmo Francisco às 20:09

Domingo, 06.09.15

elegia em prosa para os meninos de deir iassine

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Abril de 1947 foi o mais cruel dos meses para os meninos de Deir Iassine, mortos em suas casas às dezenas pelos terroristas que, mais tarde, chegaram a primeiros-ministros do seu país – Menahem Begin e Isaque Shamir. Houve relatórios da Cruz Vermelha e das autoridades do Mandato Britânico mas nesse momento os meninos de Deir Iassine já estavam mortos e já tinham sido atirados aos poços dessa outrora próspera vila habitada por gente de paz. O mais brutal do ataque foi mesmo a surpresa: o pânico e a fuga sugiram em consequência do ataque. Os terroristas usaram facas para evitar os ruídos. Esses meninos de Deir Iassine não queriam morrer, pensavam ir para a Escola no dia seguinte e se estivessem vivos teriam hoje qualquer coisa como setenta e quatro anos. Há uma lista de nomes que arrepia só de consultar. As suas vidas foram brutalmente interrompidas pela morte. Ao contrário da lógica, os outros, os terroristas, foram promovidos e chegaram dois deles a primeiros-ministros nos anos 80 do século XX. Dizem que esse lugar mudou de nome, houve uma terraplanagem e hoje existe lá um pequeno aeroporto mas isso não me interessa nada. Não há terraplanagens para a memória dos crimes. Os meninos de Deir Iassine não morreram em 1947 porque os seus nomes continuam a bater à porta dos que julgam poder fazer a negação do massacre. Todas as manhãs o som dos seus nomes é gritado para todos nós e os dias do Mundo são balizados pelo grande remorso dessa Terra onde o sangue continua a correr. Os meninos de Deir Iassine só morreram no corpo mas a sua alma continua a dizer em voz alta que não quer morrer. Quando os arquivos do Estado deixarem de estar reservados a verdade vai empurrar a névoa mentirosa criada pelos terroristas que chegaram a primeiros-ministros e pelos falsificadores da História. --

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por José do Carmo Francisco às 12:05

Sábado, 05.09.15

«traição no seio da família» de manuel gaspar

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«A escola da amargura» - podia ser o título deste livro; a sua narrativa descreve o «curso» de amargura que o protagonista tirou em Portugal e em França. Um «curso» tão completo que deu licenciatura, mestrado e doutoramento. Filho de uma mulher analfabeta, rancorosa e violenta («não sabia ler nem escrever»),experimentou a brutalidade da progenitora logo aos seis meses de idade quando esta só o levantou da terra onde tinha caído de dentro de um cesto «depois de acabada a própria lida. A sua azáfama era-lhe mais importante do que a vida do bebé.» Mais tarde, no primeiro dia da escola primária, ela empunhou uma cavaca e gritou: «Ó rapaz do caraças, ou tu aprendes ou levas com a cavaca em cima!». Gritou outra ameaça com uma forquilha quando um dia a chave da casa não aparecia: «Ó rapaz do diabo, ou a chave aparece ou eu estripo-te!» Com oito anos de idade, ele chega a pensar no suicídio: «Não tinha pedido para nascer, muito menos para sofrer violência por parte de quem lhe deveria dar amor.» A violência, o analfabetismo e o rancor da progenitora ficam patentes quando o filho volta pata casa, expulso do seminário: «Ai não comes? Mais barato ficas.» A brutalidade alastra ao pai que se despede deste modo aquando da partida do filho de 14 anos para Lisboa: «Para mim serás sempre considerado como um assassino». Já em França a sua vida negra continuou: por um lado a mulher obrigava o filho mais velho a pagar 450 francos franceses pelo alojamento mas quando o irmão mais novo ficou a seu cargo apenas lhe entregava 300 francos franceses por mês. Um livro como este é feito de dois factores: o sangue pisado e o estilo. O segundo é condicionado pelo facto de o autor ter vivido em França muitos anos. A organização do discurso engloba centenas de advérbios de modo (tão caros aos franceses) como por exemplo «igualmente» três vezes seguidas na página 94 ou «raramente» duas vezes seguidas na página 96. Algumas palavras são usadas em português por influência directa do francês: questões por perguntas, trem por comboio, campesinos por camponeses, diáspora por emigração ou abade por pároco. Uma possível disfunção cronológica leva a que surjam as fotocópias em vez das certidões no início dos anos 60 (pág. 42) ou a ANP, fundada em 21-2-70 aparece na taberna de Caselas antes de 1968 (pág. 118). E também a geografia: a Avenida é Duque de Loulé, não «de Loulé» (pág. 80), a bebida é Eduardino não «Eduardinho» (pág. 84), Emissora Nacional (pág. 112) e Junta de Emigração (pág. 117) têm caixa alta e não baixa, o nome do jornal é O SÉCULO e não «Século» sendo que este e o «Diário de Notícias» umas vezes surgem com aspas e outras sem nenhum sinal gráfico (pág. 80). Por outro lado «demais» não é «de mais» (pág. 176) e «contrabaixista» não leva hífen como contrabaixo (pág. 189). Além disso a idade de Arménio aparece na página 217 como 46 e 45 anos, surge «incerto» depois de parte e seria «incerta» (pág. 190), «solarengo» não é soalheiro (pág. 138), São Martinho do Bispo não é «do Porto» (pág. 228) e «bitoques» não é bitocles (pág. 237). Nada que altere a mensagem final destas páginas: um doloroso, veemente e minucioso testemunho do sofrimento acumulado ao longo de uma vida por quem emigrou para um país diferente do seu em tudo menos num aspecto: a família, lá como cá, continuou a explorar o seu amor, a sua ingenuidade e o seu trabalho. (Editora: Edições Vieira da Silva, Prefácio: Manuel Monteiro, Capa: Paula Némesis, Revisão: Catarina Lopes) --

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por José do Carmo Francisco às 12:06

Sexta-feira, 04.09.15

dissertação breve para um quadro de luiza caetano

Casinhas da Co.JPG

Da esquerda para a direita temos o vermelho, o verde e o azul. Três casas, três cores, três emblemas no futebol português, três imagens a lembrar que a esta Costa Nova já Raul Brandão tinha chamado um espaço «misto de terra, silêncio e água». No para sempre seu e nosso livro «Os pescadores». Há por aqui, nas margens do quadro, de modo implícito mas não explícito, uma memória viva de outros séculos como, por exemplo, o tempo quinhentista quando Aveiro tinha 12 mil habitantes e 150 navios equipados mas em 1575, com a barra entupida e atulhada, a cidade despovoou-se. Os tempos são ciclos de morte e de vida, assim como as pequenas ondas do mar que, de sete em sete, recebem uma onda grande derramada na areia da praia. Entre o representado e o lugar propiamente dito há quem procure uma revelação mas na verdade não chove. É o céu «que se derrete» – explica Raul Brandão. Aliás tudo fora do quadro é indefinido: os sonhos são matéria em dissolução, não se percebe bem onde acaba a terra e começa a água, o tempo não tem limites definidos. «Silêncio e luz» - foi esta uma das definições de Raul Brandão nesse seu livro sem o qual não se pode perceber a nossa terra e a nossa gente. Nesse tempo (1923) havia carros de bois e o ritmo era outro. Mas havia também barcos que serviam para tudo: comer, dormir, trazer peixe do mar e levar o sal e o moliço pela terra dentro. Luiza Caetano fixa no perímetro do quadro a tripla inscrição das cores, dos ritmos, das falas, da sucessão dos dias, sua manhã luminosa e seu crepúsculo de cinza, tudo o que a luz permite guardar do dia que passou, da sua temperatura e humidade, do seu peso específico e do som da voz dos que, com a força da ternura húmida, o povoaram. --

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por José do Carmo Francisco às 20:07

Quinta-feira, 03.09.15

«a ilha e o verbo» de antónio rego

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Com o segundo título de «Dos Vulcões da Atlântida à Galáxia Digital», este livro é uma viagem na vida do padre/jornalista António Rego sujeita a etapas, paragens e compassos de espera. Não é livro para se ler depressa. As suas 271 páginas englobam a entrevista de Paulo Rocha (196 pág.), o prefácio do Patriarca de Lisboa (3 pág.) e 72 páginas de memórias, testemunhos, ensaios e uma oração do autor. As 24 páginas de fotografias (preto e branco e a cores) não estão numeradas. Já Vitorino Nemésio advertiu («para o Ilhéu a Geografia é mais importante do que a História») e o padre António Rego em 1964 partiu para a sua vida de jornalista com essa ideia («A terra imprime carácter. E o mar.») mas sem esquecer que «o mundo não acaba na terra onde nascemos» embora «noventa e sete por cento de Portugal seja mar». Natural das Capelas (ilha de São Miguel) o jovem seminarista cedo descobre outros Mundos em Angra do Heroísmo (ilha Terceira). Não só dentro do seminário («foi uma grande fábrica de amigos») mas também fora dele numa ilha onde o Povo tem um ritual de vida diferente de São Miguel: «Menos dolorista, com outra concepção do trabalho, do convívio e da festa, com olhos pretos brilhantes, semelhantes aos luzeiros do céu». O ponto de partida é uma afirmação («Não estou aqui para ver mas para ver, viver e contar») passando da Ilha para o Mundo mas sem esquecer as raízes, o pai e a mãe. O primeiro lembrava-lhe que «se queria ser padre tinha de ser a sério», a segunda «tinha um português bonito, sem vírgulas e quase sem pontos, sem erros também porque a minha avó tinha sido mestra». Além do Português, o Latim foi muito importante: começou por ser «uma máquina de silêncio numa igreja» mas, mais tarde, foi a base para descobrir outros autores e fazer «entrevistas em Moscovo, Pequim e outros locais». Sem esquecer o Grego e o Hebraico, para as leituras bíblicas. António Rego (o padre) sempre considerou a sua identidade como una («Somos um só, no altar como na rua») e como jornalista cedo começou a ter problemas com o «lápis azul»: «No jornal «A União» a Censura cortou-me alguns textos mas eu dava a volta e dizia o mesmo por outras palavras.» O caso específico das Ilhas dos Açores leva-o a referir a Fajã do Santo Cristo em São Jorge: «As pessoas reuniam-se na igreja, na hora da missa, colocavam o rádio sobre o altar e seguiam unidas toda a celebração.» O lugar é muito belo mas há anos atrás os acessos eram impossíveis. A única nota desagradável é o uso do «acordo» ortográfico. Algumas gralhas podem ser melhoradas numa futura edição: «palava» por palavra na página 15, «e» por de ordinandos na página 53, «Acão» por Acção Católica na página 57, «Peça» por Pessa na página 84, «padre» por cardeal Ribeiro na página 94, «adverso» por avesso na página 131, «manteve» e «manter» na mesma frase na página 144, «empresários» por empresariais na página 150, abreviatura «ENG» não explicada na página 162, «vós» por Vós na página 168, «Internet» sem itálico na página 172 mas com itálico nas 174 e 175, «Internet» com caixa alta e caixa baixa na página 187 e «Lazaro» por Lázaro» na página 270. Há nestas páginas muito sangue pisado, seja na tristeza quando fala dos vencidos do catolicismo» («ficaram remos parados por falta de braços») seja no humor quando o jornalista japonês pergunta na sala de imprensa do Vaticano - «A que horas entra o Espírito Santo?» (Editora: Paulinas, Foto: Luís Costa/Ecclesia, Prefácio: D. Manuel Clemente, Contracapa: Berta Cabral, Manuel Clemente e Roberto Carneiro) --

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por José do Carmo Francisco às 11:39

Quarta-feira, 02.09.15

biblioteca nacional - jorge ferreira de vasconcelos - um olhar 500 anos depois

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A Biblioteca Nacional assinala o V centenário de Jorge Ferreira de Vasconcelos (1515-1585) com uma exposição na sua Galeria do Auditório de segunda a sexta das 9h 30m às 19h 30m e ao sábado das 9h 30m às 17h 30m. Silvina Pereira é a Comissária e a organização conjunta pertence ao Teatro Maizum e à B.N. A exposição integra documentos das chancelarias régias sobre a actividade de Jorge Ferreira de Vasconcelos nas tesourarias reias, edições da «Comedia Eufrosina» (1555) e do «Memorial das proezas da segunda távola redonda» (1567), o manuscrito da «Comedia Aulegrafia» existente na Real Biblioteca de Madrid, sucessivas edições de Jorge Ferreira de Vasconcelos, traduções castelhanas da «Comedia Eufrosina» (1628, 1735, 1911), fotografias de cena, cenários, figurinos, adereços, dramaturgias editadas, programas, cartazes, materiais promocionais, cadernos de imprensa dos espectáculos produzidos pelo Teatro Maizum com os textos de Jorge Ferreira de Vasconcelos. Este autor, que viveu no tempo de Camões, tinha a particularidade de não assinar as suas comédias. Viveu entre o pó e a posteridade e Diogo de Teive dedicou-lhe um epigrama sobre a sua fama efectiva e a relativa fama dos seus contemporâneos. Mais tarde Teófilo Braga refere que encontrou na «Eufrosina» uma anotação sobre ao hipótese deste autor ter nascido em Lisboa mas o texto não está assinado. O autor teve obras proibidas pela Inquisição em 1561, 1564, 1581 e 1624 mas nunca parou. Morreu-lhe um filho em Alcácer Quibir mas transformou a tragédia em comédia e continua a afirmar-se como um homem inteligente, iconoclasta, capaz de conhecer os problemas dos homens e das mulheres do seu tempo, mantendo uma coragem que não era pequena para desancar pela sátira o descalabro da Corte e da Cidade de Lisboa por esse tempo de quinhentos, afinal tão próximo do nosso tempo. --

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por José do Carmo Francisco às 14:21

Terça-feira, 01.09.15

joão gobern - uma estrela verdadeira e duas falsas estrelas

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O «Diário de Notícias» de 16-5-2015 repousa junto a outros jornais em cima da secretária. Trata-se de uma nota de leitura de João Gobern sobre o livro «I´ve always kept a unicorn – The biograpthy of Sandy Denny» de Mike Houghton. De seu nome Alexandra Elene MacLean Denny, teve uma vida breve (1947-1978) mas intensa pela timidez e pelo talento, pelos cigarros e pelo álcool, pela alegria e pela tristeza, enfim pelas drogas duras que a atiraram ao chão. Porque nem todos os dias se encontra em Picadilly Circus um músico capaz de parar o trânsito e de a colocar dentro de um táxi. Sandy Denny entrou na minha vida quando em Abril de 1976 fui a Londres e comprei todos os discos dos Fairport Concention e dos Fotheringay além dos seus próprios discos - «The North Star Grassman and the Raven», «Sandy», «Like an old fashion waltz» e «Rendezvous». Dediquei-lhe um poema no meu livro «Iniciais» (Moraes Editores) que venceu com Raul Malaquias Marques o Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores tendo como júri Armando Silva Carvalho, Fernando J.B. Martinho e Pedro Támen. A sua filha Georgia (1977) é quase da idade da minha filha Ana (1978) que vive e trabalha em Londres. O marido de Sandy Denny (Trevor Lucas) levou a bebé para a Austrália ao perceber que a mãe da criança não conseguir tomar conta dela. Gostaria de saber alguma coisa da Georgia. No mesmo jornal saiu há tempos ume entrevista com ume empresária da moda. Falando da sua família reduziu-a a um cão, passando por cima dos avós, dos pais, dos irmãos, dos tios e dos primos. Agora neste fim–de-semana foi uma estrela da TV que se afirmou como alguém quem fala com Deus de igual para igual. 37 anos depois da sua morte Sandy Denny não morreu porque continua a ser uma estrela; as outras não são estrelas. --

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por José do Carmo Francisco às 21:47

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