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Transporte Sentimental



Terça-feira, 07.04.15

portugal «o estranho país onde os bois vão lavrar o oceano»

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A frase hoje célebre pertence a Ferdinand Denis, amigo de Raul Brandão e surge na página 93 da edição de «Os pescadores» da Paisagem Editora Lda. Eis as palavras no seu registo tal e qual: «Que estranho país é este onde os bois vão lavrar o próprio oceano?» Nasci numa terra rodeada de terras (Santa Catarina) mas o mar da Nazaré chegava todas as manhãs à minha terra na voz das mulheres e nas suas canastras. Não é pois de estranhar o meu fascínio pelo livro de Raul Brandão. Mas não só este livro. Sobre os palheiros de Mira leia-se esta pequena maravilha: «Tudo aqui é pobre e humilde mas não grosseiro. Os homens trigueiros, secos e fortes e as mulheres bem lançadas. Mesmo as feias têm um ar de distinção. A família é sagrada. O contacto com a terra obriga o homem a olhar para o chão, o convívio com o mar obriga-o a levantar a cabeça. Quando saem do barco e o encalham, os pescadores não fazem mais nada – deitam-se na areia. O resto compete à mulher: é ela que lava as redes e o peixe, que o salga e carrega e que faz a lavoura da Barrinha». Raul Brandão não é apenas um notável escritor mas, porque antes foi jornalista, continua sempre atento aos pormenores quotidianos da vida. Aqui em Mira (o texto é de 1922) o Estado rouba os pescadores porque lhes cobra uma exorbitância de «fisco» mas não lhes dá em troca nem a maternidade nem a biblioteca nem a farmácia ou nem sequer a estrada. Os padres também se ausentam e a capela de madeira está fechada mas os pescadores são gente boa. Escreve Raul Brandão: «há cinquenta anos para cá, não consta de um roubo, de um crime ou de um delito. Pode-se dormir com a porta aberta. Eu nunca fechei a minha.» Fiquemos por aqui por hoje. --

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por José do Carmo Francisco às 16:49

Terça-feira, 07.04.15

«mas que fresca mondadeira» de teresa silva carvalho a manuel da fonseca

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Oiço a canção e registo o uso de «cabedar»- «Mas que fresca mondadeira / me havia de cabedar». Francisco Martins Ramos (n.1943) será o autor dos versos da canção divulgada por Teresa Silva Carvalho; não tenho a certeza. O «Tratado das alcunhas alentejanas» de Francisco Martins Ramos e Carlos Alberto da Silva não refere o poema como parte da biografia. No segundo verso surge uma palavra pouco habitual; ora cabedar é o mesmo que calhar e vem nos bons dicionários. «Caber por sorte» está no da Sociedade da Língua Portuguesa. A minha vida em Évora de Outubro de 1972 e Fevereiro de 1974 no Hospital Militar respectivo permitiu-me contactar de perto com nomes e alcunhas. Por exemplo o sargento-ajudante Patinhas tinha um nome cuja origem pode ter sido uma alcunha. O furriel Paitio será um caso parecido. Tal como o amanuense Salsinha que trabalhava na secretaria e todos os dias organizava na máquina de escrever a «Ordem de Serviço». Era o sistema do «stencil» como nos testes das Escolas onde estudei até ao Instituto Comercial de Lisboa. «Determino e mando publicar» era assim que começava todos os dias depois do inevitável «Hospital Militar em Évora tantos de tal». Um pormenor curioso que só mais tarde percebi está no facto de as pessoas nascidas e habitantes do centro de Évora e dentro das suas muralhas (eu vivi na Rua dos Mercadores) falavam dos habitantes dos bairros da periferia da cidade como «essa gente dos bairros». Era o espírito de aldeia dentro da cidade e tudo isso vai dar às alcunhas que são os emblemas das aldeias. É nesse sentido que as muralhas de Évora são os limites de uma aldeia. Diferente, bem diferente da inesquecível «Aldeia» de Manuel da Fonseca - «sete casas duas ruas / no meio da ruas um largo / no meio do largo / um poço de água fria…» --

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por José do Carmo Francisco às 11:10


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