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Transporte Sentimental



Segunda-feira, 13.07.15

«e.i.a. evidências, inscrições e aforismos» de cristino cortes

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Este 11º título poético de Cristino Cortes (n.1953) é um livro diferente dos anteriores tal como José Fernando Tavares assinala no prefácio: «Não obstante o lado divertido desta poesia, não deixa o leitor de se encontrar perante um trabalho sério porque maduramente reflectido». Apesar de o título referir três ordens (Evidências, Inscrições, Aforismos) este livro organiza-se de facto em quatro secções: Inscrições, Dísticos, Tercetos e Quartetos. No primeiro grupo o autor define-se como alguém que incorpora os outros no seu discurso («Eu sou o outro de cada um de vós»); o mesmo é dizer «Em meu poema há sempre um tu». Entre o «eu» e o «tu» fica o fascínio da palavra («Uma só palavra anula o vazio») mas também do silêncio: «Se quiseres ouvir o som da vida não faças barulho». No segundo grupo o poeta adverte («Se filosofares na rua / Poderás ser atropelado») mas também explica «Para ouvires o mundo / Tens de te calar». Nesta dupla inscrição de um lado fica o prazer («As melhores melodias / São as risadas dos meus filhos») e do outro os limites: «Jamais saberás qual a medida certa / Se antes não provares o excesso». No terceiro grupo os poemas organizam um mapa de sabedoria. Desde a meteorologia («Se fosse eu a mandar / Raramente chovia / - E nunca de dia!») e a vida na rua («Rico, rico mesmo / É o que sente quente o coração / - Mesmo que durma no chão») até à crítica literária: «Agradece aos que te criticam / Mais eles te ajudam / Que os tão só te louvam». No quarto grupo as quadras estabelecem o equilíbrio entre a Natureza e a Cultura. Primeiro a Vida («Há pois um tempo para tudo / Mas cada um é o que faz») depois a Poesia: «Entre os poetas / Um novo poeta tem sempre lugar / - E para se instalar / Não precisa ninguém se afastar». (Edições Sempre-em-Pé, Prefácio: José Fernando Tavares, Capa: Ingrid Klinkby) --

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por José do Carmo Francisco às 08:21

Domingo, 12.07.15

dissertação para «mother and child» de gabriela carrascalão

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Há, no tempo magoado deste olhar de mãe, o segredo de uma alegria que nasce de novo todas as manhãs. Poderia chamar-lhe júbilo, festa ou força interior mas chamo-lhe alegria. Alegria, sem qualquer dúvida. Há uma luz que a convoca, há um grito que a sacode, há uma música que a instala no olhar de quem nela confia. Os três mundos que os rodeiam (animal, vegetal e mineral) são um perigo nos caminhos quotidianos de quem procura uma vida nova. Quem diz caminhos diz veredas ou atalhos ou emboscadas. A única resposta à morte só pode ser a vida, a vida que a mãe transmitiu à criança numa aposta de risco. Sem cuidados nem garantias, sem apoios nem segurança, esta vida é uma aposta cheia de perigos. Mas a esperança empurra todas as dúvidas e a tela mostra ao Mundo uma gramática teimosa de amor, ternura e dádiva. Tudo nas dimensões e cores deste quadro de Gabriela Carrascalão é elementar e justo, preciso e luminoso, redondo e apaziguado. As linhas do olhar da mãe para o seu filho não são uma rede de segurança para as dúvidas do quotidiano do menino. Ou da menina. Quem saberá pormenores além do sugerido? Nem talvez haja interesse em os poder desvendar. O importante é o abraço que permanece, o perímetro de protecção da mãe, a confiança contra a hostilidade do meio que os rodeia. O menino (a menina?) confia na força do olhar da mãe porque ele o inspira e engloba. Qualquer que seja o seu nome. O futuro virá e a lucidez há-de vencer as dúvidas de todos os dias. Porque a alegria é uma vassoura a limpar os pesadelos de cada manhã, quando a luz do Sol rompe a escuridão da noite. --

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por José do Carmo Francisco às 08:35

Sábado, 11.07.15

«antologia atrevida» ler é bom, escrever é melhor

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Este livro recolhe e divulga textos (poesia e ficção) de autores entre os 8 e os 14 anos vindos de todo o mundo lusófono e que participaram no I Concurso Internacional de Escritores Infanto-Juvenis «La Atrevida». O júri integrou os seguintes membros: Delmar Maia Gonçalves, Ana Horta, Maria do Carmo Gregório, Luís Maria Marina Bravo, Tiago Gomes e António Madrid Iglésias. Segundo os editores afirmam na contracapa «Todas as crianças são poetas. Alguns sabemos disso; outros negam reconhecê-lo.» Como convite à leitura fica o registo do terceiro prémio do Concurso para André Sampaio Pereira de 10 anos (Almeirim) com o texto «A volta ao Mundo» que começa deste modo: «Era uma vez uma menina que se chamava Maria Isabel. Maria Isabel tinha um sonho e esse sonho era fazer uma volta ao mundo mas tinha apenas 7 anos.» E termina com o sonho concretizado depois de uma viagem de barco a Espanha, França e Itália: «Quando Maria Isabel voltou a Portugal, sentia-se a pessoa mais feliz do mundo». Outro texto de um autor ribatejano (no caso uma autora) é o da página 77 -«O Mar» de Beatriz Silva com 11 anos de idade (Cartaxo). Trata-se de um poema que começa deste modo: «O mar é maroto / o mar é inteligente / apresenta duas faces / para toda a gente!». E continua «Por cima é cristalino / reluzente e brilhante / Por baixo é escuro / misterioso e arrugante». Para terminar de modo triunfante: «O mar é assim: / mesmo com duas faces / não tem segredos para mim!!!» Fiquemos por aqui na divulgação. Só o uso de «arrugante» em vez de arrogante ou seja «cheio de rugas» em vez de «cheio de prosápia» já dá pano para mangas na leitura. O livro é, todo ele, um lugar fascinante. Que vale a pena descobrir e revelar. (Editora – Libreria Luso-Hispánica La Atrevida, Grafismo – Ana Rita Domingos) --

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por José do Carmo Francisco às 08:17

Sexta-feira, 10.07.15

«gare oriente» de álvaro luís

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A escrita poética de Álvaro Luís inscreve-se num duplo registo – geografia e cultura. Surgem no livro citações de Fernando Pessoa e de Miguel Torga. Não por acaso um dos poemas deste livro afirma: «Não é poesia / É a minha vida». Este intervalo, esta oscilação, este separador, acaba por integrar na matéria do poema não apenas a vida real mas também a memória do vivido. Como no caso do poema «Casablanca»: «Que são 500 concubinas no meio do Deserto / Comparadas com 12.000 cavalos / E tu Rick deixaste fugir a Ingrid / Porquê». Ou o encontro impossível na prática mas possível na poesia entre Calamity Jane e Buffalo Bill: «Montada no teu cavalo/Casaco pele de veado/Com franjas/Olhar de atiradora/Surgiste/E eu Buffalo Bill/Reformado/Camisa azul aos quadrados /Fiquei ali parado». A Poesia é feita de palavras como em «Nós» («Nós para unir / Nós de pesca / Nós de correr / Nós de encurtar / Nós os dois») mas também de jogos de palavras como no poema «Viagem a Marte»: «Ali estás pronta a partir / Ir para Marte contigo / Resolveria tudo momentaneamente /Ao longe as bombas vão caindo de mansinho / Será possível de vez / conquistar esta morte que me espera.» Livro também de viagens (a viagem como metáfora da vida) aqui se inscreve o lugar da infância («Senti saudades / E fui procurar-me /Ao bairro onde vivi»)ou do passado («Eu sei que a minha vida está perdida / Que o amor me abandonou há muito») mas também a Cabul («Esta manhã / O comboio para Cabul / vinha cheio») ou ainda ao tempo-memória do «25 de Abril: «Aqui posto de comando / Das Forças Armadas / Lisboa acordou sobressaltada». (Prefácio: Risoleta Pinto Pedro, Capa: Sociedade de Geografia Lisboa, Edição do Autor, Nota contracapa: José Alberto Varandas) --

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por José do Carmo Francisco às 21:17

Quinta-feira, 09.07.15

«às vezes é um insecto que faz disparar o alarme» de nuno costa santos

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Nono livro assinado por Nuno Costa Santos (n. 1974), um autor cujo primeiro título de poesia é «Os dias não estão para isso» (2006), este recente volume de 41 páginas invoca a escrita como um aviso meteorológico: «Às vezes é um sopro que revira o mundo / no ventre do tempo / como quem se prepara para uma nova vida.»Tudo começa num frase porque (já sabemos) a Poesia não é feita com ideias mas com palavras: «Eu tenho uma frase: / o choro das crianças não comove os terroristas. / Até pode não ser verdade. Mas é uma frase. / E uma frase é, muitas vezes, o começo de tudo.» Tal como lembra o Evangelho de S. João na Bíblia («No princípio existia o Verbo») a Poesia cruza num «desengonçado coração» a herança que todo o poeta recebe dos seus maiores («Biedma, Celan, dois Ruis, dois Fernandos, um Alexandre») como um testemunho na corrida de estafetas que toda a Poesia acaba por ser. A solidão pode ser um desafio e um encontro («Se me deres a tua solidão eu dou-te a minha companhia») mas nem toda a solidão passa no crivo do poema. Por isso, falando com os outros, o poeta adverte-se a si mesmo: «Não desenhes imagens bonitas à conta da solidão. / Deixa a solidão consigo própria, como é justo deixar-se. / A solidão não é poética. É apenas solidão». E, tal como «às vezes é um insecto que faz disparar o alarme», um livro não é pequeno só porque tem 41 páginas. Tamanho não quer dizer qualidade; basta ler o arranque do poema «Estação do Oriente» - «Não te afastes com insolência como fazia a / mais desejada rapariga do Pátio do liceu / Não tenhas medo. Em frente. / Apanha o metro para a estação do Oriente.» (Editora: Companhia das Ilhas, Direcção: Carlos Alberto Machado) --

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por José do Carmo Francisco às 14:55

Quarta-feira, 08.07.15

«o nome negro» de antónio carlos cortez

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Camilo Castelo Branco (1825-1890) escreveu um dia que «a poesia não tem presente; ou é esperança ou saudade» e este livro recente de António Carlos Cortez (n.1976) vem dar razão ao nosso clássico do século XIX. Há nele, nas suas páginas, uma visita ao passado, como se todos os poemas fossem «uma área ardida» onde o fogo queimou a vida antes do poema surgir: «O poema / desenho de fogo / É uma área ardida / Nome negro a exigir / um método de leitura / do perímetro textual / semelhante à vida». Noutro poema se repete o título do livro, anunciando um programa de vida: «Aos teus fantasmas / dá-lhes a carne e o osso / das palavras / (às palavras o osso / da carne dos fantasmas)» Luís Miguel Nava, Fiama Hasse Pais Brandão, António Nobre, Carlos de Oliveira, Fernando Pessoa, Luís de Camões, Ruy Belo, Paulo Henriques Britto, Emílio Lledó são algumas das vozes poéticas que, ora de modo explícito ora de modo implícito, aqui comparecem em palavras exactas ou em imagens sugeridas. Afinal toda a Literatura é uma homenagem à Literatura e os primeiros poetas não tinham livros; por isso cantavam. Esta é uma poesia que canta e que se canta mesmo quando pergunta ao leitor: «Diz-me leitor / Se a poesia pesa / nos teus ombros / quem te injectará / não o óbvio mas o excesso? / A que luz negra descerás / nos escombros que / da leitura feita / escondem o trilho da suspeita?» Poesia de cantar mas também de reflectir, intervalo entre canção e filosofia, fiquemos com o poema «Erros», um texto exemplar do modo como este poeta aborda a linha difícil que liga a vida à poesia: «É o mais visitado verso certamente / «errei todo o discurso de meus anos» / Na releitura dos erros e dos danos / na dúbia bifurcação deste presente / dei à fala a falta e o sentido / para compensar dos erros o discurso /que por ser vão discurso humano / foi falha ou foi falar difuso». (Editora: Relógio d´Água, Capa: Carlos César Vasconcelos, Nota: Pedro Mexia, Revisão: Michelle Nobre Dias) --

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por José do Carmo Francisco às 12:51

Terça-feira, 07.07.15

«lisboa, rio de janeiro, comércio e mosquitos» de patrícia moreno

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Neste livro com o subtítulo de «As consequências comerciais da epidemia de febre-amarela em Lisboa no século XIX», Patrícia Moreno (n.1959) revela uma página quase esquecida da nossa História recente. Autora de uma dissertação de mestrado intitulada «Pasteur em Portugal – ecos da sua obra no século XIX», Patrícia Moreno aborda em 206 páginas «o perigo da importação da febre-amarela e as medidas adoptadas pelas autoridades políticas e sanitárias portuguesas, com consequências danosas no desenvolvimento das relações comerciais entre Portugal e o Brasil». A primeira epidemia de febre-amarela («vómito negro») surgiu em Gibraltar (1649), seguindo-se Cádis (1700) e Lisboa (1723). Entretanto o poderoso exército de Napoleão com 30 mil homens em Santo Domingo foi dizimado em 1801 por uma epidemia igual. Seguiu-se Barcelona em 1821 com 20 mil mortos e uma cidade devastada. Portugal e o Brasil tinham no século XIX fortes relações comerciais: Portugal vendia vinho e azeite para comprar café e algodão. No Brasil as condições de vida eram péssimas nos «cortiços»: «dormem a esmo no chão numa promiscuidade torpe» escreve Ramalho Ortigão. No ano de 1893 havia perto de 4 mil pessoas no cortiço «Cabeça de Porto» e o seu desmantelamento deu origem ao nascimento das favelas nos morros do Rio de Janeiro. Em Portugal as condições eram parecidas: «imperfeita limpeza dos canos, imundície acumulada nas praias, viciosa construção da maior parte das habitações, deploráveis condições de alguns bairros da cidade, asquerosas disposições do matadouro, insuficiente abastecimento de águas, desprezo dos preceitos de higiene municipal e privada» são algumas das causas do desenvolvimento da epidemia. Por sua vez a Princesa Rattazzi refere no seu livro sobre Portugal: «As casas de Lisboa são habitadas principalmente de Verão, por um enxame de baratas que à noite saem pelas fendas do sobrado, do tecto, das paredes, por todos os lados, enegrecendo as casas». A autora inscreve no seu texto não apenas as referências históricas dos decretos e das providências tomadas pelos Governos contra a febre-amarela mas também citações literárias: além da já referida Princesa Rattazzi, Júlio Verne, Alexandre Dumas, Alexandre Herculano, Júlio Dinis, Camilo Castelo Branco, Ramalho Ortigão, Rafael Bordalo Pinheiro e Cesário Verde que num dos seus poemas refere a febre-amarela: «Pela manhã em vez dos trens dos baptizados / Rodavam sem cessar as seges dos enterros». (Edição: Chiado Editora, Capa: Sandra Figueiredo) --

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por José do Carmo Francisco às 17:48

Segunda-feira, 06.07.15

«livre do sesassossego» de josé correia tavares

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O ponto de partida deste livro de José Correia Tavares (n.1936) é o lugar do poema, um lugar determinado: «Aqui ou aonde chego / Eu vivo enfim, hora a hora / Livre do desassossego / Como nunca fui outrora». Ora se existe um «Livro do Desassossego» de Fernando Pessoa, este é, por oposição, um «Livre do desassossego» não porque não esteja nele inscrito um desassossego mas porque ele é de outra ordem e nada tem em comum com o poeta dos heterónimos. O seu princípio é uma memória que se liga ao presente: «Não me vesti de palhaço / Miúdo, no Carnaval / É isso agora que faço / Neste circo nacional» Ora o circo nacional é o País em quatro versos. Seja nos «lares» («Mas onde queres que eu ponha / Um pouco de dignidade / Quando aqui não há vergonha / Sequer na terceira idade?») seja na vida pública («Sobes todos os degraus / Neste país de ladrões / Começaste em vinte paus / Até chegar aos milhões») seja na memória das privações («Quando uma sardinha assada / Era conduto de três / Passavam sem dar por nada / Feudais na sua altivez») seja ainda na história marítima que também é trágica no plural («Este povo aventureiro / Que descobriu tantas ilhas / Vai de Lisboa ao Barreiro / Às vezes, só a Cacilhas») e no singular: «Num barco, de camuflado / Quando dormia o país / Fui com outros arrancado / À terra, pela raiz». Quem olha para o circo nacional é o Poeta no seu ofício: «Com os altares da sé / Cheios de pó e caliça / Sou um padre já sem fé / Mesmo assim dizendo missa». Ofício cercado de silêncio e sujeito às suas emboscadas: «Recenseaste cem mil / Poetas, não fui citado / À minha morte civil / Também tu tens ajudado.» Mas também proclamado todas as manhãs: «Escrevo as quadras que canto / Pelo amor, contra a mentira / Várias quando me levanto / Rimo como quem respira». Portugal nem é um país de poetas nem de brandos costumes: «Os ratos na sacristia / Todos os dias do ano / Não ligam à homilia / Quanto mais ao Vaticano». Mas fica sempre uma esperança nas últimas quadras do livro («Qual adeus, qual despedida?/ Abram lá essa janela! / Sofri muito a minha vida / E mesmo assim gosto dela») ligando o passado do futuro: «Tentei voltar ao passado / Dei de caras com um muro / No qual estava gravado / O caminho do futuro» (Editora: Húmus, Capa: António Pedro sobre o atlas Ortelius – século XVI, Prefácio: Mário de Carvalho, Apoio: Câmara Municipal de Castelo Branco) --

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por José do Carmo Francisco às 17:11

Domingo, 05.07.15

ruy belo - afinal era uma adega e não uma taberna em turquel

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O meu amigo Nuno Costa Santos costuma dizer que «a vida sem gralhas é burocracia» mas neste caso não foi uma gralha; houve da minha parte um lapso pois referi uma «taberna» em Turquel quando deveria ter referido uma «adega». Foi numa cróncia aqui publicada a propósito do filme sobre Ruy Belo na Fundação Gulbenkian. Tudo isto a propósito de, lá pelos idos de Setembro de 1978, o meu amigo Levi Condinho ter parado na adega do seu amigo Avelino de Sousa Lopes, músico e agricultor, sobrinho do grande pintor Sousa Lopes, autor de um famoso quadro sobre o Círio de Santa Susana a passar por Turquel. A Turquel ia eu com a minha avó de Santa Catarina aviar uma receita na Farmácia quando eu era pequeno e inda não havia farmácia na minha terra. Foi um lapso e eu assumo a responsabilidade até porque sei muito bem a diferença entre uma coisa e outra. As tabernas eram espaços públicos enquanto as adegas eram territórios privados, nada de confusões. As tabernas da minha terra tinham fotografias do Caldas Sport Clube quando subiu de divisão lá pelos idos de 1950 e tal, mais perto de 1960. Nas tabernas que tinham aparelho de rádio se ouviam as marchas militares antes dos jogos de futebol às três da tarde de Domingo. As adegas, pelo contrário, eram espaço sociais privados onde só entravam os amigos mais chegados. Era na adega que o meu avô José Almeida Penas recebia os amigos (um das Relvas - José Lourenço - outro do Valado de Frades - Inácio) e foi nessa mesma adega que a minha cédula pessoal foi mal cozinhada com um erro crasso que ainda hoje me penaliza – falta o nome Almeida a seguir a José do Carmo. Trocar a adega pela taberna foi um erro que me custou caro. Peço desculpa. Não foi uma gralha mas quase. --

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por José do Carmo Francisco às 16:25

Domingo, 05.07.15

«outros nomes outras guerras» de urbano bettencourt

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Urbano Bettencourt (n.1949) começou a publicar há 43 anos («Raiz de mágoa» - 1970) e tem repartido a sua escrita pela poesia, pelo ensaio e pela narrativa. Este seu recente «Outros nomes, outras guerras» é uma antologia de 45 páginas. O ponto de partida é um poema do primeiro livro (1970) «De Mafra, com mágoa»: «Por detrás da máscara eu lá estou / sem ódios, nem balas, nem guerras / despido / e com um ramo de cravos / em cada mão». O ponto de chegada é uma foto de 1970 em Setúbal com os olhos actuais: «Quando o técnico do estúdio / os reuniu na foto, lado a lado / já tinha havido uma guerra / algumas batalhas perdidas, outras / nem tanto; / as tropas tinham feito e desfeito cravos / tão cedo idos desta vida como a via / original para o socialismo». No intervalo entre a partida e a chegada, surge no poema «Domingos Rebelo emigrando-se» uma reflexão sobre a viagem: «Mas se não estava ausente o pintor / já por certo se lhe repartia o corpo / entre a ilha e a viagem – metáfora por ele inscrita / nos inversos corações sobre a viola que não tocará / esta mulher sentada e fixando-nos para lá do lenço / e do silêncio: só ela dirá da solidão / a que o pintor se rendia / quando ao fim dos trabalhos, do porto se apartava / e da tela». Mas também a cidade de Angra, assim referida num olhar que abrange o poeta J.H. Santos Barros: «Um homem regressa, muitas vidas depois, / em busca de uma palavra, de um ombro / em que repouse dos caminhos / mas estas portas de ombreiras desbotadas / são a face do silêncio / resguardam do olhar a flor de seda / sobre o livro aberto em Maio de oitenta e três». Mistura feliz de canção e reflexão, música e filosofia, alegria e tempo suspenso, esta poesia de Urbano Bettencourt é (como afirma Vamberto Freitas no prefácio) «não uma poesia de conceitos ou ideias mas sim uma ideia ou conceito de poesia». (Editora: Companhia das Ilhas, Foto: Sara Bettencourt, Prefácio: Vamberto Freitas, Direcção de colecção: Carlos Alberto Machado) --

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por José do Carmo Francisco às 12:17



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