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Transporte Sentimental



Segunda-feira, 02.02.15

pequena cantata de vinte linhas para a luz dum nome

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O teu nome tem, no seu som pronunciado devagar, uma luz antiga que vem do bosque da memória, uma velha raiz latina que projecta as sombras no chão dos caminhos entre as árvores e o sol por cima. Ao peso do teu nome não chega a chuva desta tarde, miúda e silenciosa, repetida e húmida, afinal tão húmida como a ternura. O teu nome tem, no seu som pronunciado devagar, o sossego do encontro, entre cafés e bolos, no fim de uma refeição no bar da Universidade Clássica. Natureza e Cultura, Geografia e História, Terra e Livros, tudo isso o teu nome convoca mesmo quando te despedes apressada e julgaste ter perdido o pequeno guarda-chuva que estava, afinal nas costas da cadeira. A Natureza é o bosque, a Cultura são os livros, a Geografia são as árvores, a História são os quinhentos anos de um autor teatral, a Terra são os caminhos onde o sol quase não chega, os Livros são as comédias que no século XVI enchiam os pátios da cidade de gente ansiosa e os palcos de actores cujo nome se perdeu no Tempo. O teu nome tem, no seu som pronunciado devagar, uma luz antiga, tão antiga como os enredos da «commedia del´arte» e o seu Arlequim ou as peças de Marivaux no seu «Jogo do Amor e do Acaso». Mais do que luz, há no teu nome o cheiro da madeira das árvores com o seu exemplo silencioso mas efectivo: os homens estão cada vez mais longe da terra-mãe e as árvores não; pelo contrário. Depois vem o cheiro da chuva na terra pisada nos caminhos que ninguém desenhou nos estiradores dos paisagistas mas que todos seguem quando por aqui passam no meio do bosque. O teu nome tem no peso do seu som uma luz antiga; Silvina. Porque vem do bosque da memória, da raiz latina, do tempo vagaroso da ternura. --

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por José do Carmo Francisco às 17:12

Segunda-feira, 02.02.15

américo monteiro de aguiar, a obra da rua e as gralhas

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Sou leitor do jornal O GAIATO há muitos anos e tenho para com eles duas espécies de dívidas: a material e a espiritual. A dívida material posso eu vir a acertar um dia destes (sou o assinante64851) mas a espiritual não tem preço. Devo muito aos seus artigos e notícias, aprendi e continuo a aprender muito nas suas páginas. Também tenho lido alguns livros do Padre Américo e num deles («A Obra da Rua») posso ler uma definição da Casa do Gaiato: «A Casa do Gaiato é uma obra eminentemente social e familiar. Não tem pautas nem estatutos nem regulamentos – nem orçamento! Os mais crescidos vão roçar mato, de manhã cedo, com o almoço numa cesta de vime; e comem quando bel lhes apetece à maneira dos trabalhadores. Ao meio dia, regressam a Casa para jantar, no fim do que, atrelam a jumenta ao carro e de novo voltam ao monte, a colher o fruto do seu trabalho. A distribuição do mato nos estábulos, mai-la do estrume nas terras, é obra das suas mãos.» Pois no livro da Livraria Portugal, comemorativo dos seus 50 anos, assinado por José Pedro Machado (1914-2005) não é só o nome do Padre Américo (1887-1956) que tem uma gralha (Martins em vez de Monteiro) mas também a data do seu falecimento. Foi de facto em 1956 mas José Pedro Machado indica o ano de 1966. Moral da história: não há nada a fazer. Diz o Nuno Costa Santos que «a vida sem gralhas é burocracia». Ora eu não sou um burocrata nem um manga-de-alpaca das Letras mas ainda sou sensível a estas coisas. O Nuno tem razão mas com a minha idade já não posso mudar. Mesmo que queira. «Burro velho não aprende línguas» nem perdoa gralhas sejam nos nomes sejam nas datas. Lá diz o velho ditado popular com um pequeno acrescento meu. Pois. --

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por José do Carmo Francisco às 08:57


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