
O livro recente «Levante-se o réu» de Rui Cardoso Martins (Editora Tinta da China) refere na página 40 uma frase de um homem na barra do Tribunal: «Eu quando trabalhava na ponte tinha caparro!» Mas já na página 39 do mesmo livro essa palavra aparece na boca do réu: «era forte, tinha caparro». Ora essa palavra caparro não existe nos bons dicionários portugueses e só me apareceu no Dicionário Houaiss do Círculo de Leitores como sinónimo de «barrigudo». Trata-se de um dicionário brasileiro, como se sabe. Procurei, procurei tudo o que conhecia e lembrei-me do belo Dicionário do Calão de Afonso Praça (1939-2001). A Editora é a Casa das Letras. A actualização esteve a cargo de Cláudia Almeida, Pedro Dias de Almeida e Rodrigo Dias. Demorou um pouco a encontrá-lo mas valeu a pena porque na página 68 lá aparece a explicação: «caparro – robustez física». E era mesmo isso que o homem queria dizer, ele que trabalhou na Ponte Salazar onde era um dos rapazes que viam nascer o sol para os lados do Poço do Bispo. Mas, como tudo o que é humano, a construção da ponte sobre o Tejo acabou e o senhor Rogério teve que emigrar. Palavra puxa palavra e aparece-me o calão minderico na página 277 do livro do Afonso Praça. Eu que até nasci ali perto da Serra dos Candeeiros. Para «refrigerante» eles usavam «areeiro» e tem toda a lógica porque no meu tempo de criança Areeiro era a marca mais habitual em Santa Catarina e na região das Caldas da Rainha para as laranjadas, as gasosas e as águas em geral. Nas tabernas da minha terra não havia frigoríficos mas sim um poço. Era no poço que os taberneiros mergulhavam um cesto de vime aos Domingos com os refrigerantes. Quando era preciso puxavam a corda e serviam o freguês. A garrafa não vinha gelada mas fresca. --