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Transporte Sentimental



Sábado, 04.07.15

«espiões em portugal durante a II guerra mundial» de irene flunser pimentel

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Com o subtítulo de «Como o nosso país se tornou local de passagem de agentes ingleses e alemães», este livro com 479 páginas de texto e 14 páginas de fotografias mais os anexos, as notas, a bibliografia e índice onomástico, começa com uma advertência: «não se espere ver aqui um estudo exaustivo mas apenas uma visão parcelar sobre o tema da espionagem durante a II Guerra Mundial em Portugal». Este Portugal de 1939/1945 surge como o resultado do que aconteceu desde 1932 quando o Estado Novo foi edificado a partir de cima, ficando sempre o movimento partidário único – União Nacional – na dependência do governo, havendo por isso quem o qualifique de fascismo sem movimento fascista». A sombra de Salazar domina: «O regime salazarista tolerava os não-políticos mas vigiava os estrangeiros que se opunham ao fascismo e ao nacional-socialismo e que pudessem tornar-se seus potenciais adversários».

Lisboa era uma cidade «onde se cruzavam espiões, refugiados, diplomatas ou dirigentes estrangeiros», uma placa giratória onde conviviam três partidos: «o partido francês para quem a vitória francesa acarretará o triunfo do liberalismo e do radicalismo, o partido inglês que acredita que a sua vitória trará a derrota de Salazar e o fim do regime enquanto o partido germanófilo vê na vitória da Alemanha a garantia da continuidade de Salazar no poder». O Estado Novo criminalizou a espionagem em 1943 mas em 1944 o desembarque na Normandia aconteceu com o desvio das atenções dos alemães - foram induzidos pelos espiões a pensar que o mesmo ia acontecer no Pas-de-Calais. Foi um templo de aventuras mais tarde passadas a livro por Ian Fleming (o Casino Royale é o Casino Estoril) ou por Graham Greene e Thomas Muggeridge, além do autor romeno Mircea Eliade sem esquecer que a figura de James Bond nasceu aqui. Mas também tempo de ridículo: «A Fábrica de Licores e Xaropes Victoria foi obrigada a retirar os cartazes com esse nome, por receio de que estivesse a propagandear a vitória dos Aliados.» A luta chegava ao circo: «Weltzien conseguira levar para o seu serviço o palhaço do Coliseu dos Recreios, François, que ficou encarregue de arranjar espiões entre o pessoal de circo». Mas também ao amor, como na teia organizada por John Beevor, pai do historiador Anthony Beevor (The Battle of Spain): «uma agente do MI6 arrastou um oficial da Abwehr para uma armadilha numa praia isolada fora de Lisboa. O alemão foi apanhado e transportado por via aérea para Inglaterra antes de a sua embaixada ter tempo de alertar as autoridades portuguesas». (Editora: A Esfera dos Livros, Capa: Compañia, Foto capa: Arcangel Images) --

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por José do Carmo Francisco às 09:19

Sexta-feira, 03.07.15

«viver num ninho de espiões» de maria joão martins

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A colecção «Lisboa revelada» nasce de um propósito: «revelar Lisboa como outrora se revelavam fotografias – com vagar e na expectativa de sermos surpreendidos por algo que não víramos no momento de «disparar». Lisboa não é uma só, feita de um punhado de dados históricos e demográficos, é múltipla e esquiva, oferecendo-se e, no entanto, resistindo a quem a procura decifrar. Ou não fosse também ela Olisipo, a suave criatura das águas que, há muito, muito tempo, chegou a abrigar a exaustão de Ulisses.» Este livro tem um subtítulo clarificador «Lisboa-Estoril, 1939-45». Lisboa era definida por Saint-Exupéry como um «paraíso claro e triste» e era nesses anos o lugar aonde chegavam escritores, artistas de cinema, banqueiros, reis sem trono e espiões: Louise Rainier, Leslie Howard, Carol da Roménia, Stefan Zweig, Erich-Marie Remarque, Jean Gabin, Saint-Exupéry e muitos outros refugiados anónimos. Em Lisboa Portugal festejava os 300 anos da restauração e os 800 anos da fundação na Exposição do Mundo Português enquanto Coventry, Southampton, Londres e Paris sofriam ocupação e bombardeamentos. No Estoril a figura de James Bonde começa a ser idealizada pelo futuro escritor Ian Fleming a partir (diz-se) das aventuras do espião Popov. Também se diz que o Casino Royal é o Casino Estoril em metáfora. As páginas do livro viajam pelo problema dos abastecimentos de víveres («Uma galinha mediana custa 20$00») ou dos combustíveis: «O carvão, essencial quer aos transportes quer à vida doméstica determinaria no primeiro caso a redução de carreiras e no segundo a preferência por alimentos de confecção rápida». Uma peça de João Bastos intitulada «Refugiados» no Teatro Variedades foi alterada para «Gente de fora» por imposição da Censura. Outros temas aparecem nas páginas deste livro: o Futebol, o Cinema, a Rádio, o Teatro e a Noite com os seus «dancings», tudo isto debaixo de uma chuva de propaganda alemã, britânica e norte-americana. Mas também os artistas como Leslie Howard que desapareceu num avião da BOAC na noite do golfo da Biscaia ou o casal Vivien Leigh e Laurence Olivier que foram ao cinema e deram autógrafos aos espectadores. Mas se há muita coisa a mudar, há tradições que permanecem: «havia velhas tradições que ainda resistiam na primeira metade da década de 40. Melhor dizendo havia todo um conjunto de hábitos transmitidos de pais para filhos, que Duarte Pacheco não pôde abolir por decreto. A Lisboa que Thomas Mann e Stefan Zweig conheceram em horas de grande angústia, era ainda a dos concurso de vestidos de chita entre as moçoilas dos bairros, a dos pregões populares como «capilé, copo com água» ou «quem quer figos quem quer almoçar», a dos marçanos, dos padeiros, dos carvoeiros e das varinas, a dos cartazes onde a Liga dos Tuberculosos precisava de escrever «O homem civilizado não cospe no chão» (Editora: Gato do Bosque, Capa/Design: Ema Gonçalves) --

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por José do Carmo Francisco às 18:31

Sexta-feira, 03.07.15

«em lisboa sobre o mar» antologia de ana isabel queiroz, luís maia varela e maria luisa costa

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Com o subtítulo de «Poesia 2001-2010» e o ponto de partida de um verso de Fernando Assis Pacheco («se fosse Deus parava o sol sobre Lisboa») este conjunto de poemas de 26 autores portugueses organiza-se em forma de cartografia da cidade de Lisboa. Pode partir-se das Portas do Sol (Manuel Alegre), seguir-se pelo Miradouro de S. Luzia (Ana Luísa Amaral) e pela Sé (Ana Hatherly), continuar-se pela Praça do Comércio (Vasco Graça Moura) e pela beira do Tejo (Tiago Patrício) ou pelo Rossio (Vítor Nogueira) a caminho de S. Pedro de Alcântara (Pedro Mexia). A origem da presente antologia, com o título emprestado de um poema de João Zorro, está na Comunidade de Leitores de Paisagens Literárias de Lisboa que desde 2010 funciona na Livraria Fábula Urbis (Rua Augusto Rosa nº 27 - à Sé) em parceria com a Universidade Nova de Lisboa (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas). Sendo impossível resumir em breves linhas o conteúdo de um volume de 90 páginas, fixemos três percursos possíveis. A rua no poema de José Mário Silva: «Os corpos encostados à parede / talvez recordem paisagens brancas / um inverno ucraniano com árvores perdidas na neve». O miradouro no poema de Pedro Mexia: «Sobes a um miradouro para ver tudo isto: / talvez a cidade não seja assim tão branca / mas também ocre e rosa e amarelo torrado / e gostes mais das ruas ao vê-las de cima / no seu desenho, e penses que o rio é mais / azul quando surge ao fundo de uma rua». E a pastelaria no poema de António Ferra: «na baixa pombalina há gente como eu / poetas ou amantes no nascer do dia ou do céu / por necessidade, por obrigação / e nas avenidas novas / operários de café e de fonemas / vendem incertezas / e também servem trovas / no meio das empadas, de rissóis e de bolos / tudo pequenos nadas a encobrir poemas. / É isso que trazem e levam para as mesas. / Fazem-se tolos.» (Editora: Fabula Urbis, Capa: Rita Vaz, Coordenação editorial: Carmo Gregório) --

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por José do Carmo Francisco às 17:25

Quinta-feira, 02.07.15

«a prova do fogo» de joaquim nascimento

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Depois de dois livros de memórias sobre a sua terra natal (Pereiros) e do relatório anotado do pároco local em 1758, a seguir a uma viagem à Guerra Colonial e outra à Gastronomia em livros anteriores, Joaquim do Nascimento assina este trabalho recente com o subtítulo de «Iniciação, Percurso e Prática dos Maçons Portugueses». Poderia tomar o título de «O tesouro do avô» pois o ponto de partida da narrativa é a descoberta numa casa em Riolindo do espólio do avô comum do narrador (Bonifácio) e da sua prima Benedita : «Ao avental, às luvas, à credencial, às rosas secas, tudo o que estava no baú de lata juntei o alfinete que continuei a usar cada vez com mais orgulho.» É a descoberta do espólio do avô que dá origem ao pequeno Museu local onde perdura a memória desse velho Republicano, Maçon e Carbonário e onde os livres-pensadores «gostam tanto do rico como do pobre, desde que sejam virtuosos, do sábio como do ignorante, desde que sejam competentes, do homem como da mulher, desde que sejam livres e de bons costumes». O percurso pessoal do protagonista dos primeiros capítulos em linha com o percurso social do espólio do seu avô descoberto na aldeia natal, funciona como uma norma estabelecida desta ficção narrativa: dois caminhos, dois universos, duas ideias. Dum lado a Fraternidade; do outro as paixões, a ignorância e a superstição. Na recusa do segundo ponto e na aceitação do primeiro, surge uma escolha e um destino para o protagonista cuja ideia central é «obedecer às leis do País, viver de acordo com a honra, praticar a justiça, amar o seu semelhantes, trabalhar sem descanso para o bem-estar da Humanidade e prosseguir a sua emancipação progressiva e pacífica». O texto do protagonista não se limita ao relatório, ao registo, à anotação minuciosa. A emoção surge no seu testamento, feito perante os Obreiros: «À minha filha, a Luz dos meus olhos, deixo os meus bens materiais, os meus escritos e a memória da minha passagem por este Mundo. À minha mulher, com quem partilhei 45 anos de vida, deixo o sorriso, a ternura, a rectidão e o denodo da nossa filha mais nova e deixo, igualmente, a memória da nossa filha que nos tiraram e que nunca deixou de ser o essencial da nossa saudade». (Editora: Cosmos, Prefácio: António Pedro Pires, Nota de contracapa: Jorge Barra, Foto da Capa: Ana Paula Nascimento) --

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por José do Carmo Francisco às 18:52

Quarta-feira, 01.07.15

«tráfego» de álvaro luís

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A vida é breve, a morte é inevitável e o amor é precário mas no tráfego do Mundo, na viagem da vida, no absurdo do quotidiano, o amor ainda é a resposta ao tempo hostil de todos os dias. Mesmo que o esquecimento seja uma ameaça ao amor como no poema «Tráfego»: «Afinal tudo ficou acordado/ Destrocaremos as prendas e os retratos / Não vacilaremos / Os beijos e os abraços / Não são considerados / Passaste depressa / Na fluidez do tráfego». Vencedor do Prémio de Poesia 2002 da Escola António Arroio, este livro de Álvaro Luís integra 24 poemas e tem como ponto de partida um lugar - «Lisboa»: «Contemplo-te / Deitada na margem / Do teu rio / Colinas ruas e vielas / As curvas / Teus jardins floridos / O perfume / Invadindo-me o peito / Quando me debruço / Sobre ti / Te beijo / E amo». Numa dupla inscrição, o poema pode ser lido tendo por destinatária a cidade mas também a mulher. A mesma dupla inscrição surge no poema «O lado do pensar» pois nele o homem (o poeta) para quem viajar é um ofício («No comboio/a trabalhar») perde o cacilheiro («Vi-te partir») a ligar dois lados do mesmo rio: «Aqui fico na tarde calma / Junto ao cais». Em frente fica o Cristo Rei («um rei completamente restaurado / que mantém os braços abertos») e do lado de cá do rio a angústia portátil do poeta: «Mergulho as mãos /Nos bolsos da minha alma». No ritmo e na parte real da vida surge a força do relógio («Batem as horas do destino») que pode ser um aparelho de marca («Tissot») como no poema homónimo: «O tempo passa / Confirmo-o / No relógio novo / Ali do largo / É velha a esperança / De chegares». A viagem, o movimento e o tráfego tanto acontecem na cidade (Lisboa) e no seu rio (Tejo) como no Oriente: «No delta do Rio das Pérolas /Ao cair da tarde / Na minha última viagem / Estavas ao lado da água / Olhando a margem». No intervalo da viagem fica o poema, o poeta e a sua voz, entre o real e o imaginado: «Onde tudo conta / E nada conta / Estou eu / Envolto na tempestade.» Porque escrever é sempre navegar na parte real da vida. (Edição: Escola António Arroio - Curso de Arte e Tecnologias de Comunicação Gráfica, Apresentação: Cristina Peres, Risoleta Pinto Pedro e Maria Azenha) --

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por José do Carmo Francisco às 21:26

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