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Transporte Sentimental



Quinta-feira, 28.08.14

j.h.borges martins (1947-2014) ou memória de um programa da ilha

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Soube ontem já a meio da noite da morte de Borges Martins, o poeta da Rua 5 de Outubro nº92. Soube através de «Email» do escritor Álamo Oliveira. Tenho tudo em caixotes (livros, revistas, jornais) mas consegui resgatar um poema que escolhi para o livro «O Trabalho – antologia poética» de 1985, edição dos Sindicatos dos Bancários do Sul e Ilhas, do Norte e do Centro. Os meus colegas de organização foram Joaquim Pessoa e Armando Cerqueira. Escrevemos com o sonho ingénuo de não morrer, por isso se justifica visitar um poema de Borges Martins neste dia da sua morte. Aqui vai «Programa da Ilha»: Esta rua que os homens engrenaram (sem ferramentas) / apenas com pedais de sangue e parafusos de vento. Hoje cancelaram o sol no estaleiro da ilha./ Tudo sabe a sal caiado de cinzento. Fazemos parte integrante da mecânica da sociedade. / Meteram reatores de mercúrio nos pulmões e quase avariaram o porto. É por isso que as aves fazem a sua vida ao mar livre: não fritam batatas não bebem uísque nem jogam ao totobola. Pelo contrário: caçam mariscos e dejetam como as pessoas grandes. O vapor de água é muito bom para medicamentos de homeopatia. Esta é a mecânica dos membros avariados da cidade. Assistimos ao festival inútil dos candeeiros de gás e dos pobres em reclamos para blasfemar a mensagem das folhas amarelas e peixes de cauda magnética a anunciar a greve dos pescadores que adormeceram no fundo revolto dos copos. Não há engrenagens de sangue nem parafusos de vento por isso nascem e morrem os deuses de costas.» --

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por José do Carmo Francisco às 10:02


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