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Transporte Sentimental



Quarta-feira, 20.05.15

«para as raparigas de coimbra» de antónio nobre

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Umas coisas puxam as outras. Lembrei-me de uma frase de Raul Brandão (1867-1930) sobre António Nobre (1867-1900) e como gosto de colocar as datas a seguir aos nomes, «defeito» qie aprendi com Jacinto Baptista em 1978 no «Diário Popular». Ora eu vim a descobrir algo surpreendido (enfim…) que no livro «Quem é quem na Literatura Portuguesa» de Álvaro Manuel Machado (Publicações Dom Quixote) o nome de António Nobre não aparece na página 199 ao lado de Orlando Neves, Isabel da Nóbrega e Natália Nunes. Afinal está na página 77 e só o descobri por acaso uma vez que este dicionário tem os nomes em duas ordens: até 1900 e depois de 1900. Não me parece isto bem até pelo título pois a «literatura portuguesa» tal como a entendo é a que vem dos Trovadores até aos nossos dias. Um autor como António Nobre (na minha opinião) não é para antes de 1900, é para todos os anos. Aqui fica para os leitores do Blog e de António Nobre uma amostra do livro «Só»; trata-se apenas do excerto das quadras 1,2,3, 14, 15 e 16 do poema «Para as raparigas de Coimbra»: «Ó choupo magro e velhinho / Corcundinha, todo aos nós: / És tal qual meu avozinho / Falta-te apenas a voz / Minha capa vos acoite / Que é para vos agasalhar / Se por fora é cor da noite / Por dentro é cor do luar…/ Ó sinos de Santa Clara / Por quem dobrais, quem morreu? / Ah, foi-se a mais linda cara / Que houve debaixo do céu! / Nossa Senhora faz meia / Com linha feita de luz / O novelo é a lua cheia / As meias são p´ra Jesus / Meu violão é um cortiço / Tem por abelhas os sons / Que fabricam, valha-me isso / Fadinhos de mel, tão bons / Ó fogueiras, ó cantigas! / Saudades! Recordações! / Bailai, bailai raparigas! / Batei, batei, corações» Do mal fica sempre alguma coisa, aprendi com Jacinto Baptista. Aqui foi um mal-entendido. --

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por José do Carmo Francisco às 20:45

Quarta-feira, 20.05.15

fernando pessoa e raul leal

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O texto de Fernando Pessoa abre em advertência: «Se fosse preciso usar de uma só palavra para com ela definir o estado presente da mentalidade portuguesa, a palavra seria provincianismo». E explica: «O amor às grandes cidades, às novas modas, às últimas novidades, é o característico distintivo do provinciano». De seguida define as três camadas mentais; povo, classe média e elite: «O povo, saiba ou não saiba ler, é incapaz de criticar o que lê ou lhe dizem. O que caracteriza a segunda camada é a capacidade de reflectir, porém sem ideias próprias; de criticar, porém com ideias de outrem. O que caracteriza a terceira camada, o escol, é a capacidade de criticar com ideias próprias.» E conclui: «A tragédia mental de Portugal presente é que o nosso escol é estruturalmente provinciano». Sobre escritores e políticos, Fernando Pessoa começa por advertir («Não sei de poeta português de hoje que seja de confiança para além do soneto»), de seguida explica-os («Ignoram que um poema não é mais do que uma carne de emoção cobrindo um esqueleto de raciocínio») e termina afirmando: «O nosso ecol político não tem ideias excepto sobre política. O nosso escol literário é ainda pior: nem sobre literatura tem ideias». Raul Leal escrevia quase sempre em francês e começa por avisar: «Em cada coisa e em cada elemento de Ser encontramos o Infinito e nada encontramos: tudo são trevas e luz em tudo». Mas faz uma longa pergunta: «Não é o Universo uma viva reunião caótica e ao mesmo tempo sistemática de uma infinidade de aspectos convulsivos em Vertigem? Não há nele força, espasmos, delírios, prazeres, dores, luxúria, ânsia, poder, luz, trevas, humilhações, orgulho, vida e morte? E tudo isso, todos esses fantasmas da Vida, não surgem em grandeza colossal através do Mundo inteiro? E não surgem ainda labirinticamente, espasmodicamente, emaranhados uns através dos outros, formando um mundo autêntico de Vertigem Pura? Porque não vedes assim em tudo uma loucura universal?» (Editora: Padrões Culturais, Introdução: Alberto Cardoso, Capa: Mário Andrade) --

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por José do Carmo Francisco às 12:15


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