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Domingo, 03.08.14
«os memoráveis» de lídia jorge
A ficha técnica deste livro abre com a advertência: «Os Memoráveis é uma obra de ficção.» Ou seja: «Embora partindo de acontecimentos e personagens reais, trata-se de uma transfiguração literária e, como tal, deve ser considerada para todos os efeitos.» Toda a literatura engloba duas componentes: o sangue pisado e o estilo. Depois de «O dia dos prodígios» de 1980, Lídia Jorge (n.1946) utiliza uma curiosa técnica de abordagem à realidade do dia 25 de Abril de 1974. Neste livro a geografia da cidade de Lisboa mostra uma Avenida da Guerra Peninsular que não existe, uma Sampaio Pina por Sampaio e Pina, uma Rua da Boavista junto ao Quelhas, uma rua D. João V no lugar da rua D. Pedro V, uma Ópera em vez dum Teatro de São Carlos, os curros do Aljube na António Maria Cardoso, uma Rua que ora é da Misericórdia ora é do Mundo e a referência ao tostão já no tempo do Euro. O próprio título deriva do nome do restaurante Memories que nunca surge em itálico nem com o nome de Gambrinus. O uso das palavras, seu peso e sua grafia, mostram neste livro um sentido ora do arcaico ora do moderno: envelopes por sobrescritos, sua por vossa excelência, chefe Maior por chefe do Estado Maior, demais por de mais, aparatos por equipamentos, morraça por escória, oliva por azeitona, esgarrão por remoinho, aposentação por reforma, Pide por PIDE, faculdade por Faculdade, questões por perguntas, humanidade por Humanidade. Quanto ao sangue pisado temos um ponto de partida insólito: em 15-2-2004, 30 anos depois do 25 de Abril, uma cadeia americana de TV prepara um programa – «A História acordada» mas a escrita das andanças dessa reportagem só será concluída em 2010, seis anos depois. O convite para o trabalho jornalístico nasce do desmontar de uma impostura: «A Terra é plana e a História é redonda». Ao mesmo tempo outra mentira entra no discurso do antigo embaixador dor EUA em Portugal sobre a sensatez do Povo de Portugal que no fim de insultos e prisões não se mata entre si. Mas houver mortos à porta da PIDE em 25-4-1974. A reportagem começa com uma foto datada de 21-8-1975 e uma legenda em francês da mãe da jornalista «Tendo sido todos nous muito felices. E nous, lá estavamos». O tempo é o da Revolução: «Toda a revolução é uma grande alegria que anuncia uma grande tristeza». São cinco as perguntas feitas aos homens da foto: «Onde estavam? O que sentiram na altura? Que balanço fazem agora, passados trinta anos? Qual a melhor imagem que guardam de tudo o que aconteceu? E você mesmo, quanto ganhou com isso?».O trabalho da jornalista não é fácil («encontrar nas pedras da calçada o resto daquela metralha») na procura do resultado: «mais importante do que a verdade é a beleza». Nesta peregrinação surgem coincidências («são as impressões digitais de Deus nesta vida sem Deus») e inesperadas revelações: «o meu marido dizia que havia uma proporção entre o tempo que se passa sem liberdade e o tempo que se demora a aprender a viver em liberdade.» Em paralelo à reportagem com as figuras da foto de 21-8-1975, o pai de Ana Machado, que também é jornalista e está na fotografia com os protagonistas militares, vai-se retirando da vida. Deixa de escrever no seu jornal, deixa de pagar em casa as contas da água e da luz porque se sente exilado no seu país: queria Democracia e só tem eleições. (Editora: Dom Quixote, Capa: Rui Garrido, Foto: João Pedro Marnoto, Revisão: Clara Boléo) --
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José do Carmo Francisco
às 09:43
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