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Transporte Sentimental



Sexta-feira, 31.10.14

«a monarquia do norte» de rocha martins

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Esta obra em dois volumes corresponde à reedição actual do trabalho do jornalista Rocha Martins (1879-1952) que era vivo ao tempo dos acontecimentos e entrevistou alguns dos protagonistas duma época em que se tentou de novo estabelecer a Monarquia em Portugal. Em 19 de Janeiro de 1919, um grupo de militares e civis, chefiados por Henrique Paiva Couceiro, proclamou a Monarquia no Porto. Paiva Couceiro estava contra as atitudes internacionalistas dos Governos da I República e avançou com um grupo de conservadores, ex-republicanos e monárquicos para uma acção que definiu como patriótica e nacionalista. O rei D. Manuel II nunca sancionou nem incentivou essa revolta. Esse foi um dos factores que contribuíram para a derrota de Paiva Couceiro e, a prazo, para a ascensão ao poder do Partido Democrático. Tal como na actualidade, era a classe média que em 1919 tudo ia aguentando: «Todos os dias apareciam novas casas de crédito; os palácios magníficos em que se transformavam os casarões pombalinos da Baixa eram todos templos do Dinheiro; um luxo desordenado se arvorava e os proletários unidos, sindicalizados, venciam nas suas reclamações, indo afectar a classe média, a escravizada, a esfaimada, mercê da sua inércia. O grande camartelo, o pilão rijo dos magnatas especuladores, descia sobre a bigorna do Trabalho, mas no meio encontrava falripas, palhas, destroços, um mundo enorme de desditosos que constituía um heterogéneo vazadouro: era a classe média».
Jornalista que nuca deixou de o ser (Diário Popular, A Vanguarda, Jornal da Noite, Ilustração Portuguesa) foi na República depois de 1945 que José Rocha Martins viu os seus artigos gritados pelos ardinas - «Fala o Rocha, tá o Salazar à brocha!». Nestes dois volumes se faz História e se pratica com brilhantismo a suprema arte da reportagem. (Editora: Bonecos Rebeldes, Capa: Fernando Martins, Revisão: António Bárcia) --

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por José do Carmo Francisco às 08:58

Quinta-feira, 30.10.14

«biblioteca pessoal» de josé-alberto marques

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Poeta, romancista, dramaturgo, ensaísta, autor de livros infanto-juvenis, José-Alberto Marques (Torres Novas, 1939) tem estado na Literatura Portuguesa com o rótulo da «poesia visual» mas este recente livro de poemas prova o seu ecletismo e vai muito para além dessa classificação. A dedicatória inicial, dirigida a cinco cidades (Torres Novas, Lisboa, Covilhã, Porto e Abrantes) prova que, para a Poesia deste autor, a Geografia é tão importante como a História. O título «Biblioteca Pessoal» tem origem na escolha do Poeta: «Continuo a ler e isso significa que escrevo / Vou na trigésima leitura Sarraute / Na «terceira» Antero / Na décima quinta «Clépsidra» / Na 99 Oaristos». Na vida de todos nós (que é uma viagem) além da Literatura, o Cinema tem o seu próprio lugar; sejam os filmes antigos («Eram imagens tiradas dos filmes de Charlot») sejam os filmes modernos: «Ponham sobre mim tudo do filme que pesa / Em «Há lodo no cais». A Poesia, a grande Poesia, nunca recusou chamar as coisas pelos seus nomes ao longo dos tempos: «Que fazem aqui a meu lado os poetas que amei ? / Saiam da frente, escondam-se nas prisões, / Nos jardins nocturnos, nos cemitérios de luxo. / Levem, a correr, os poemas que estão a escrever. / Deitem-se no chão para serem pisados / Por estas plantas que hão-de crescer ao lado / Da vossa eternidade.» Se uma «Biblioteca Pessoal» é, sobretudo, um conjunto de livros («Os livros são, apenas, o que se escreveu em silêncio, no isolamento, na aprendizagem da solidão, no trabalho de escrever enquanto se tem os pés presos a correntes de ferro com bolas de chumbo») então o autor pode advertir: «Os livros, afinal, não precisam de autor, mas dum nome de autor». E é essa ligação entre nomes, essa divertida «confusão» que nos remete para um poema; talvez «surrealista», talvez «visual», talvez «insólito» mas sempre poema: «José Gomes Ferreira de Castro / Eduardo Guerra Carneiro Jacinto / Fernando «J.B.» Martinho da Arcada / Manuel da Fonseca e Costa / Francisco José Mário Viegas / Papiniano Carlos de Oliveira / Fernando Guimarães Rosa / Natália Correia sem transmissão de Teles.» (Editora: Chiado, Capa: Vasco Lopes) --

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por José do Carmo Francisco às 14:41

Quarta-feira, 29.10.14

«domínio público» de paulo castilho

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O ponto de partida deste livro de Paulo Castilho (n. 1944) é a ideia de se criar uma Fundação com o património de uma família: «uns irresponsáveis a nadar em dinheiro mas precisavam de mais para os esquemas do Eduardinho, os disparates da Sofia, as manias da Filomena, a casa no Mar da Palha». Uma Fundação em Portugal tem que entrar na regra de ouro: «tudo se resolve pelo processo de não se resolver». As pessoas contactadas para a Fundação viveram no passado («ninguém acreditava no Estado Novo tirando meia dúzia de fanáticos») e chegaram ao presente: «Hoje toda a moral é pública, só existe o que se exibe». A Fundação começa a ser pensada a partir da ideia de defender a língua Portuguesa e os escritores cujos livros não estão disponíveis porque ninguém os publica: «Gaspar Simões, Casais Monteiro, Branquinho da Fonseca, Marmelo e Silva, Alberto Serpa, Saul Dias, Carlos Malheiro Dias, Miguéis, Irene Lisboa, Maria Judite de Carvalho, Namora, Redol». Mais tarde se percebe que a Fundação não é possível: «a língua hoje está na televisão, nos SMS, no Twitter. Sound bites. Os livros são irrelevantes, são para a elite e a elite é irrelevante». O escritor Falcão escreve no seu Blog: «No tempo do Salazar eram os areópagos internacionais, nestes tempos de calote fixamo-nos nas agências de rating. Reina a falta de rigor, o mais ou menos, o aproximadamente, o tanto faz». E conclui: «As pessoas queixam-se do IVA e do IRS mas há em Portugal um imposto bem mais sinistro, o imposto da espera». Esta é também uma história de palavras. Seja o neopalavreado («positivo, proactivo, transparente, aprofundado, empenhado e sustentável») seja o jantar onde um ministro distribui palavras e expressões como «alavancar, arregaçar as mangas, determinação e sucesso». Sem esquecer uma homenagem a Eça de Queirós com os protagonistas a passearem pelo Largo Camões, Rua da Misericórdia, São Pedro de Alcântara, D. Pedro V, Príncipe Real, Rua da Escola Politécnica. Tudo porque um encontro privado no Connecticut pode passar ao domínio público em Lisboa. (Editora: Dom Quixote, Capa: Rui Garrido sobre imagem de Julião Sarmento) --

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por José do Carmo Francisco às 15:09

Terça-feira, 28.10.14

«anátema, devoção e poder - a santa da ladeira» de aurélio lopes

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«Anátema, Devoção e Poder – A Santa da Ladeira» de Aurélio Lopes O título deste livro de 351 páginas, tese de doutoramento do antropólogo Aurélio Lopes (n.1954) contempla as três vertentes (Anátema, Devoção, Poder) do «caso da Ladeira» estudadas por este reconhecido especialista da «religião popular». Desde o seu primeiro livro em 1995 («Religião Popular no Ribatejo») até «Devoção e Poder nas Festas do Espírito Santo» (2004) ou «Videntes e Confidentes – Um estudo sobre as aparições de Fátima» (2009) ou ainda «A reconstrução do sagrado – a religião popular dos Avieiros da Borda d´Água» (2009), esta matéria tem estado sempre presente nos seus trabalhos. O autor começa por definir Maria da Conceição (1930-2003), personagem a quem os devotos chamam «santa» e os detractores «bruxa», nestes termos: «jovem camponesa de natureza fechada e cariz austero, visionária crescente e mística estigmatizada , mentora de um grupo de seguidores cada vez mais numeroso, líder religiosa de uma seita católica rebelde». A origem do processo da Ladeira liga-se à guerra colonial: «as mães iam para lá de noite saber dos filhos porque ela dizia que os ouvia, que lhe apareciam». Segundo ser percebe o «Anátema» da hierarquia da Igreja Católica surge da incorporação das doutrinas espíritas (Maria da Conceição diz reencarnar Jacinta Marto) ainda mais reforçado com a ideia de fazer da Ladeira do Pinheiro «o segundo altar do Mundo» e com a decisão judicial de fechar o «Santuário» de 1972 a 1974. A «Devoção» (feita de rezas, êxtases e procissões) é o segundo aspecto do livro que define Maria da Conceição como «mãe colectiva e santa viva» e cuja respeitabilidade impregnará o seu segundo marido «denominado Pai Humberto ou apenas Pai e até sua mãe, a Avó Chica». O aspecto do «Poder» na Ladeira é dado pela militância, perseverança e estoicismo da sua mentora que teve como resultado a construção de um grande santuário mas, ao mesmo tempo, a linguagem usada pela «santa» é prosaica, rude e popular: «É a «febre maligna» com que se ameaça o Mundo, são os «cinquenta contos» exigidos para comprar os terrenos, são os padres que se apresentam não «fardados» mas sim «à paisana», são os peregrinos que «cuidam que os milagres caem dos ares». São os «possessos» que tentam sabotar os rituais da Ladeira, a chaga do «peito do pé» para a qual o personagem Jesus chama a atenção, os «moucos» que não ouvem Deus, os peregrinos que evitam a Ladeira para não serem «assuados». (Editora: Cosmos, Capa: Lorenzo Bernini, Apresentação: Cáscia Frade, Gabriela Funk, Fátima Amante e Marília Futre, Apoios: Município de Torres Novas, IELT, FCSH, Universidade Nova de Lisboa e FCT) --

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por José do Carmo Francisco às 11:26

Domingo, 26.10.14

«união desportiva vilafranquense» no livro «os guarda-redes morrem ao domingo»

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«União! União! União!» - Muito se gritava nas manhãs de Domingo nos primeiros anos da década de sessenta em Vila Franca de Xira. Manhãs de muito futebol com os principiantes e os juniores. No meu caso pessoal tinha colegas de turma e de escola nas equipas e estar com eles era também uma forma de afirmação pessoal. Quem ia para a Escola Técnica era por falta de posses para ir estudar no Liceu e tudo aquilo que desse sinal da nossa força era uma vitória. Mesmo pequena. Ser da turma de uma pequeno «craque» numa equipa de juniores que batia o pé ao Benfica, ao Sporting e a Os Belenenses era um outro estatuto junto dos miúdos. O treinador era Peres Bandeira e o guarda-redes era nosso vizinho, morava no Bairro do Bom Retiro. Era o Moedas. Talvez por isso nas manhãs de Domingo havia muitos gritos de «União! União! União! em vozes juvenis. No Bairro (que ainda eras longe da Vila e onde não havia água canalizada) fazíamos grandes jogatanas. Quando havia muitos jogavam os do lado de cima contra os do lado de baixo do Bairro. O Dides, o Filipinho, os irmãos Braguitas contra o Juvenal, o Carlos Alfredo, o Manel, o Dôta. Quando havia poucos fazíamos jogos de futebol de sarjeta. Uma bola pequena e muita habilidade. Tardes inteiras a jogar com o Zé Manel Labareda (hoje um reputado dermatologista) sob o olhar ansioso do Geninho, o irmão pequeno que se mascarava de campino todos os anos. Que será feiro do Modesto que foi para a Académica? Que será feito do Vidául? Que será feito do Carlos Urbano que foi do Sporting em 1966? Eram da minha Escola mas hoje fazem parte da turma da saudade. Falta só acrescentar duas coisas. Primeira: só parava o jogo para ver passar a Lurdinhas que vinha do colégio Sousa Martins. Segunda: ainda hoje tenho nos ouvidos os gritos de «União! União! União!». --

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por José do Carmo Francisco às 17:59

Sábado, 25.10.14

as mulheres da lezíria - para quem não leu o «expresso da lezíria»

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As duzentas mulheres da Lezíria
A voz de Susan Boyle, um misto de potência e beleza, majestade e furor, limpidez e eficácia, rebentou com a escala num concurso televisivo inglês. Vergou o desdém do júri e a má vontade do público. Ocorreu-me logo a memória de um poema de Miguel Torga sobre as mulheres da Lezíria. O que na mulher escocesa de 47 anos era anonimato e solidão era, nas palavras de Torga, o esplendor da voz da Terra, a tristeza multiplicada de duzentas mulheres com os pés enterrados na água do arroz. E todas as colheitas perdidas dos sonhos por realizar. Não por acaso a canção do musical «Os Miseráveis» que levou a voz de Susan Boyle a todo o mundo se chama, em português, «Eu sonhei um sonho». Eis o poema de Torga: São duzentas mulheres. Cantam não sei que mágoa Que se debruça e já nem mostra o rosto. Cantam, plantadas n´água Ao sol e a à monda neste mês de Agosto. Cantam o Norte e o Sul duma só vez, Cantam baixo e parece Que na raiz humana dos seus pés Qualquer coisa apodrece. Elas cantavam «o Norte e o Sul duma só vez» porque nesse tempo arrastado das migrações sazonais para o Ribatejo os ranchos de mulheres juntavam, na alta pureza das vozes a cantar, o esplendor dos sonhos enterrados no lodo com os pés de quem cantava. --

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por José do Carmo Francisco às 09:55

Sexta-feira, 24.10.14

v.f.x. - elegia para a mulher-menina do mouchão da póvoa

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Não sei o seu nome sequer. Pode ser Sofia, Ana Maria, Alegria, Maresia, Simpatia, pode ser tudo e mais alguma coisa mas mesmo sem saber o nome quero fazer no precário do momento que vivo e das palavras que uso, uma elegia breve a esta aparição em esplendor num dia de festa entre alunos e professores da Escola Industrial e Comercial de Vila Franca. A nossa memória não é pura porque incorpora sempre um aluvião de coisas passadas e, quarenta e oito anos depois da última aula, eu convoco a memória das mulheres-meninas da minha turma em 1966 plasmada numa fotografia a preto e branco, elas e eu com o Arnaldo e o «Paplicas», perto do Rio Tejo e de um barco areeiro, o «Gil Conde». Os Actos dos Apóstolos fazem uma adversativa solene («Não tenho prata nem ouro») lembrando que quem escreve para louvar tem apenas as palavras já poluídas pelo uso quotidiano. Mais tarde Carlos de Oliveira em «O aprendiz de feiticeiro» vai insistir - «Escrever é lavrar numa terra de escritores e camponeses abandonados». E eu, obscuro escriba, receoso, hesitante e tímido, lembro as minhas filhas Ana Maria e Marta, de 36 e 29 anos, a viverem no Reino Unido e na Austrália, cada vez mais longe de mim e da infância que é o tempo em que nem os beijos nem as lágrimas têm preço marcado. É tudo grátis. Escrevo devagar a elegia breve para uma mulher-menina cujo nome não conheço e até pode ser Maria, nome que, diz a lenda antiga, foi dado pelos primitivos homens atónitos e maravilhados à primeira mulher que saiu do mar – daí o nome «mar yam», gota do mar. Gota do mar, talvez porque ela trouxe ao salão da festa um mar de beleza em ondas sucessivas de simpatia, sempre que se aproximava das mesas com o seu sorriso de mulher-menina. --

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por José do Carmo Francisco às 09:27

Quinta-feira, 23.10.14

o quarto de joão garcia na rua da rosa

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O quarto de João Garcia fica aqui no primeiro andar do nº 204 da Rua da Rosa, a mesma rua onde nasceu Camilo Castelo Branco. Escrevo e digo fica porque embora João Garcia já não viva naqueles metros quadrados nem já espere cartas de Margarida ao domingo (naquele tempo havia correio ao domingo…) a verdade é que está tudo na mesma como quando Vitorino Nemésio por aqui passou entre 1919 e 1921, entre a vida militar nas Janelas Verdes e as reportagens no jornal A Pátria. A capelista da Rua da Rosa nº 200 que entra no romance «Mau tempo no canal» na página em que se recorda a criadita que deixou molhar o jornal quando veio da capelista, pois a capelista também continua. Hoje já não vende só jornais, figurinos, cadernos, agulhas e carrinhos de linha mas relógios, bonecos, perfumes, brinquedos, bilhetes-postais e CDs. Isto além de ter uma máquina de fotocópias. Mudou de dono por trespasse e hoje tem ao balcão um simpático senhor indiano que regista as lotarias, as raspadinhas e o euro milhões. Os gatos do tempo de João Garcia, quando o jovem militar açoriano subia do Rossio cheio de cafés onde os boatos escaldavam tanto como a bica, os gatos deram lugar aos cães. O peixe frito que João Garcia via sempre nas portas da Rua da Atalaia desapareceu para sempre. À noite, quando regresso a casa pelo Elevador da Glória e entro no Bairro Alto por aquele lado, olho sempre para o primeiro andar do nº 204 da Rua da Rosa. Então se está nevoeiro e choveu de mansinho ou se ouvi nesse dia um CD de Hélio Beirão com músicas da viola da terra, fico com a quase certeza que João Garcia continua ali no seu quarto à espera de uma carta de Margarida. --

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por José do Carmo Francisco às 08:38

Quarta-feira, 22.10.14

fala comovida para um guarda-redes na sombra

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Levanta os teus olhos para a luz que (embora amarga) é o único destino das tuas lágrimas depois de secas, depois de soltas pelo teu rosto, depois de convertidas em agricultura no perímetro da pequena área. A tua. Levanta-te e sai da sombra, sai do silêncio prolongado da nossa vida, depois da defesa feita em vão aos avançados da morte quando não foi mais possível segurar a bola na direcção da baliza que sozinho defendias. A tua. Levanta-te e volta as costas ao pó, ao sol e à chuva do lado do Oceano Atlântico nas tardes de Domingo. Tu sabes. È urgente ter as quotas em dia, pagar á lavadeira, pedir a quem possa costurar alguns números soltos nas camisolas: o quatro, o seis e o número um. O teu. Levanta-te e diz-me de novo tudo o que sabes sobre os jogos dos anos vinte, as manias do Zamora, o Roquete, o Casoto, o Cipriano dos Santos, as cambalhotas dos vencedores. Tu estás hoje do outro lado, na dificuldade em sair do lugar da derrota, do silêncio e da sombra. Levanta-te e vem à linha receber as instruções para a segunda parte que só agora começou: Pôr um boné por causa do sol, mudar de equipa e de lugar, trocar a morte pela vida. (a José Almeida Penas, meu avô materno, 1906-1979, o guarda-redes desta equipa) --

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por José do Carmo Francisco às 14:46

Terça-feira, 21.10.14

«sete coisas que eu cá sei» de vergílio alberto vieira

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Com o subtítulo de «Destravalínguas e adivinhas para suar as estopinhas», este livro destina-se ao público infanto-juvenil mas o seu autor é multifacetado e publica regularmente desde 1980. Poeta, contista, dramaturgo, cronista, tradutor, ensaísta e diarista, Vergílio Alberto Vieira (n. 1950) divide este livro em dois capítulos. Da página 11 à 35 surgem os «destravalínguas» sob o título genérico de «Quem diz sela diz cavalo». Da página 38 à 57 são dez as «adivinhas» em verso com o título de «Venho das ondas do mar» e cuja chave se apresenta no fim. O livro abre com «Ora agora digo eu»: «Do muito que há para dizer / O que mais custa é pensar / Tudo o que pode esquecer / Quando nos queremos lembrar / Um faz de conta que sabe / Outro, que anda esquecido / Que na ignorância tudo cabe / Quer achado, quer perdido / Digam lá, por este andar / Os sábios, a cada instante / Quem gosta, pois, de passar / Na vida por ignorante? / Se assim não fosse, jamais / Se diria por agora / Que o saber nunca é de mais / Quando tanto se ignora». As ilustrações de Maria João Lopes acompanham em termos gráficos a delicadeza, o humor e a ternura dos textos escritos. Mas só vendo o livro. Para dar uma ideia vejamos o caso do burro: «Por dá cá / aquela palha / foi um burro / a tribunal / por ter dito: / «Só é burro / quem trabalha / em Portugal!» /À barra / da Boa Hora / foi-lhe então / lida a sentença: / «Terá pensão / vitalícia./ Trabalhar / é uma doença.» Ou então a adivinha das sopas de cavalo cansado: «Que nome é que se há-de dar / Às sopas recomendadas / A quem não quer trabalhar / Por razões mal explicadas?» Fiquemos com a quinta quadra do poema inicial, uma espécie de «moral da história» que se sintetiza na expressão «o saber não ocupa lugar»: «Digam lá o que disserem / Os sábios a cada instante / São mais os que aprender querem / Que quem quer ser ignorante» (Editora: Planeta Manuscrito, Ilustrações e Capa: Maria João Lopes, Colecção: Planeta Júnior) --

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por José do Carmo Francisco às 15:34

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