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Transporte Sentimental



Quarta-feira, 01.07.15

«tráfego» de álvaro luís

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A vida é breve, a morte é inevitável e o amor é precário mas no tráfego do Mundo, na viagem da vida, no absurdo do quotidiano, o amor ainda é a resposta ao tempo hostil de todos os dias. Mesmo que o esquecimento seja uma ameaça ao amor como no poema «Tráfego»: «Afinal tudo ficou acordado/ Destrocaremos as prendas e os retratos / Não vacilaremos / Os beijos e os abraços / Não são considerados / Passaste depressa / Na fluidez do tráfego». Vencedor do Prémio de Poesia 2002 da Escola António Arroio, este livro de Álvaro Luís integra 24 poemas e tem como ponto de partida um lugar - «Lisboa»: «Contemplo-te / Deitada na margem / Do teu rio / Colinas ruas e vielas / As curvas / Teus jardins floridos / O perfume / Invadindo-me o peito / Quando me debruço / Sobre ti / Te beijo / E amo». Numa dupla inscrição, o poema pode ser lido tendo por destinatária a cidade mas também a mulher. A mesma dupla inscrição surge no poema «O lado do pensar» pois nele o homem (o poeta) para quem viajar é um ofício («No comboio/a trabalhar») perde o cacilheiro («Vi-te partir») a ligar dois lados do mesmo rio: «Aqui fico na tarde calma / Junto ao cais». Em frente fica o Cristo Rei («um rei completamente restaurado / que mantém os braços abertos») e do lado de cá do rio a angústia portátil do poeta: «Mergulho as mãos /Nos bolsos da minha alma». No ritmo e na parte real da vida surge a força do relógio («Batem as horas do destino») que pode ser um aparelho de marca («Tissot») como no poema homónimo: «O tempo passa / Confirmo-o / No relógio novo / Ali do largo / É velha a esperança / De chegares». A viagem, o movimento e o tráfego tanto acontecem na cidade (Lisboa) e no seu rio (Tejo) como no Oriente: «No delta do Rio das Pérolas /Ao cair da tarde / Na minha última viagem / Estavas ao lado da água / Olhando a margem». No intervalo da viagem fica o poema, o poeta e a sua voz, entre o real e o imaginado: «Onde tudo conta / E nada conta / Estou eu / Envolto na tempestade.» Porque escrever é sempre navegar na parte real da vida. (Edição: Escola António Arroio - Curso de Arte e Tecnologias de Comunicação Gráfica, Apresentação: Cristina Peres, Risoleta Pinto Pedro e Maria Azenha) --

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por José do Carmo Francisco às 21:26


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