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Transporte Sentimental



Domingo, 31.05.15

segunda crónica para gonçalo pereira rosa + um desenho de francis smith

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As memórias não são puras; reflectem uma apropriação a partir de recordações e lembranças dispersas. Tenho uma memória exacta mas também difusa de ler o «Diário Popular» entre 1961 e 1966 no Bairro do Bom Retiro em Vila Franca de Xira. Aos Domingos à noite eu ia de propósito à papelaria que vendia os jornais de Lisboa ali ao lado da Câmara Municipal. Eles vinham da estação da CP com um oleado por cima para defender os jornais quentes da chuva ameaçadora. No «Diário Popular» as páginas do meio incluíam os resumos telefonados pelos enviados especiais a cada estádio de futebol (Luz, Restelo, Tapadinha, Alvalade) com a inevitável lista dos «artilheiros» do Nacional – eram assim chamados os marcadores de golos. Em 1966 o Campeão foi o Sporting e o Braga ganhou a Taça. As páginas dessa edição incluíam uma crónica de Santos Fernando («Os grilos não cantam ao Domingo») e rubricas como «O fotógrafo não estava lá». Havia uma história de um acidente que o desenho procurava reconstruir porque o fotógrafo não estava lá. Recordo os desenhos de Martin Maqueda sobre touradas. Este trabalho de Francis Smith (1881-1961) lembra-me o meu tempo de leitor do «Diário Popular» em Vila Franca de Xira. Há um caso espantoso passado com o Mário Ventura, meu saudoso amigo. Um empregado da PIDE telefonou para o «Diário Popular» a avisar que o Mário Ventura ia ser detido por causa de uns papéis marxistas e um abaixo-assinado. Um administrador do «Diário Popular» contactou um homólogo do «Diário da Manhã» e logo um contínuo levou um saco com a papelada incriminatória. No «Diário da Manhã» é que a PIDE nunca ia procurar aquele saco – terá dito o administrador do jornal «da situação». Havia solidariedade porque todos eram jornalistas, tanto os de esquerda como os de direita. --

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por José do Carmo Francisco às 09:00

Sábado, 30.05.15

jorge ferreira de vasconcelos - um olhar 500 anos depois

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A vida discreta e a obra reduzida de Jorge Ferreira de Vasconcelos - foi este o mote do Congresso Internacional que se realizou na Fundação Calouste Gulbenkian nos passados dias 28 e 29 de Maio. A vida presume-se que terá durado de 1515 a 1585, a obra integra uma novela sobre a Távola Redonda e três comédias: «Eufrósina», «Ulissipo» e « Aulegrafia». Diogo de Teive num epigrama gaba-lhe a modéstia de deixar anónimas as primeiras edições das suas comédias. Sabe-se um pouco mais da sua vida quando em 1619 a nova edição da comédia «Aulegrafia» refere na sua dedicatória ao Marquês de Alenquer: «O autor dele que foi Jorge Ferreira de Vasconcelos, meu sogro.» O texto é assinado por António de Noronha que teria casado com Briolanja, filha do autor. Barbosa Machado, na sua «Biblioteca Lusitana», atribui-lhe um filho (Paulo) que teria morrido em Alcácer Quibir. E este autor terá tido problemas com a Inquisição que fez desaparecer os originais das suas comédias. Uma vida tão intensa quanto misteriosa, foi a vida de Jorge Ferreira de Vasconcelos mas afinal, segundo Silvina Pereira ele é «um dos maiores dramaturgos portugueses». Para a amostra fiquemos com algumas palavras da comédia «Ulissipo», uma história antiga e moderna dos lisboetas que não diferem muito hoje em dia dos do século XVI. Logo no primeiro acto quando Filotecnia (a Matrona) afirma «A verdade amarga» logo responde (o Cidadão) Ulissipo: «E a mentira é doce. Mais vos aviso, como virdes escrava ou criada vossa cochichar com vossa filha de amizade, crede que aí jaz negócio; vizinha muito familiar ou mulher conhecente vossa, que entra e sai muitas vezes do necessário e sempre tem que rir e falar com elas de segredo, tem muito certo o perigo. Evitai, portanto, tais conversações» --

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por José do Carmo Francisco às 10:24

Sexta-feira, 29.05.15

crónica para gonçalo pereira rosa

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Crónica para Gonçalo Pereira Rosa ou «o Mundo é como a morte de São Bernardo» O dia foi intenso e rico mas tudo se resume ao quadro do Mosteiro de Alcobaça: uns a rir, outros a chorar. Recordo Raul Brandão e um grito num pátio de Lisboa: «Se quer ser escritor, escreva sobre os pobres!». Em «Os pescadores» se percebe como ele seguiu à risca a frase irada, certeira e solene do homem do pátio. De manhã fui ao Estoril ouvir o meu amigo Mário Jorge que teve a simpatia de chamar o Rui Jordão para a nossa mesa. Da parte da tarde falei com o Gonçalo, recente autor de «Parem as máquinas!» (Editora Parsifal) e a conversa andou à volta do «Diário Popular», onde me estreei no ano de 1978. Eu vi o Gonçalo dar os primeiros passos neste misterioso ofício de sonhos e de pesadelos no «Sporting». Fiz com ele uma entrevista para «O MIRANTE» e hoje tenho o orgulho de o saber director de uma revista respeitada e da qual fui assinante – a «National Goegraphic Magazine». Passei o fim da tarde com a parte da minha família que ficou em Portugal porque não emigrou: vi o meu filho aflito com as alergias, brinquei com o meu neto, ouvi a minha nora referir um programa de rádio com intervenções do antropólogo Aurélio Lopes, meu amigo. Recebo um texto do meu antigo chefe de redacção no «Sporting» Hub Teixeira e apanho num «sms» o endereço mail de Isabel Trigo de Mira e estou feliz mas recordo as minhas filhas longe de Lisboa e fico triste. Quando me dirijo à janela com toda a tristeza no olhar ouço a alegria dos ensaios da marcha de Benfica, algures entre o Fófó e o Mercado. Na confusão do Mundo, entre lágrimas e risos, a morte de São Bernardo nas paredes do Mosteiro de Alcobaça mostra o óbvio: uns a rir, outros a chorar. Nota final – esta foto tem tudo a ver com a fragilidade da vida e faz parte dum velho livro sobre Portsmouth comprado no alfarrabista das Escadinhas do Duque nº 19A. --

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por José do Carmo Francisco às 09:49

Quinta-feira, 28.05.15

«caruma» de manuel cintra

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Quando em 1986 publiquei na revista «Seara Nova» o estudo intitulado «Poesia Portuguesa anos 80 - algumas direcções», os poetas referidos foram José Agostinho Baptista, Joaquim Pessoa, Paulo da Costa Domingos, Manuel Cintra, J.O. Travanca-Rego, João Candeias e Emanuel Jorge Botelho. Passados 27 anos, o diagnóstico de então mantém-se e a suas obras poéticas continuam na primeira linha. Não surpreende, portanto, a recente segunda edição de «Caruma» de Manuel Cintra com um desenho de Luís Manuel Gaspar. No seu primeiro livro em 1982 («Do lado de dentro») já o autor avisava: «Eu era um homem e escrevia / não que aspirasse pela fama / mas com um certo desdém pelo silêncio no ouvido alheio». Não é de estranhar esta advertência num poeta que é filho de um homem de letras, irmão de um actor/encenador e é (ele próprio) um homem de teatro. A sua lucidez percebe a ínfima parte dos leitores que, num país de analfabetos, pode dar alguma atenção à poesia. No poema que dá o título ao pequeno livro de 20 páginas («Caruma») o poeta dirige-se a si mesmo e adverte: «Não não, não é obra perdida, choram-se litros e choram-se mares e pensa-se em pontos finais e vasculha-se ruas desertas cheias de gente deserta e talvez, apenas talvez por entre as covas os côncavos vazios de banalidades que saturam, estejas tu, sejas lá quem fores, tu com as tuas chuvas de sol que iluminam as almas, com as tuas raízes novas que prendem amor à terra, com a tua seiva inesperada que manda crises à merda e abre braços à fome e à vontade de comer…» Entre o precário da vida («chorei oceanos») e o inevitável do fim («a morte está no caminho») só o amor pode salvar porque resgata o quotidiano. Como diz o poeta em «Água»: «mas um dia vi-te num curto silêncio / e compreendi a partilha / e decidi renascer». (Impressão: Artes Gráficas de Lisboa, Desenho: Luís Manuel Gaspar) --

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por José do Carmo Francisco às 15:37

Quarta-feira, 27.05.15

«viver e resistir no tempo de salazar» de maria alice samara e raquel pereira henriques

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Com o subtítulo de «Histórias de vida contadas na 1ª pessoa», este trabalho com 151 páginas foi feito por duas autoras de gerações diferentes (uma nasceu em 1974 e outar em 1962) e surgiu a partir de entrevistas a seis homens e dez mulheres. Foram depois consultadas cinco pessoas, todas com diferentes percursos pessoais. As memórias começam pela casa: «A casa onde vivíamos era uma casa velha, igual a tantas outras em pedra que vedava mal o frio e a chuva.» Continuam pelas roupas: «No início não havia cobertores, apenas mantas de fitas, feitas de tiras de roupa mais velha, tecidas depois em teares. Os lençóis eram feitos de umas sacas de açúcar, muito branquinhas, arranjadas por um tio meu». Depois a loiça da casa: «Quando havia um almoço ou um jantar pedíamos a loiça de casa uns aos outros». Sem esquecer os talheres: «Havia talheres de lata, alguns com cabo de madeira. Mais tarde apareceram em alumínio.» A falta de água canalizada era outro problema: «Ia-se buscar água à barroca, à ribeira. Agora é uma facilidade.»Nesse sentido, a casa de banho era um luxo: «Nós tínhamos a única casa de banho que havia naquela aldeia (Sipote). De tal modo era assim que passámos a acolher na nossa casa as professoras primárias.» Mas era tudo complicado: «Tínhamos rádio mas não tínhamos frigorífico. Só no 25 de Abril é que tivemos esquentador.» As normas da moral vigente surgiam de repente na voz de uma professora de Moral: «as meninas não devem andar de vermelho e preto que isso atiça os homens.» Claro que as alunas não sabiam sequer o que era «atiçar». Descobriam tudo, mais tarde, de modo doloroso: «O meu pai chegou a andar com três amantes ao mesmo tempo e uma delas tinha andado comigo na escola.» Ou noutro depoimento: «Mais tarde percebi que todos tinham amantes, era raro o casal da geração da minha mãe que se dava bem, contam-se pelos dedos.» Um outro aspecto tem a ver com a economia: «A resina na altura (anos 60) era a grande fonte de receita das famílias daquela zona da Beira. Trocávamos o dinheiro da resina por roupa. Entregávamos a resina num armazém que a comprava e levantávamos por conta da resina o açúcar, o arroz, as botas, as camisas e as calças.» No notar um pequeno lapso na página 43: o uso da palavra «estremenha» (de Estremadura) em vez de «estamenha» (tecido grosseiro) nada que altere o alto interesse do livro feito de depoimentos na primeira pessoa. (Editora: Verso da Kapa, Paginação: José Teixeira, Paginação: Joana Albuquerque) --

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por José do Carmo Francisco às 10:24

Terça-feira, 26.05.15

«terra - sortilégios» de zetho cunha gonçalves

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«Natureza e Cultura» - este poderia ser o subtítulo do livro de poemas de Zetho Cunha Gonçalves (n.1960) que surge dedicado às quedas de água do rio Cutato e a José Luandino Vieira. O ponto de partida do livro é a geografia pessoal do autor no Huambo (onde nasceu) e no Cutato (infância e adolescência). O mesmo é dizer a Terra: «Terra? As queimadas da infância, / as velhas árvores ardendo, / castiçais na noite.» No meio da Terra nasce o Sortilégio: «Loengueiro não se planta – nasce: / sortilégio da terra, / no meio do mato, / pelas terras todas / do Huambo até ao mar.» Entre a Terra e o Sortilégio surge a voz do poeta: «Para o poema me debruço - / ponto de interrogação, espaço / do espanto. Encantamento, desilusão. / Dedos para rasgar, recomeçar. / Ponto final ou vírgula, vogal ou consoante, / aliteração ou metáfora, verbo ou substantivo.» A ligação da Natureza à Cultura surge no final do poema «Mulemba»: «Pega de estaca – se plantada / e um ramo basta. / Dado à terra – o resto, / os antepassados o fazem, / e o tempo: a própria Terra. / Tem o nome científico / de Ficus sycomoros.» Ou também nos poemas para as matiras («parecem melancias»), as maçarocas («assadas sobre uma cama de brasas») e as cabaças: «suas folhas lembram pegadas de leão antigo». Ou então uma viola de lata: «Na lata / de óelo / Maná / se prega / já cortada / no formato / e na medida / uma tábua / de caixote de sabão». Pode ser lida como mensagem final do livro uma colagem de versos de Ezra Pound e António Maria Lisboa: «Criticar / eis a nossa função positiva, / o resto é escória / O que amas de verdade permanece, / o resto é escória / Os homens são fortes / desde que defendam o que amam / O que amas de verdade é tua herança verdadeira / Não se trata de saber viver, / mas de levar uma vida sábia / O que amas de verdade permanece, / o resto é escória» (Editora: NÓSSOMOS, Capa: motivos decorativos miconda) --

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por José do Carmo Francisco às 12:36

Segunda-feira, 25.05.15

«o sapo de arubinha« de mário filho

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Mário Filho (1908-1966), autor de «O negro no futebol brasileiro» e do romance «O rosto», foi cronista em «A manhã», «O Globo» e no «Jornal dos Sports», lançou a Copa Rio, criou o Torneio Rio-São Paulo, trouxe ao Brasil os remadores de Cambridge e de Oxford, criou os Jogos da Primavera e os Jogos Infantis com mil equipas e 16 mil jogadores. O estádio Maracanã tem o seu nome. Para Nelson Rodrigues, seu irmão, «Mário Filho foi o único grande homem que eu conheci. Grato à vida, nunca se arrependeu de ser humano, de ser nosso semelhante. Era um ser atravessado de luz como um santo de vitral». Não por acaso o livro tem o subtítulo de «Os anos de sonho do Futebol Brasileiro» porque há uma crónica desportiva no Brasil antes de Mário Filho e outra depois. Antes, um Fla-Flu era assim noticiado: «Será levado a efeito amanhã, no aprazível field da rua Paissandu, o esperado prélio». Mário Filho mudou tudo. Vejamos como. Escreveu sobre Didi: «Descobriu a folha-seca e, se não a usa sempre com o mesmo sucesso, sempre deixa acesa no coração de todos nós, a esperança de um gol de longe, indispensável para a vitória.» Ou sobre os jogadores diferentes: «Gosto de palmeiras nos lugares próprios. Agora de jogador de futebol metido a palmeira, não gosto. Tenho uma prevenção contra esse jogador ereto, duro, apalmeirado, que não se ajoelha, que não se curva, que não se abaixa.» Ou sobre a selecção nacional: «O escrete não engana: mostra o jogador tal como ele é. Pode-se temê-lo. Mas não há consagração definitiva fora do escrete.» Ou ainda sobre o passado: «Cada um de nós tem, à flor da memória, uma coleção de gols inesquecíveis. Um deles é património nacional. Mesmo os que não o viram, que nasceram depois, lembram-se dele como se tivessem vivido o grande momento do Campeonato Sul-Americano de 19.» A crónica título ao volume nasce duma maldição. Uma noite os jogadores do Andaraí esperaram com gentileza pelos atletas do Vasco, parados no Banco do Hospital devido a um acidente de automóvel na viagem para o campo. O resultado foi Vasco, 12- Andaraí, 0. O torcedor chamado Arubinha rogou uma praga: «Se há um Deus no céu, o Vasco tem que passar doze anos sem ser campeão.» Procuraram o sapo que nunca apareceu. Conclusão: O Vasco só voltou a ser campeão em 45, onze anos depois. (Editora: Companhia das Letras, Selecção e notas: Ruy Castro, Prefácio: Nelson Rodrigues, Capa: Vitor Burton) --

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por José do Carmo Francisco às 16:10

Domingo, 24.05.15

«ericeira» de josé constantino costa

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O trabalho poderia ter como título «Ericeira – paisagem e povoamento» pois é esse o objectivo deste livro de 178 páginas: fazer a memória justificativa da Ericeira a partir de fotografias antigas (a Revista Ocidental de 1887, por exemplo) e os textos como o de Ramalho Ortigão: «Se exceptuarmos Olhão, no Algarve, é esta a terra mais asseada de Portugal. As ruas estão escrupulosamente varridas como as de um jardim.» Noutro plano esta fotobiografia junta imagens de quadros de Paula Rego (Partida e A Dança) com textos de José Saramago, José Cardoso Pires e João de Melo sem esquecer a história vivida por Ruben A. na Pensão Morais quando, cansado de ouvir lamentar a falta de lagosta, terá sugerido: «Homem, mude o letreiro. Em vez de «Pensão Morais – há sempre lagosta», ponha «Pensão Lagosta – há sempre Morais.» Esta fotobiografia proporciona uma viagem no tempo entre o Foral de 1229 e os dias de hoje, entre a frase de José Hermano Saraiva («A Ericeira não tem banhistas, tem devotos») e os notáveis esquiços de Rui Pinheiro. Página atrás de página, o autor consegue sempre surpreender pois apresenta o inesperado. Por exemplo o rótulo das garrafas de água de Santa Marta em fins dos anos 20. E também uma tourada «em benefício do novo Hospital da Ericeira num tempo tão diferente do nosso tempo como bem recorda António Batalha Reis: «A nossa vida na Ericeira assentava em três pontos essenciais: de manhã a praia, à tarde Santa Marta, à noite o Jogo da Bola.» Para quem já gosta da Ericeira este é um livro a não perder. Quem não conhece a Ericeira vai mesmo passar a gostar (e muito!) depois de ler as palavras e de viajar pelas imagens desta fotobiografia que chega em boa hora. A lembrar as férias grandes que já não há. (Editora: Mar de Letras, Esquiços: Rui Pinheiro, Tradução para inglês: Maria João Batalha Reis, Tratamento de imagem: Luís Ribeiro, Margarida Duarte, Luís Pavão, Design: Susana Gama) --

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por José do Carmo Francisco às 19:49

Sábado, 23.05.15

«rio sem margem II» de zetho cunha gonçalves

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«Poesia de tradição oral» é o subtítulo a explicar a origem dos poemas de Zetho Cunha Gonçalves (n.1960) que aqui realiza um trabalho aturado de oficina sobre as canções, os poemas, os provérbios e as adivinhas de 18 Povos de Angola. São eles que formam o mosaico cultural, linguístico e étnico do país. Depois de uma advertência («A poesia tem a idade da voz humana») uma conclusão: «se é verdade ter sido África o berço da Humanidade, então é em África que está, também, o berço da Poesia.» Se, na pressa da notícia, tivesse que escolher um poema ficaria com a página 62: «Se me aproximo dos ratos, / dizem que tenho asas; / se me dirijo aos pássaros, / fogem de mim / dizendo que tenho dentes – o morcego.» Mas um livro de 115 páginas e com 2 capítulos não se pode definir por um poema. Olhemos a terra e o mundo: «Eis aqui um poço: / areia de um lado, / do outro - argila. / Assim a Terra: / morte e dor de um lado / do outro - festejos, celebrações.» Vejamos o louvor da paciência: «O apressado / assa o seu naco de carne / no fumo.» Passemos pela sabedoria do poema «O ventre materno»: «O ventre materno / é como um cruzeiro / de caminhos / - nunca mais / nos encontrámos.» Terminemos a citação com a linha «poesia/sabedoria/beleza» do poema «O sol e a chuva»: «Não roubes à chuva / a sua nuvem: / - lá, / onde se levanta / e nasce, / o Sol / não se extingue. / Não roubes à chuva / a sua nuvem / - porque as nuvens / são os sapatos do céu.» (Editora: NÓSSOMOS, Capa: tambor lunda (espirais majinga), Email: etutanu@gmail.com) --

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por José do Carmo Francisco às 18:18

Sexta-feira, 22.05.15

de vítor damas a fernando venâncio - a vida é um mistério, não um negócio

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Pode parecer insólito mas não é. Descobri hoje no Facebook da Dra. Rita Damas de Oliveira que aparece um vídeo do escritor Fernando Venâncio, português de Mértola, meu amigo que vive e trabalha Amsterdão. A ligação não é forçada e tem toda a lógica. Esta foto é um espanto e também a descobri por acaso ou talvez não. Penso que o acaso não existe: somos nós que andamos lá perto e as coisas, então, acontecem. Este retrato com toda a gente da equipa portuguesa de futebol na Minicopa (nome espanhol que os brasileiros deram à Taça da Independência) vem provar que o aborto ortográfico já vem de muito longe. Em concreto de 1972, ano da prova comemorativa. Pois o facto de haver um filme de Fernando Venâncio no Facebook da filha de Vítor Damas é o meu maior encontro nesta tarde de sol. Falei logo para a Holanda e dei a novidade ao Fernando Venâncio. De Vítor Damas recordo uma conversa longa no aeroporto de Ponta Delgada (Ilha de São Miguel) no dia 21 de Janeiro de 2001 depois do jogo entre o União Micaelense e o Sporting «B» que os «leões» de Lisboa venceram por 3-0. E no qual se estreou um pequeno jogador (Cáceres, salvo erro) que veio a motivar a saída de Manuel Fernandes do comando técnico da equipa «A» do Sporting alguns meses depois. É que o pequeno jogador fartou-se de reclamar que queria jogar na equipa «A» pois isso lhe tinha sido garantido pelo seu empresário. O Vítor Damas ouvia o desabafo e ria-se, eu continha o riso porque não podia rir mas há coisas… Ele há coisas. E o pobre rapaz até marcou um golo na estreia mas cada coisa no seu lugar. Marcar um golo ao Micaelense é uma coisa, marcar ao Porto ou ao Benfica é outra coisa. Ora o Sporting precisava era de marcadores de golos para a equipa «A» e o pequeno jogador era talhado para a equipa «B». Mas isso é outra conversa. --

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por José do Carmo Francisco às 18:14

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