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Terça-feira, 28.10.14
«anátema, devoção e poder - a santa da ladeira» de aurélio lopes
«Anátema, Devoção e Poder – A Santa da Ladeira» de Aurélio Lopes O título deste livro de 351 páginas, tese de doutoramento do antropólogo Aurélio Lopes (n.1954) contempla as três vertentes (Anátema, Devoção, Poder) do «caso da Ladeira» estudadas por este reconhecido especialista da «religião popular». Desde o seu primeiro livro em 1995 («Religião Popular no Ribatejo») até «Devoção e Poder nas Festas do Espírito Santo» (2004) ou «Videntes e Confidentes – Um estudo sobre as aparições de Fátima» (2009) ou ainda «A reconstrução do sagrado – a religião popular dos Avieiros da Borda d´Água» (2009), esta matéria tem estado sempre presente nos seus trabalhos. O autor começa por definir Maria da Conceição (1930-2003), personagem a quem os devotos chamam «santa» e os detractores «bruxa», nestes termos: «jovem camponesa de natureza fechada e cariz austero, visionária crescente e mística estigmatizada , mentora de um grupo de seguidores cada vez mais numeroso, líder religiosa de uma seita católica rebelde». A origem do processo da Ladeira liga-se à guerra colonial: «as mães iam para lá de noite saber dos filhos porque ela dizia que os ouvia, que lhe apareciam». Segundo ser percebe o «Anátema» da hierarquia da Igreja Católica surge da incorporação das doutrinas espíritas (Maria da Conceição diz reencarnar Jacinta Marto) ainda mais reforçado com a ideia de fazer da Ladeira do Pinheiro «o segundo altar do Mundo» e com a decisão judicial de fechar o «Santuário» de 1972 a 1974. A «Devoção» (feita de rezas, êxtases e procissões) é o segundo aspecto do livro que define Maria da Conceição como «mãe colectiva e santa viva» e cuja respeitabilidade impregnará o seu segundo marido «denominado Pai Humberto ou apenas Pai e até sua mãe, a Avó Chica». O aspecto do «Poder» na Ladeira é dado pela militância, perseverança e estoicismo da sua mentora que teve como resultado a construção de um grande santuário mas, ao mesmo tempo, a linguagem usada pela «santa» é prosaica, rude e popular: «É a «febre maligna» com que se ameaça o Mundo, são os «cinquenta contos» exigidos para comprar os terrenos, são os padres que se apresentam não «fardados» mas sim «à paisana», são os peregrinos que «cuidam que os milagres caem dos ares». São os «possessos» que tentam sabotar os rituais da Ladeira, a chaga do «peito do pé» para a qual o personagem Jesus chama a atenção, os «moucos» que não ouvem Deus, os peregrinos que evitam a Ladeira para não serem «assuados». (Editora: Cosmos, Capa: Lorenzo Bernini, Apresentação: Cáscia Frade, Gabriela Funk, Fátima Amante e Marília Futre, Apoios: Município de Torres Novas, IELT, FCSH, Universidade Nova de Lisboa e FCT) --
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José do Carmo Francisco
às 11:26
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