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Transporte Sentimental



Quarta-feira, 01.04.15

«o quarto rio é o eufrates» ou crónica para fernando grade

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Hoje passam 72 anos sobre o nascimento de Fernando Grade (Estoril, 1-4-1943) e estou num café (casa de todos e de ninguém) a redigir a crónica. Votos de saúde e paz para o poeta, pintor e cronista Fernando Grade. Quero transcrever o seu poema da «Pequena Antologia do natal», um livro das «Edições Mic». Onze poetas: Abel Sabaoth, Afonso Duarte, Almeida Garrett, Álvaro Feijó, António Gedeão, Casimiro de Brito, Fernando Grade, Fernando Pessoa, Papiniano Carlos, Raul de Carvalho e Tomaz Kim. Pessoa deixa à história dois versos: «Nasce um deus. Outros morrem. / A Verdade nem veio nem se foi: o Erro mudou.» Mas é Fernando Grade, o poeta desalinhado que este texto pretende ser celebrador de aniversário, hoje 1-4-2015. Citarei parte do poema «Natal filmado no campo», escrito à memória de Júlio-António Salgueiro. Assim: «Na gasolina queimada ou por entre o centeio, perde-se o Natal. Há pessoas a quem isso aconteceu há cinco minutos porque, entretanto, morreram. Outras vão perdê-lo daqui a um quarto de hora. Ninguém sabe de nada. Riem-se: a boca muito grácil. Fazem cálculos galhofeiros: «o peru vai dar um bom pitéu». E sublinham então o cheiro envinagrado do azinho, que és tu o Cristo nascido numa aldeia de estábulos, ao fundo da Palestina. O vento passa sobre o restolho. Estrela de todos os roussinóis vagamundos, mendigos, explorados e secos de alma, pela terra fora foste ganhando muitos nomes (consoante o sítio, as begónias, as línguas em que eras falado) e cada qual tira das tuas palavras a raiz ou o abutre, os sinais na água, o que melhor convém à particular filosofia, aos utensílios, aos biscoitos próprios. Não há dúvida: pertences ao grupo profético dos guerrilheiros que desejam os frutos da terra para toda a gente e surges de um local bucólico sem manequins ou aviões leprosos: eras o dardo e a corça, o feltro magnético; nunca tiveste jeito para usar máscaras de chuva.» --

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por José do Carmo Francisco às 16:05

Quarta-feira, 01.04.15

carta aberta a antónio macedo e fernando alves sobre a infância

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Talvez não saibam (o Matos Maia sabia) que a minha infância cabe toda dentro de uma telefonia antiga: a bela Schaub Lorenz que ainda lá está em Santa Catarina, depois de ter passado pelo Montijo, por Vila Franca de Xira e por Lisboa. A infância é o tempo tão especial em que nada tem preço: nem os beijos nem as lágrimas. O organismo sentimental que eu sou hoje (2015) foi desenhado nesse tempo da telefonia entre 1951 e 1961 com os programas de discos pedidos dos doentinhos: um postal dos CTT, serviço seis, sala dois, cama quatro e segue-se «a grande marcha escocesa.» Os emissores associados de Lisboa eram quatro: Rádio Graça, Rádio Peninsular, Clube Radiofónico de Portugal e Rádio Voz de Lisboa. Aprendi o humor com os Parodiantes de Lisboa, a Parada da Paródia, o inspector Patilhas e o ajudante Ventoínha, a menina Bebé, o Jack Taxas e o seu cavalo Cara Linda. As pessoas chamavam romances aos folhetins do teatro radiofónico e chegaram a bater com sombrinhas numa das actrizes que fazia de «má» à porta da Lanalgo na Rua Augusta. Depois não esqueço o Compadre Alentejano que até era do Montijo. E o senhor Messias que era de Penamacor mas dizia-se natural de Quadrazais. O tempo era outro, a rádio também porque entrava nas nossas casas vazias e ficava no coração. Por isso não saiu e continua firme no seu lugar que é insubstituível. Desculpem o desabafo mas não tinha outra maneira de contactar. O António Macedo a última vez que o vi foi na RTP Memória a mostrar uma fotografia onde eu estou ao seu lado (e do Sena Santos) no Estádio José Alvalade. O Fernando Alves a última vez que o vi foi no lançamento do livro do Adelino Gomes. Não o último mas o mais recente. Estou perdoado, afinal só vos peço que passam discos da Teresa Silva Carvalho, não é pedir muito. --

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por José do Carmo Francisco às 11:11

Quarta-feira, 01.04.15

teresa silva carvalho - obrigado «por tudo o que me deste»

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Teresa Silva Carvalho - Um feliz acaso da Internet trouxe-me a sua voz que já não ouvia na rádio há tantos anos. Culpa de quem? Apetece responder: de toda a gente em geral e de ninguém em particular. Mas também culpa dos homens que tudo decidem nas rádios, as listas, as preferências, as prioridades. A voz de Teresa Silva Carvalho tem um timbre bem especial, um registo caloroso no qual a força se mistura com a fragilidade, num encontro feliz entre música e letra. Entre os sons e as palavras. Lembro-me de ter ouvido religiosamente o LP com o «ó rama ó que linda rama» e outras canções (de José Afonso por exemplo) e digo religiosamente porque ouvir o LP era ouvir o som da charneca, a voz da terra misturada com a água. A voz de Teresa Silva Carvalho tem os quatro elementos essenciais da vida (água, terra, fogo e ar) porque junta no som que eleva do rés-do-chão da vida toda a força da palavra. A voz de Teresa Silva Carvalho foi buscar aos livros nas prateleiras das bibliotecas as palavras vivas que cantam todo o homem que não quer morrer: os poemas de Florbela Espanca, António Botto, Carlos Queirós, Luís de Camões e José Carlos Ary dos Santos. Pelo menos estes nomes ditos de memória. «Por tudo o que me deste» obrigado Teresa Silva Carvalho. Porque hoje passei a tarde a ouvir as canções possíveis na Internet por sugestão de Vítor Marceneiro, o neto do grande Alfredo Marceneiro. Mudei de casa e estou perdido, não sei onde tenho os discos mas nem sequer tenho aparelho para os ouvir. Adiante. Há-de haver pelo menos um CD nos grandes armazéns aqui perto já que os homens que decidem tudo nas rádios não conhecem a voz de Teresa Silva Carvalho. A partir de amanhã vou procurar ganhar um pouco do meu tempo perdido, tempo longe do esplendor da sua voz. E da terra que a voz respira. --

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por José do Carmo Francisco às 08:59


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