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Domingo, 05.10.14
«lagoas dunas & diversos» de luís boavida
Luís Boavida (n.1945) poderia ter intitulado este livro «Biografia interior» porque os poemas escolhem na sua tessitura o lado de dentro das coisas e das pessoas, da paisagem e do povoamento. Há um pormenor que define a poesia de Luís Boavida: tendo nascido em Penamacor, longe do caminho-de-ferro e das estradas nacionais, nada transparece nesta escrita sobre a coisa talvez a mais conhecida da vila – a Companhia Disciplinar, os chamados «soldados corrécios». Pelo contrário, o que transparece na escrita é a vida e a morte, a geografia e a memória, isto num livro onde o ponto de partida é a descoberta do Mundo a partir dos nomes: «Era a Rosa, era a Maria da Silva / eram nomes assim / que uma criança cheirava.» Por cima da vida quotidiana fica o castelo de Penamacor: «Ele lá no alto / com a sua luz de saudade / olhando o campo raiano; / a solidão das muralhas / resistindo ao passar / imperceptível / da planície.» Dentro da vida quotidiana permanece a memória do acidente de viação de seu pai que mudou a vida do autor: «Conheço agora / a curva da estrada / onde meu pai / deixou a tarde.» Esse desastre de viação reflecte-se não só na vida mas também num poema: «A família fora feliz / até ao acidente do pai. /Depois as fotografias / fixam bruscamente / a passagem da roupa clara / para roupa de luto.» Surge neste livro de Luís Boavida uma dupla inscrição: o universo popular ao lado de Camões e dos clássicos greco-latinos e as expressão própria do Poeta ao lado das referências intertextuais. Por exemplo em «As primas da Orca» o poema regista um rifão do Povo («Boas hespanhas / são as aranhas!») mas em «O Alfaiate» é a Grécia que se depara ao leitor: «Esta é a minha lembrança / de Hephestos, o alfaiate / o chapéu de lado / na rua, aos domingos / aquela perna para aquela bengala / e os olhos de Vénus / da inquieta cortina / presos do seu alfaiate coxo.» Um aspecto intertextual surge no poema de Coimbra: «Passam-me à frente / da varanda / - serão as canções / do vento que passa.» No «fio de afectos» que é o poema, Luís Boavida coloca a velhice e a juventude, lado a lado. No poema «Alba» pergunta «De que povo se fala / senão destes velhos / onde a pele se confunde com a terra / de lavoura e autores antigos?» e, logo a seguir, interroga «De que falam os jovens? / Um dia lembrar-se-ão / das suas conversas / carregadas de nuvens / e achá-las-ão doiradas?» No final desta leitura que, tal como a livraria onde foi apresentada, deve ser feita em regime de «Ler Devagar», fica a grande problemática do nosso País que foi, é e sempre será a divisão entre as Cidades e as Serras: «Ai o campo, o campo…/ Mas é na cidade que vivemos, / varrido o silêncio / despidos todos os ventos. / Um cão que ladra / ao longe / um galo na paisagem / nunca saberão a falta que fazem / aos seres que somos / misturas de aromas e rumores.» Nota final – um livro excelente, para ler e reler, um feliz intervalo entre o «sangue pisado» da vida e o «estilo» da literatura. (Conceito e Composição: Carlos Teixeira Gomes e Jaime Rydel, Fotografias: João Henriques) --
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José do Carmo Francisco
às 14:39
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