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Transporte Sentimental



Sábado, 04.04.15

jacinto baptista - a gralha inoportuna num texto muito sentido

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«No melhor pano cai a nódoa» - diz a sabedoria popular e será este talvez o caso que para mim é muito desagradável. No meu texto recente sobre Jacinto Baptista recuperei uma frase completa do seu livro «Caminhos para uma Revolução» (Editora Bertrand) mas no fim uma gralha atrevida e inoportuna pousou para substituir um «s» por um «d» e onde estava «por causa da Censura» ficou «por cauda da Censura» Peço desculpa aos meus leitores e recordo como aprendi com Jacinto Baptista a caçar gralhas e a não lhe dar nenhum descanso. Foram anos e anos de implacável olhar de lince para os textos do «Diário Popular», de «O Ponto» e de novo do «Diário Popular» entre 1978 e 1990. Fico zangado mas como não tenho equipa estas coisas podem acontecer. Nos velhos jornais os redactores mostravam os textos uns aos outros. O Fernando Assis Pacheco passava os seus linguados ao Afonso Praça, o Carlos Pinhão lia as laudas do Homero Serpa, na Literatura o Urbano Tavares Rodrigues tinha em David Mourão-Ferreira o seu primeiro leitor. No meu assunto o problema foi a pressa relativa em acabar um texto a tempo de o poder colocar «on line» com a foto da capa do livro e do próprio Jacinto Baptista. A única coisa positiva desta gralha é fazer-me lembrar de novo por escrito e por extenso a figura do grande jornalista, do historiador e do professor de jornalismo. A sua história passada em «A Voz» lá pelos idos de 40 é espantosa. O jornal tinha um único telefone e uma assinante idosa ligou à noite para a redacção deste jornal católico e monárquico para se queixar de um pombo atrevido que lhe entrou em casa. Jacinto Baptista logo chamou o chefe de redacção e a resposta foi fulminante: «coma-o com arroz minha santinha mas deixe a linha telefónica livre para os telegramas da Agência Havas!» --

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por José do Carmo Francisco às 21:37

Sábado, 04.04.15

«não mintas às pedras» de fernando grade

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Cinquenta anos depois do primeiro livro («Sangria» - 1962), Fernando Grade (n.1943) surge com este volume de 64 páginas no qual junta poemas da série «As escrivãs do Diabo». São 50 anos de viagens em duplo registo (paisagem e povoamento) que o poeta já pressente nas perguntas da página 7 («Pedras ou chita? Lábios roubados ou tafetá?») e na conclusão da página 20: «As viagens são a parte mais secreta e obscura da minha vida». Aqui todas as viagens têm um mapa («Não há nenhum mapa de que não tenha o peso dos murmúrios») e no fim uma moral: «O que fica da paisagem é uma chávena inglesa, um beijo que cresce da boca até às raízes da vertigem». As balizas são as datas («As datas são pregos rangentes») e a bússola uma religião redonda: «Quatro maçãs: a minha religião» porque para o poeta «O meu Deus é o limão». A viagem começa no passado do poeta («foi numa noite de Verão com vento / que apareceu morto Billy the Kid / apunhalado na minha caixa de brinquedos») e vai para o futuro: «Sei da vida o suficiente para não querer morrer calçado». Passa pela cidade da morte («Os meus telefonemas estão (finalmente) preparados para serem roídos pelo tempo») mas também a cidade da festa: «O sítio dos tristes mudou de sítio / fazem o mesmo horário de sempre e estão aqui a roer as horas. / Esperam que a mosca de metal venha e poise (castiça) na última máscara». Entre morte e vida, o sonho do poeta pode ser morrer a dançar como Carlos Queirós em Paris: «Gostaria de morrer apunhalado num baile». O poeta viajou muito com o poema, esteve em África («barrento – o bafo dos guerreiros») mas é da terra, desta terra: «Sinto-me e sou da terra; sei melhor do que ninguém para que floresta trabalho». 50 anos depois, a mesma força de sempre, a poesia continua: «A azeitona desloca-se para cima / torna-se luz, candelabro de noivos desnudos. / O azeite esmagado por lábios de medusa. / Circo de muitas pedras romanas». (Editora: Mic – Apartado 4 – 2766-601 Estoril Codex) --

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por José do Carmo Francisco às 10:20


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