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Transporte Sentimental



Quinta-feira, 23.10.14

o quarto de joão garcia na rua da rosa

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O quarto de João Garcia fica aqui no primeiro andar do nº 204 da Rua da Rosa, a mesma rua onde nasceu Camilo Castelo Branco. Escrevo e digo fica porque embora João Garcia já não viva naqueles metros quadrados nem já espere cartas de Margarida ao domingo (naquele tempo havia correio ao domingo…) a verdade é que está tudo na mesma como quando Vitorino Nemésio por aqui passou entre 1919 e 1921, entre a vida militar nas Janelas Verdes e as reportagens no jornal A Pátria. A capelista da Rua da Rosa nº 200 que entra no romance «Mau tempo no canal» na página em que se recorda a criadita que deixou molhar o jornal quando veio da capelista, pois a capelista também continua. Hoje já não vende só jornais, figurinos, cadernos, agulhas e carrinhos de linha mas relógios, bonecos, perfumes, brinquedos, bilhetes-postais e CDs. Isto além de ter uma máquina de fotocópias. Mudou de dono por trespasse e hoje tem ao balcão um simpático senhor indiano que regista as lotarias, as raspadinhas e o euro milhões. Os gatos do tempo de João Garcia, quando o jovem militar açoriano subia do Rossio cheio de cafés onde os boatos escaldavam tanto como a bica, os gatos deram lugar aos cães. O peixe frito que João Garcia via sempre nas portas da Rua da Atalaia desapareceu para sempre. À noite, quando regresso a casa pelo Elevador da Glória e entro no Bairro Alto por aquele lado, olho sempre para o primeiro andar do nº 204 da Rua da Rosa. Então se está nevoeiro e choveu de mansinho ou se ouvi nesse dia um CD de Hélio Beirão com músicas da viola da terra, fico com a quase certeza que João Garcia continua ali no seu quarto à espera de uma carta de Margarida. --

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por José do Carmo Francisco às 08:38


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