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Quinta-feira, 03.09.15
«a ilha e o verbo» de antónio rego
Com o segundo título de «Dos Vulcões da Atlântida à Galáxia Digital», este livro é uma viagem na vida do padre/jornalista António Rego sujeita a etapas, paragens e compassos de espera. Não é livro para se ler depressa. As suas 271 páginas englobam a entrevista de Paulo Rocha (196 pág.), o prefácio do Patriarca de Lisboa (3 pág.) e 72 páginas de memórias, testemunhos, ensaios e uma oração do autor. As 24 páginas de fotografias (preto e branco e a cores) não estão numeradas. Já Vitorino Nemésio advertiu («para o Ilhéu a Geografia é mais importante do que a História») e o padre António Rego em 1964 partiu para a sua vida de jornalista com essa ideia («A terra imprime carácter. E o mar.») mas sem esquecer que «o mundo não acaba na terra onde nascemos» embora «noventa e sete por cento de Portugal seja mar». Natural das Capelas (ilha de São Miguel) o jovem seminarista cedo descobre outros Mundos em Angra do Heroísmo (ilha Terceira). Não só dentro do seminário («foi uma grande fábrica de amigos») mas também fora dele numa ilha onde o Povo tem um ritual de vida diferente de São Miguel: «Menos dolorista, com outra concepção do trabalho, do convívio e da festa, com olhos pretos brilhantes, semelhantes aos luzeiros do céu». O ponto de partida é uma afirmação («Não estou aqui para ver mas para ver, viver e contar») passando da Ilha para o Mundo mas sem esquecer as raízes, o pai e a mãe. O primeiro lembrava-lhe que «se queria ser padre tinha de ser a sério», a segunda «tinha um português bonito, sem vírgulas e quase sem pontos, sem erros também porque a minha avó tinha sido mestra». Além do Português, o Latim foi muito importante: começou por ser «uma máquina de silêncio numa igreja» mas, mais tarde, foi a base para descobrir outros autores e fazer «entrevistas em Moscovo, Pequim e outros locais». Sem esquecer o Grego e o Hebraico, para as leituras bíblicas. António Rego (o padre) sempre considerou a sua identidade como una («Somos um só, no altar como na rua») e como jornalista cedo começou a ter problemas com o «lápis azul»: «No jornal «A União» a Censura cortou-me alguns textos mas eu dava a volta e dizia o mesmo por outras palavras.» O caso específico das Ilhas dos Açores leva-o a referir a Fajã do Santo Cristo em São Jorge: «As pessoas reuniam-se na igreja, na hora da missa, colocavam o rádio sobre o altar e seguiam unidas toda a celebração.» O lugar é muito belo mas há anos atrás os acessos eram impossíveis. A única nota desagradável é o uso do «acordo» ortográfico. Algumas gralhas podem ser melhoradas numa futura edição: «palava» por palavra na página 15, «e» por de ordinandos na página 53, «Acão» por Acção Católica na página 57, «Peça» por Pessa na página 84, «padre» por cardeal Ribeiro na página 94, «adverso» por avesso na página 131, «manteve» e «manter» na mesma frase na página 144, «empresários» por empresariais na página 150, abreviatura «ENG» não explicada na página 162, «vós» por Vós na página 168, «Internet» sem itálico na página 172 mas com itálico nas 174 e 175, «Internet» com caixa alta e caixa baixa na página 187 e «Lazaro» por Lázaro» na página 270. Há nestas páginas muito sangue pisado, seja na tristeza quando fala dos vencidos do catolicismo» («ficaram remos parados por falta de braços») seja no humor quando o jornalista japonês pergunta na sala de imprensa do Vaticano - «A que horas entra o Espírito Santo?» (Editora: Paulinas, Foto: Luís Costa/Ecclesia, Prefácio: D. Manuel Clemente, Contracapa: Berta Cabral, Manuel Clemente e Roberto Carneiro) --
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por
José do Carmo Francisco
às 11:39
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