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Transporte Sentimental



Quinta-feira, 30.04.15

antónio rebordão navarro, joel serrão, anabela almeida e francisco fanhais num país de analfabetos

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As notícias sobre ARN (1933-2015) integram uma série de erros. Começam pela idade pois o escritor morreu com 81 e não com 82 anos. Segundo aspecto é não referirem as canções cantadas por Francisco Fanhais sendo conhecida a que começa «Elas andam de eléctrico ou talvez de autocarro». Terceiro aspecto é a atribuição da autoria da edição das «Cartas de Fernando Pessoa a Armando Côrtes-Rodrigues» em 1945 a ARN quando foi Joel Serrão que organizou essa correspondência. Não é preciso ser especialista como Anabela Almeida para saber. Eu sei. Quarto assunto tem a ver com a atribuição exclusiva da autoria do livro «Poetas escolhem Poetas» que foi organizado por Orlando Neves e ARN e publicado pela Editora Lello que também editou as crónicas de ARN («Estados Gerais») e livros de Orlando Neves sobre as origens das frases feitas. A prova de que Portugal é um país de analfabetos é que, além dos erros, as notícias necrológicas como esta deveriam incluir outras vertentes informativas. O livro «O parque dos lagartos» é sobre Alcoitão e tem a ver com a experiência pessoal e dolorosa vivida por ARN quando um condutor alcoolizado fez a viatura subir um passeio numa rua do Porto e resultou o esmagamento de uma perna do escritor. Daí o uso de uma prótese. A companhia de seguros do condutor argumentou que uma perna não fazia muita falta a um escritor. Grave e sinistro é que as alegações foram feitas por um ex-colega de carteira num colégio do Porto. Já agora lembrar que um dos mais premiados livros de ARN é «A praça de Liége», prémio Círculo de Leitores. Enfim: as notícias sobre ARN integram os erros repetidos por vários jornais e não incluem as coisas importantes. E lembrar-me eu do que o ARN em Vila Viçosa sofreu com um erro – escreveram Dick em vez de Dirk e Bogart em vez de Bogarde. --

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por José do Carmo Francisco às 11:18

Quarta-feira, 29.04.15

a última aguardente do tio nascimento

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Bebo devagar um cálice de aguardente branca e muito leve, puríssima e macia, tal como saiu do alambique no passado mês de Setembro. É uma aguardente que não pesa no estômago e que torna as digestões mais suaves. Mas não a posso gastar muito depressa porque esta aguardente é uma memória viva do meu Tio Nascimento e da sua Atalaia do Ruivo, paisagem perfeita entre sol e pó, entre pedras e pinheiros, entre água e vento. Lugar mágico onde a terra quase se junta ao céu numa espécie de oração sem palavras. Dois dias antes de morrer com o coração cansado e incapaz de trabalhar mais, este homem que foi, em novo, ceifar todas as searas do Alentejo e das regiões espanholas fronteiriças, estava possuído de um vigor inesperado e obrigou os filhos e as noras a trabalharem ainda mais para irem entregar o bagaço e o folhelho da uva a um certo alambique para os lados da Serra das Corgas. Depois foi fazer uma festa ao burro e enxotar as galinhas antes de olhar as cabras. Entretanto morreu na grande cidade um dia antes de fazer a grande intervenção cirúrgica que lhe poderia ter prolongado a vida caso corresse bem. Mas não correu. Hoje este gesto de beber um cálice de aguardente tem para mim o valor de um regresso. Esta bebida guardou a paisagem povoada pelo Tio Nascimento entre o seu lugar de sempre, a sua casa dos ventos onde se vê ao longe um bocado de Espanha e, mais perto, a terra das cerejeiras em flor. Essa paisagem povoada onde o corpo do Tio Nascimento descansa no cemitério da Sobreira Formosa mas onde o espírito circula no sabor macio e puro, leve e branco desta aguardente que não pesa no estômago. Porque incorpora a memória destilada de um homem cheio de humanidade. --

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por José do Carmo Francisco às 17:04

Terça-feira, 28.04.15

alberto ribeiro «marco do correio / de portinha ao centro»

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Levi Condinho é um infatigável colecionador de coisas antigas mas o seu ecletismo leva-o a juntar não apenas as fotos de «ases» do futebol e de equipas da sua infância mas também os ídolos das diversas artes. Neste caso do Cinema e da Rádio. O marco do correio é uma imagem para sempre de um certo tempo português. Os postais custavam cinco tostões e as cartas um escudo, tal como o jornal e o café. Como os preços eram mantidos de modo artificial até parecia que nunca aumentavam mas nada é eterno. Hoje uma carta de correio normal custa 45 cêntimos o que é, grosso modo, 90 escudos. A diferença é grande. Em 1966 quando comecei a trabalhar os Bancos comunicavam entre si através de carta. Retenho desse tempo duas coisas insólitas. Um Banco italiano escreveu «Lisboa Spagna» e um Banco francês escreveu «Libia» em vez de Lisboa; o primeiro numa carta e o segundo numa ordem de pagamento. No segundo caso o desgraçado do beneficiário pediu uma fotocópia ao ordenador que era das que havia naquele tempo (tipo fotografia) e, depois de conferidas as assinaturas, lá se fez o pagamento ao beneficiário por ordem do nosso chefe. E mandou-se um telex a «dar na cabeça» ao Banco de Paris que tinha metido «o pé na argola». A ignorância é muito grande e está espalhada pelo Mundo. Afinal de contas tanto o autor da carta do Banco italiano como o autor da carta do Banco francês não sabem (nem querem saber) onde fica Lisboa. Quanto à Rádio, esta foto de Alberto Ribeiro lembra-me os discos pedidos dos doentinhos portugueses. Havia mesmo uns programas só para eles. Os postais de cinco tostões indicavam o serviço, a sala e a cama além do disco preferido. A infância de muitos de nós cabe por inteiro numa telefonia antiga. Eu tive uma Schaub Lorenz que ainda lá está na casa da terra onde nasci. --

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por José do Carmo Francisco às 12:54

Terça-feira, 28.04.15

«photomaton» de joão viegas

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João Viegas (n.1945) recuperou do seu Blog um conjunto de textos que deixaram o efémero da Internet para se situarem no mais durável do papel impresso. Num tempo de comunicação veloz (Youtube, Website, Facebook, Farmville, Twitter) e mesmo sabendo que «um blog é uma espécie de vampiro», o ponto de partida é, ainda assim, um verso de Carlos Drummond de Andrade: «A Solidão gera inúmeros companheiros em nós mesmos». Tendo-se estreado em 1983 com «O galo de Barcelos ao poder» e prosseguido com «As noites longas do FM estéreo» de 1986, João Viegas publicou em 2004 «Gostastes?» na Editorial Bizâncio e é co-autor do livro «O canto do galo» também da Bizâncio em 2009. Este livro surge com uma cartografia pessoal. Nele o autor regista os filhos («Não é um familiar. Nem um vizinho. Nem um amigo. Nem uma paixão»), o pai («O meu pai morreu há anos»), a mãe («Deste-me a Vida, o maior presente de todos») e a mulher: «Há cerca de vinte anos conheci numa pequena ilha no meio do Atlântico a Mulher da minha vida». Mas sendo um livro pessoal não se fica pelo «eu» e avança decidido para o olhar mais plural sobre o povo, a sociedade e o país onde o autor vive. Uma memória viva da guerra em África («Quando eu tinha 15 anos começou a Guerra Colonial / e os irmãos mais velhos dos nossos colegas a serem chamados / para Angola que Salazar dizia “É nossa!”») prolongada nas palavras do pai do autor quando este regressa de dois anos em Moçambique e se reencontraram: «Então rapaz, correu tudo bem? Para outros correu tudo mal como o Silva que já se tinha despedido dos amigos e fazia a última patrulha em Moçambique: «Ficou espalhado em mil pedaços por terras africanas». O inventário do Portugal é irónico; seja na memória («Tínhamos um Império, dois se contarmos com o cinema») seja no jogo dos apelidos: «Ninguém perdoa ao Cavaco ser Silva, por isso ele vinga-se com o Professor Doutor mas mesmo assim continuam a olhá-lo como um “saloio”». O autor diz o que pensa sobre as leituras («Desde que me recordo como ser pensante todas as minhas lembranças surgem associadas a Livros») e sobre as mulheres: «O Presente para uma mulher de 40 anos é para ser vivido intensamente, antes que se transforme em Passado». Sem esquecer a sua noção de felicidade: começa com uma advertência («Todos os destinos são permitidos com excepção dos Centros Comerciais») e termina com um aviso: «Aproveitemos a Vida no que ela tem de melhor, / o Amor, a Amizade, o Prazer nas suas várias facetas. / Sem nunca esquecer que Vida há só uma. Esta.» (Editora: Mercado dos Sonhos, Capa: Sofia Silveira) --

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por José do Carmo Francisco às 11:24

Segunda-feira, 27.04.15

foto de eduardo gageiro - a inquisição, os bufos e as ideias da minha avó

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Quando escrevo para os meus dois ou três leitores e afirmo que o nosso é um país de analfabetos estou a pensar em muitas coisas concretas. A abstracção não foi nem nunca será o meu forte. Quando vivi em Vila Franca de Xira nos anos 60 a pessoa da família Redol que era mais conhecida e respeitada era a D. Inocência, irmã do escritor. Ele era visto apenas como um tolerado numa vila e num país onde o escritor é sempre «outra coisa», algo que se aceita a contragosto. A força e o peso da Inquisição ainda se fazia sentir e com mais acuidade nos anos 70 antes do «25 de Abril» quando um elemento dos quadros da PIDE, morador em Benfica no Bairro do Charquinho, disse um dia ao proprietário de uma livraria na Avenida do Uruguai algo como isto: «Ponha-se a pau com os vizinhos do seu prédio que não gostam de si nem das suas montras!» Dito de outra maneira era como se avisasse: «Coma PIDE já você conta mas com os seus vizinhos é diferente, eles aparecem na António Maria Cardoso a fazer queixa do seu estabelecimento!» Uma conversa com a minha avó (mãe da minha mãe) nos idos de 1969 quando eu, mancebo, fui «dar o nome» às Caldas da Rainha e lhe falei na Guerra Colonial deu a seguinte resposta: «Podes dizer mal dele mas o Salazar livrou-nos da guerra!». A guerra colonial estava à porta da sua casa desde 1961 mas ela não a via nem via os mortos no cemitério de Santa Catarina, a minha terra. Só muito tempo depois percebi que para a minha avó o que contava eram os seus filhos (os meus tios) e esses (Álvaro e Armindo) não foram à guerra de 1939-1945. Eu era neto e, num certo sentido, estava já obliterado no discurso da minha avó. «Podes dizer mala dele mas o Salazar livrou-nos da guerra!» foi o que ela disse e repetiu nesse já distante tempo de antes do 25 de Abril de 1974. --

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por José do Carmo Francisco às 18:53

Segunda-feira, 27.04.15

adelina soares «o barulho do silêncio»

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Adelina Soares (n.1959) estreou-se em 2011 com «Fonte das Escadinhas» e regressa à ficção narrativa neste «O barulho do silêncio» de 2013. O ponto de partida é o percurso de vida de Xavier que, de forma circular, começa num Hospital perante um papiloma a ser removido para terminar no mesmo Hospital com o paciente a descobrir na enfermeira de turno o seu amor perdido da adolescência – Marta. Fruto do amor clandestino entre a sua mãe e um homem casado, Xavier nasceu e viveu os primeiros anos da sua vida em Lisboa, num tempo posterior ao «25 de Abril»: «Ela via todas as telenovelas e queria que eu fizesse o mesmo». Nunca conheceu o pai biológico e, mais tarde, a mãe trouxe para a sua vida um padrasto (Paulo) o mesmo é dizer, um ciclo de medo e terror bem diferente das aparências: «Parecia bem formado, cheio de princípios, valores, católico, temente a Deus». Paulo era violento («eu era como as vacas, tinha que ser marcada, era o meu dono») e manipulador: «quantos mais filhos tivéssemos mais difícil seria libertar-me das suas garras». Por oposição às ameaças e agressões de Paulo («tabaco, vinho, jogo») um indivíduo violento e capaz de matar (apesar do seu aspecto seráfico) surge o senhor Joaquim em pleno na vida de Xavier: ele tentava que o jovem acreditasse na honra, na virtude, na palavra e na esperança e foi o pai que Xavier não teve além de «amigo, conselheiro, confidente». Numa narrativa bem portuguesa (personagens, pano de fundo, situações) as referência ao tempo presente (Barragem do Alqueva, ano 2000) não fazem esquecer o ambiente social, político e económico dos anos 50 em Portugal com referencial desta ficção. Foram anos de chumbo com a entrada do país na OTAN em 1949 e na ONU em 1955 – uma onda de conformismo cinzento e de gritante diferença entre fachada e interior. Tal como Paulo, Salazar («Deus, Pátria, Autoridade») também ia à missa todos os domingos mas mandava prender e torturar no Aljube, em Peniche, em Caxias e no Tarrafal todos os que dele discordavam e, portanto, não eram seus filhos. Daí a sua frase emblema desse tempo: «Está tudo bem assim e não podia ser de outra forma!». Nas suas 132 páginas esta narrativa exemplar não deixa de surpreender o leitor com o inesperado e, quando parece já ter sido atingido o ponto mais negro de violência, agressão e brutalidade, há sempre um novo patamar de maldição ainda mais abjecta. Descobre-se o falso herói da narrativa não apenas como mentiroso, violento e cínico mas também como repugnante chulo, capaz de vender o corpo da mãe dos seus filhos todos os domingos ao fim da tarde. Numa rua de Lisboa, num certo escritório de advogado onde, anos a fio, Paulo fazia à tarde tudo ao contrário das palavras do Evangelho que ouvia de manhã. (Editora: Fonte da Palavra, Prefácio: Elsa Andrade, Capa: Tânia Marques, Revisão: Branca Vilallonga, Nota: Luciano Reis) --

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por José do Carmo Francisco às 15:08

Domingo, 26.04.15

levi condinho ou uma crónica de 1995 que não foi publicada em «a bola»

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Tinha como título «Arqueologias do Sentimento» e integrava-se na rubrica «As visitas de sábado à tarde» mas não foi publicada devido à «reestruturação do jornal». Aqui fica: «Arquitectura e arqueologia. Duas distintas actividades humanas que, na classificação disciplinar do saber, frequentemente dialogam e se entrelaçam. A Arquitectura é, provavelmente, a mais democrática e «aplicada» das Artes. Sei que há muitos especialistas que discordam deste juízo, pela possível carga desprestigiante que esse utilitarismo conceptual possa trazer à Arte em si. Mas não é este o espaço apropriado para polémicas desse tipo; e digo democrática, porque objecto de convívio, utilização, apropriação, gosto ou desgosto do mais comum dos cidadãos. O cronista será, entre outras coisas, pela abordagem, evocação, prospecção às sombras do passado, à memória dos factos, objectos e pessoas que por alguma «obra valerosa» se distinguiram, um arqueólogo de sentimentos. Interessou-me esta introdução para criar a atmosfera propícia a me pronunciar um pouco sobre um dos bairros mais característicos de Lisboa, no qual sempre encontrei um pequeno e inusitado toque de «diferença», precisamente o Bairro de Campo de Ourique, cuja história não será das mais antigas no contexto variegado dos múltiplos «lugares» de Lisboa – esse mosaico histórico/arquitectónico sempre em movimento, sempre em metamorfose, sempre esfarrapado, organismo vivo, por vezes «doente», como, de resto, qualquer grande metrópole deste conturbado mundo. Campo de Ourique sugere-nos uma ténue ambiência finissecular, republicana e airosamente pequeno-burguesa no seu carácter de transição do século XIX para o XX, marcado por alguns belos imóveis Arte Nova e Art Déco, um deles (a precisar de alguma reparação) com lápide alusiva à Revolução de 1910. Temos depois o traçado protomodernista dos arruamentos cujo núcleo central, numa das zonas principais se «resolve» no belo Jardim da Parada, com o seu monumento à Maria da Fonte e uma boa diversidade de árvores e arbustos, lódãos, palmeiras, coríseas, ameixieiras de jardim que constituem um pequeno pulmão para as crianças que brincam e para os reformados que ali vão utilizando o seu tempo jogando às cartas, conversando, recordando. Pena é, aí como em toda a cidade (como em todo o país) que os utentes e visitantes não tenham um mais arreigado amor ao que é seu … sempre o lixo no chão ou a destruição gratuita, algures. Há ainda noutra zona central, a Igreja do Santo Condestável, inaugurada em 1951, exemplo de arquitectura religiosa modernista/nacionalista, esteticamente afim de outros templos edificados em Lisboa nas décadas de 30 e 50. E não posso deixar de referir a velha catedral da Dança de Salão que é a Sociedade Filarmónica Alunos de Apolo, fundada em 26 de Maio de 1872, bem como a recente e esplêndida inovação que constitui a recuperação e aproveitamento da Casa Fernando Pessoa. Quando em Janeiro de 94, pela primeira vez entrei no pequeno quarto onde o genial e enigmático poeta viveu parte da sua via, não pude evitar um estremecimento interior, uma comoção breve e enternecida por tanta modéstia para tamanha grandeza. Mas e voltando à «arqueologia sentimental», grandes não são só as figuras da Poesia, da Arte e da Cultura. Campo de Ourique é, ainda e sempre, o seu Desporto, o seu glorioso Clube Atlético, os seus antigos ases do Ciclismo como João Francisco, José Brás, Quirino de Oliveira, José Marquês, Ezequiel Lino ou José de Albuquerque, «O Faísca». É de notar que, no início dos anos 40, por várias vezes e com imensas dificuldades financeiras e logísticas, foi o Atlético de Campo de Ourique o organizador da Volta a Portugal. E esquecer o Hóquei em Patins seria indesculpável. O C.A.C.O. foi Campeão Nacional de Seniores em 1954 e, por diversas vezes, em Juniores, tendo fornecido à Selecção Nacional jogadores famosos como Pompílio, Bernardino, Vaz Guedes e António Matos a quem foi atribuído o epíteto de «o gato do ringue». Em 27 de Maio de 1955, Matos, mesmo com cinco dentes partidos num treino, foi defender estoicamente as cores nacionais em Itália. E jamais esquecerei aquela final em Montreux, 1954, em que vencemos a Espanha por 1-0, golo de penalty de António Figueiredo do Infante de Sagres, com a consequente vitória no importante Torneio daquela cidade, em que Matos, contra a fúria dos Puigbós, Orpinellis & Cª, defendeu tudo… o possível e o impossível. Raras eram as alegrias colectivas do humilde povo português, por esses tempos. Assim, terminado que foi o relato de Amadeu José de Freitas na Emissora Nacional, o foguetório estalou, festivamente, por toda a parte nessa noite de segunda-feira pascal. Levi Condinho --

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por José do Carmo Francisco às 18:11

Domingo, 26.04.15

«correspondência» jorge de sena/antónio ramos rosa 1952-1978

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Jorge de Sena manteve correspondência com autores diversos como Adolfo Casais Monteiro e Óscar Lopes, Carlos Drummond de Andrade e Ruy Belo, Almada Negreiros e Pedro Tamen ou José Saramago e Raul de Carvalho mas também com António Gedeão, Eduardo Lourenço Guilherme de Castilho, José Régio, Manuel Bandeira e Sophia de Mello Breyner Andresen. Este volume de 300 páginas inclui, além das cartas trocadas entre os dois poetas e ensaístas de 1952 a 1978, alguns poemas, algumas anotações manuscritas, as dedicatórias de um para o outro e o índice remissivo final dos autores, das revistas, dos jornais e dos livros mencionados no corpo da correspondência. Duas breves notas para convite à leitura. Uma carta de Jorge de Sena em 1953: «A poesia é um veneno que liquida mais ou menos depressa a pessoa de que se apossa. Foi sempre: não se imagine que isso é uma conquista amena da poesia moderna. Não é o direito de não fazermos o que não queremos fazer que nos faz poetas: a actividade poética é que nos tira várias coisas em que não possa ela repoltrear-se preguiçosamente». Uma carta de António Ramos Rosa em 1956: «Tive hoje uma das maiores alegrias da minha vida, que me recompensou de muita coisa. Não esperava tanto: no mesmo dia, estas duas cartas de França, uma de René Char, outra dos Cahiers du Sud! Hoje sinto-me leve, radiante e, de certo modo, invulnerável.» Um aspecto muito curioso tem a ver com as difíceis relações Portugal-Brasil. Vejamos uma carta de 1960 na qual Jorge de Sena previne Ramos Rosa: «Quando V. der à luz artigo adaptado ao Brasil – não é preciso que seja assunto brasileiro mas apenas tendo em mente que esta gente não sabe nada de Portugal ou de nós mais modernos, e mesmo para trás, um Régio é coisa vaga – mande-me que eu, como sabe, faço parte do staff do Estado de S. Paulo». (Editora: Guimarães, Apoio: FCT, Edição: Mécia de Sena, Jorge Fazenda Lourenço, Colaboração: Agripina Costa Marques, Inês Espada Vieira) --

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por José do Carmo Francisco às 10:18

Sábado, 25.04.15

francisco josé viegas - «o coleccionador de erva»

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Depois de «O mar em Casablanca» em 2009, Francisco José Viegas (n. 1962), editor, jornalista, cronista e poeta com livros editados no Brasil, Itália, França Alemanha e República Checa, surge com esta ficcão recente («8 de Abril de 2003») no qual o inspector Jaime Ramos envolve toda a sua equipa: Isaltino de Jesus, José Corsário, Olívia, Jacinto, Dulce e Vasco. Quase dobrados os 60 anos, Jaime Ramos julga saber o que é a idade («a idade não é o tempo que passou; é o tempo que resta») e, por isso, desabafa: «desperdicei a minha vida com mortos que não me pertenciam. Fiquei mais velho e mais desapontado». O ponto de partida e o grande desafio à capacidade do inspector são três cadáveres (Arkadi Tarasov, Mikhail Polianov, uma mulher africana) cuja morte é preciso deslindar mas a boa memória de Jaime Ramos é apenas pessoal: «Não está ao serviço do país, não pertence ao Estado. Custou muito a conservar, custou muito a reter, está cheia de vícios.» O Portugal do livro é um país onde o nome das famílias aguentou todas as revoluções e todos os terramotos desde 1834 e onde há cada vez mais «negócios vivos, viagens-relâmpago a Angola, de onde vem dinheiro, cada vez mais dinheiro». Um país onde os jornais mudaram muito: «Já não há os horários dos comboios, os resultados da terceira divisão ou das distritais só aparecem à terça-feira , já não há aquele quadro com a partida dos navios do porto de Leixões, os preços dos produtos agrícolas no mercado, há menos anúncios sobre gente desaparecida. Desapareceu de casa de seus pais.» Mas, mesmo assim, muitas raparigas fogem: «Porque a vida é curta e as raparigas querem vivê-la depressa. O pai ressona de noite no quarto ao lado. Os irmãos são gente desconhecida. As mães podem ser ciumentas ou, se não forem ciumentas, são injustas, impacientes, fazem concorrência. O namorado é uma parte bandido e uma parte aventureiro» Este é um Portugal entre a esquerda dos operários («tão justos, tão honestos, tão preciosos e amáveis – e tão duros, inflexíveis, sábios, resolvidos») e uma direita de famílias: «Os filhos fumam cedo demais, recusam ir às aulas suplementares de Matemática, chegam tarde a casa, trazem droga nos bolsos, bebem álcool, roubam pequenos objectos de casa, imitam personagens de televisão e vidas do cinema.» Bem no centro desta ficção, o título do livro: «ele, engenheiro, era penas um colecionador de erva que, de cidade em cidade, consoante a ordem decidida com meses de antecedência, distribuía códigos, números, amostras – e às vezes, encomendas postais que Luís Ferreira não podia enviar por correio». Impassível, o poster de Teófilo Cubillas continua na secretária de Jaime Ramos, sempre, passando ao lado de todas as histórias, ele que veio substituir Pavão morto em pleno estádio no minuto 13 da jornada 13 frente ao Vitória de Setúbal em 1973. (Edição: Porto Editora, Capa: Sofia Barbosa, Imagem: Subbotina Anna) --

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por José do Carmo Francisco às 19:13

Sexta-feira, 24.04.15

era - o mesmo erro duas vezes ou à segunda só cai quem quer

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Há quem lhe chame publicidade de prestígio da Empresa ERA porque está escrita em português, inglês, cirílico e mandarim ou cantonês. Ao certo não sei se é uma coisa ou outra. A forma exterior é a de uma «revista» porém sem ficha técnica. As fotografias são bonitas mas os textos são muito fracos. No texto sobre a Baixa de Lisboa surge a referência «edificada por Marquês de Pombal» quando se sabe que o Marquês de Pombal apenas convocou diversos arquitectos e superintendeu as obras da Baixa no seu gabinete não tendo de facto «edificado» o que quer que seja. E depois escreve-se «por» Marquês quando deve ser (e só pode ser) «pelo» Marquês de Pombal. No texto sobre os edifícios do Parque das Nações surge em duplicado a expressão «referência nacional»; aparece duas vezes em dez linhas. Trata-se de uma repetição desnecessária e evitável, a expressão (referência nacional) pode ser substituída por outra equivalente. Mas onde as coisas ficam muito feias é numa das páginas em que surge um texto sobre o Elevador da Glória quando a imagem é do Elevador da Bica. Simplesmente miserável que pela segunda vez alguém responsável de uma empresa perita em vender casas de luxo a estrangeiros com muito dinheiro deixe sair a público uma monstruosidade destas. Nem se pode argumentar que para os ingleses, russos ou chineses tanto faz ser o Elevador da Glória ou o da Bica porque eles não andam de transportes públicos e o elevador é um deles. Aqui é uma questão de higiene mental porque quem escreve o texto e quem arranja as fotografias não podem estar de acordo: o Elevador da Glória no texto não confere com o Elevador da Bica na fotografia. Uma falta de respeito para com todos nós, os incautos que recebem esta «coisa» na caixa do correio ao fim da tarde. --

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por José do Carmo Francisco às 19:34

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