Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Transporte Sentimental



Sexta-feira, 10.04.15

herberto helder e algumas notas pessoais sobre a figura

Image.jpg

Agora com a poeira a assentar aos poucos sobre os mais emotivos depoimentos e comentários a propósito da obra e do homem H.H., surge um primeiro inventário elaborado por João Pedro George. Aquilo é um manancial de «absolutos-de-algibeira» como dizia o Alexandre O´Neill. Uma das coias mais curiosas de H.H. era dizer a toda a gente que tinha deixado de escrever. Quando E.M. Melo e Castro me apresentou a H.H. na Pastelaria Mourisca na Fontes Pereira de Melo, o mesmo pedido foi repetido mas é óbvio que eu não lhe liguei nenhuma até porque na mesa estavam provas de um livro que viria a sair alguns meses mais tarde - «As magias» Isto foi nos anos 80 (talvez 1984) e mais tarde frequentei com Vergílio Alberto Vieira e António Cabrita o «Expresso» e a mesas a que alguns chamavam «Chernobil» e com razão porque a cabeça de H.H. era um reactor nuclear de ideias novas que nenhuma água fria conseguia arrefecer. Nas «Galegas» (Calçada do Duque – vulgo Escadinhas) já com Zetho Gonçalves e Luís Patraquim ao leme da tertúlia, ofereci-lhe o meu livro «Os guarda-redes morrem ao Domingo» (Padrões Culturais) e embora sempre soubesse da paixão de Albert Camus pelo futebol (foi guarda-redes na equipa universitária de Argel) Herberto Helder explicou-me que os sonhos do seu maior amigo do tempo do Liceu eram as viagens aéreas do Marítimo a Braga, Porto, Coimbra, Lisboa e Setúbal. Ao fim de dois dias de estadia no Funchal o poeta regressou a Lisboa porque não estava a fazer nada na Madeira. Ainda parece que o estou a ver na Fontes Pereira de Melo, na mesa da Pastelaria Mourisca com Melo e Castro e comigo a dizer «Eu deixei de escrever!» mas a caneta vermelha ao lado servia para rever as provas do próximo livro. Um homem só é grande nas suas grandes incongruências, lapsos e discrepâncias. --

Autoria e outros dados (tags, etc)

por José do Carmo Francisco às 15:44

Sexta-feira, 10.04.15

«nos bastidores dos telejornais» de adelino gomes

Image.jpg

Adelino Gomes (n.1944) foi jornalista entre 1966 e 2008. Viveu sempre no meio de «guerras»: Rádio Clube contra Emissora Nacional e Renascença, Renascença contra Rádio Clube, Rádio Comercial contra Renascença e Antena 1, TSF contra todos, Público contra Diário de Notícias. O livro propõe uma reflexão sobre o jornalismo em si, antes de, conforme o título, se debruçar sobre os bastidores dos três telejornais portugueses. Começa pela posição do jornalista entre ser funcionário de uma indústria que busca o lucro e ser funcionário da Humanidade transmitindo (segundo José Luís Garcia) «informações e formas de conhecimento consideradas relevantes para a própria constituição da comunidade política e do todo social». A verdade e a mentira convivem no jornalismo e na vida. Os governos de Camberra e de Jacarta procuraram silenciar o assassínio em Balibó pelo exército indonésio dos cinco repórteres australianos em 16-10-1975 mas os jornalistas do seu país nunca desistiram de procurar a verdade. Adelino Gomes estava lá e ouviu os tiros a dez quilómetros de distância. Outro caso: quando morreu Walter Cronkite foi referido o facto de o presidente Johnson ter dito ao seu secretário de imprensa esta frase «Se perdi Cronkite, perdi o País!» depois de o jornalista falar da «negociação» como solução para o conflito do Vietname. A verdade é que Johnson nem sequer ouviu a transmissão da CBS. Último caso: no dia do lançamento deste livro passei perto do Coliseu dos Recreios. Um prédio ostentava o emblema do Sport Lisboa e Benfica com a bola e a roda da bicicleta (de 1908) mas por baixo uma indicação errada (1904) tão errada que, o clube fornecedor da roda da bicicleta em 1908 na fusão dos dois, só foi fundado em 1906. O ponto de partida do articulado sobre os telejornais está enunciado: «Nos anos de 2007 e 2008 vivi durante cerca de dez horas diárias, em três períodos de uma semana, nas redacções de cada uma das três estações generalistas de televisão em Portugal. Acrescentei que desejava observar, mais do que interrogar, o processo de rotina que conduz à construção do jornal televisivo das 20 horas. O livro é um desafio a quem gosta de jornalismo ou se interessa pela História do seu país. Não por acaso o autor se pronuncia sobre a diferença entre notícia e história: «Uma boa notícia não dá necessariamente uma boa história em televisão. E uma boa história nem sempre é uma grade notícia. Uma história com valor noticioso não faz necessariamente boas audiências. Do mesmo modo que nem todas as histórias que fazem boas audiências têm valor noticioso». (Editora: Tinta-da-China) --

Autoria e outros dados (tags, etc)

por José do Carmo Francisco às 14:09


Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

Pesquisar no Blog  

calendário

Abril 2015

D S T Q Q S S
1234
567891011
12131415161718
19202122232425
2627282930