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Transporte Sentimental



Terça-feira, 28.04.15

alberto ribeiro «marco do correio / de portinha ao centro»

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Levi Condinho é um infatigável colecionador de coisas antigas mas o seu ecletismo leva-o a juntar não apenas as fotos de «ases» do futebol e de equipas da sua infância mas também os ídolos das diversas artes. Neste caso do Cinema e da Rádio. O marco do correio é uma imagem para sempre de um certo tempo português. Os postais custavam cinco tostões e as cartas um escudo, tal como o jornal e o café. Como os preços eram mantidos de modo artificial até parecia que nunca aumentavam mas nada é eterno. Hoje uma carta de correio normal custa 45 cêntimos o que é, grosso modo, 90 escudos. A diferença é grande. Em 1966 quando comecei a trabalhar os Bancos comunicavam entre si através de carta. Retenho desse tempo duas coisas insólitas. Um Banco italiano escreveu «Lisboa Spagna» e um Banco francês escreveu «Libia» em vez de Lisboa; o primeiro numa carta e o segundo numa ordem de pagamento. No segundo caso o desgraçado do beneficiário pediu uma fotocópia ao ordenador que era das que havia naquele tempo (tipo fotografia) e, depois de conferidas as assinaturas, lá se fez o pagamento ao beneficiário por ordem do nosso chefe. E mandou-se um telex a «dar na cabeça» ao Banco de Paris que tinha metido «o pé na argola». A ignorância é muito grande e está espalhada pelo Mundo. Afinal de contas tanto o autor da carta do Banco italiano como o autor da carta do Banco francês não sabem (nem querem saber) onde fica Lisboa. Quanto à Rádio, esta foto de Alberto Ribeiro lembra-me os discos pedidos dos doentinhos portugueses. Havia mesmo uns programas só para eles. Os postais de cinco tostões indicavam o serviço, a sala e a cama além do disco preferido. A infância de muitos de nós cabe por inteiro numa telefonia antiga. Eu tive uma Schaub Lorenz que ainda lá está na casa da terra onde nasci. --

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por José do Carmo Francisco às 12:54

Terça-feira, 28.04.15

«photomaton» de joão viegas

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João Viegas (n.1945) recuperou do seu Blog um conjunto de textos que deixaram o efémero da Internet para se situarem no mais durável do papel impresso. Num tempo de comunicação veloz (Youtube, Website, Facebook, Farmville, Twitter) e mesmo sabendo que «um blog é uma espécie de vampiro», o ponto de partida é, ainda assim, um verso de Carlos Drummond de Andrade: «A Solidão gera inúmeros companheiros em nós mesmos». Tendo-se estreado em 1983 com «O galo de Barcelos ao poder» e prosseguido com «As noites longas do FM estéreo» de 1986, João Viegas publicou em 2004 «Gostastes?» na Editorial Bizâncio e é co-autor do livro «O canto do galo» também da Bizâncio em 2009. Este livro surge com uma cartografia pessoal. Nele o autor regista os filhos («Não é um familiar. Nem um vizinho. Nem um amigo. Nem uma paixão»), o pai («O meu pai morreu há anos»), a mãe («Deste-me a Vida, o maior presente de todos») e a mulher: «Há cerca de vinte anos conheci numa pequena ilha no meio do Atlântico a Mulher da minha vida». Mas sendo um livro pessoal não se fica pelo «eu» e avança decidido para o olhar mais plural sobre o povo, a sociedade e o país onde o autor vive. Uma memória viva da guerra em África («Quando eu tinha 15 anos começou a Guerra Colonial / e os irmãos mais velhos dos nossos colegas a serem chamados / para Angola que Salazar dizia “É nossa!”») prolongada nas palavras do pai do autor quando este regressa de dois anos em Moçambique e se reencontraram: «Então rapaz, correu tudo bem? Para outros correu tudo mal como o Silva que já se tinha despedido dos amigos e fazia a última patrulha em Moçambique: «Ficou espalhado em mil pedaços por terras africanas». O inventário do Portugal é irónico; seja na memória («Tínhamos um Império, dois se contarmos com o cinema») seja no jogo dos apelidos: «Ninguém perdoa ao Cavaco ser Silva, por isso ele vinga-se com o Professor Doutor mas mesmo assim continuam a olhá-lo como um “saloio”». O autor diz o que pensa sobre as leituras («Desde que me recordo como ser pensante todas as minhas lembranças surgem associadas a Livros») e sobre as mulheres: «O Presente para uma mulher de 40 anos é para ser vivido intensamente, antes que se transforme em Passado». Sem esquecer a sua noção de felicidade: começa com uma advertência («Todos os destinos são permitidos com excepção dos Centros Comerciais») e termina com um aviso: «Aproveitemos a Vida no que ela tem de melhor, / o Amor, a Amizade, o Prazer nas suas várias facetas. / Sem nunca esquecer que Vida há só uma. Esta.» (Editora: Mercado dos Sonhos, Capa: Sofia Silveira) --

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por José do Carmo Francisco às 11:24


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