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Transporte Sentimental



Domingo, 12.07.15

dissertação para «mother and child» de gabriela carrascalão

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Há, no tempo magoado deste olhar de mãe, o segredo de uma alegria que nasce de novo todas as manhãs. Poderia chamar-lhe júbilo, festa ou força interior mas chamo-lhe alegria. Alegria, sem qualquer dúvida. Há uma luz que a convoca, há um grito que a sacode, há uma música que a instala no olhar de quem nela confia. Os três mundos que os rodeiam (animal, vegetal e mineral) são um perigo nos caminhos quotidianos de quem procura uma vida nova. Quem diz caminhos diz veredas ou atalhos ou emboscadas. A única resposta à morte só pode ser a vida, a vida que a mãe transmitiu à criança numa aposta de risco. Sem cuidados nem garantias, sem apoios nem segurança, esta vida é uma aposta cheia de perigos. Mas a esperança empurra todas as dúvidas e a tela mostra ao Mundo uma gramática teimosa de amor, ternura e dádiva. Tudo nas dimensões e cores deste quadro de Gabriela Carrascalão é elementar e justo, preciso e luminoso, redondo e apaziguado. As linhas do olhar da mãe para o seu filho não são uma rede de segurança para as dúvidas do quotidiano do menino. Ou da menina. Quem saberá pormenores além do sugerido? Nem talvez haja interesse em os poder desvendar. O importante é o abraço que permanece, o perímetro de protecção da mãe, a confiança contra a hostilidade do meio que os rodeia. O menino (a menina?) confia na força do olhar da mãe porque ele o inspira e engloba. Qualquer que seja o seu nome. O futuro virá e a lucidez há-de vencer as dúvidas de todos os dias. Porque a alegria é uma vassoura a limpar os pesadelos de cada manhã, quando a luz do Sol rompe a escuridão da noite. --

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por José do Carmo Francisco às 08:35


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