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Quarta-feira, 09.09.15
«alfacinhas» de alfredo de mesquita
Alfredo de Mesquita (1871-1931) publicou este livro em 1910 mas, passado um século, a escrita límpida deste olisipógrafo natural de Angra do Heroísmo mantém a sua eficácia. Lembra um tempo mas também um estilo: «Um bombeiro era sempre um benemérito, um professor de instrução primária sempre uma vítima, uma sogra sempre uma fera». As crónicas deste livro são um intervalo feliz entre o poema e o conto, o ensaio sociológico e a antropologia, a memória e o esquecimento mas para o autor o Jornalismo é uma disciplina da Literatura: «Todos querem ser mais do que podem e parecer mais do que são. Ser ambicioso nem sempre é mau; mas a ambição assim é desvario. A literatura desvairou também.» Os textos do livro são anteriores à República; daí o Rei no Parlamento: «O que o governo não puder fazer para bem da Nação há-de fazê-lo a Divina Providência. O povo confia.» A política («governos, partidos, oposições, blocos, maiorias, coligações«) é uma excelente ocasião para lembrar a importância social da filarmónica: «É a dos regeneradores ou é a dos progressistas? É a filarmónica! A política pode ter música mas a música não tem política.» O ponto de partida é a janela; seja a janela da cidade («Há janelas de Lisboa que são jardins, outras que são quintais») seja a janela do cronista: «Desta larga janela rasgada de par em par, por onde a vista me foge». Cada crónica é um «passeio sem destino e sem horas». Tanto pode ser a Benfica («Em menos de duas horas chegava o carro a Benfica») como a Veneza: «Veneza é triste mas não há realidade que mais lembre o sonho». Tanto pode ser de ónibus («Faziam parte integrante do ónibus o cocheiro e o condutor, duas criaturas em tudo opostas») como a pé nas ruas de Lisboa, pronto a encontrar honestos saloios («roupa lavada, vinho, pão, queijo, ovos, manteiga, água») como vigaristas: «O charlatão tornou-se pessoa respeitável. Ele não é um profeta: é um positivista. Ele não é um apóstolo: é um comerciante. Ele não é um maluco: é um homem de juízo. Ele não é um dissidente: é um oportunista.» As ruas são um Mundo onde se cruzam os gatos («Feixe de nervos, magro, o pelo curto, a unha rija, o estômago de ferro, a espinha de aço, o olho temerário») e as criadas («Os tempos mudam e tudo muda com os tempos: pois também a criada muito tem mudado»), os automóveis das viagens de núpcias («os noivos estão arrependidos de tanta pressa terem tido em casar») e também os seus namoros em São Pedro de Alcântara: «Donde era? – De Bixeu… arredada duas léguas… - Ena, que longe! – considerava ele. E como era longe, chegava-se mais para ela – para que ficasse mais perto.» Em 144 páginas o autor não esquece a adversativa da senhora de boa sociedade que em 1880 perguntou: «Mas afinal ele era realmente Camões ou chamavam-lhe assim por ser cego de um olho?». «O povo em Portugal é ainda tão ignorante como a senhora de boa sociedade a quem se atribui esta raia» - conclui Alfredo de Mesquita. (Edição: VEGA, Direcção: Carlos Consiglieri, Capa: Luís Eme, Apoio: CML-Cultura, Editor: Assírio Bacelar) --
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por
José do Carmo Francisco
às 11:37
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