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Transporte Sentimental



Sábado, 14.06.14

dissertação para uma fotografia de antónio capela

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Esta fotografia é apenas um ponto de partida. Foi tirada no Estádio José Alvalade por António Capela a uma guarda-redes do futebol feminino do Sporting Clube de Portugal. Não sei o ano mas posso presumir uma data provável – 27 de Janeiro de 1992. Porque nesse dia se disputou um jogo em que as «leoas» defrontaram um clube que equipava de meia vermelha e camisolas de riscas verticais brancas e vermelhas. Esta fotografia tem o esplendor imediato do sorriso da jogadora mas também a força do símbolo das redes e das rendas. A vida é um mistério; não é um negócio. É nas comunidades piscatórias que mais se desenvolveu a renda de bilros e todas as outras rendas nascidas do talento e da paciência das mulheres dos pescadores quando os aguardam à porta de casa e desenham na renda a miniatura da rede. Nesse jogo de 27 de Janeiro de 1992 já não recordo o resultado mas não esqueço o frio da manhã, os kispos e os anorakes de muitos e o sobretudo de alguns espectadores mais velhos. E as boinas, claro, as boinas inevitáveis na manhã fria dos cerca de cinquenta espectadores naquela bancada ao lado do pavilhão do hóquei-em-patins. O pelado onde o jogo se realizou já não existe, o pavilhão desapareceu, os espectadores desse jogo envelheceram e alguns terão mesmo morrido, passou muito tempo, afinal vinte e dois anos é uma geração. Quem sabe se no fim desse jogo disputado num pelado inóspito frente à porta «10A» não terá sido o António Capela a sugerir a ida da jogadora ao relvado principal para uma fotografia com mais estilo do que a simples foto de uma jogada na pequena área? Assim o sorriso ganhou outro peso, outra dimensão, outra densidade e as redes podem melhor lembrar as rendas das mulheres dos pescadores. A vida é um mistério; não é um negócio. E ainda bem. --

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por José do Carmo Francisco às 16:52

Sábado, 14.06.14

mundial 66 - algumas notas já publicadas na revista «sábado»

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1966 - Nada acontece por acaso No futebol como em tudo na vida, há antecedentes e consequências. Em 1966 o campeão nacional foi o SCP e o vencedor da Taça de Portugal foi o Braga. Tal situação criou nos jogadores do SLB uma ausência de pressão, tendo os atletas «encarnados» surgido libertos e frescos no início da campanha de Inglaterra. O brilharete do 3º lugar português no Mundial de 1966 foi antecedido pela vitória do SCP na Taça das Taças de 1964 e pelas vitórias do SLB na Taça dos Campeões Europeus em 1962 e 1963. CCCP – Camaradas cuidado com Portugal! A sigla usada nas camisolas dos jogadores soviéticos em 1966 não era a que muita gente esperava ver – URSS – mas sim CCCP, sigla para muitos totalmente nova porque organizada a partir do alfabeto cirílico. Os rapazes que passavam o dia nos cafés e esplanadas de Lisboa e que se entretinham a inventar piadas logo descobriram essa do «camaradas cuidado com Portugal» para as camisolas dos soviéticos. Já antes tinham inventado a frase «Salazar envia militares para Angola» como decifração de SEMPA cujo verdadeiro nome era «Sociedade de empacotamento automático de açúcar». O reverso era «Angola pede matem esse sacana» porque se estava no tempo da frase «Para Angola, rapidamente e em força!». Os pacotes de açúcar eram uma novidade e vieram acabar com os açucareiros que as pessoas usavam nos cafés sem qualquer controle. Jogos 66 - A súbita mudança de Liverpool para Londres Ainda hoje passados 48 anos está por esclarecer a mudança súbita do «quartel-general» português de Manchester para Londres, de um hotel sossegado para o bulício da grande cidade que era também a casa da esquipa inglesa. Há quem diga que, tal como nos contratos de hoje, havia umas letrinhas pequeninas no regulamento da prova em 1966 a permitir à Comissão Organizadora da Taça Jules Rimet distribuir os jogos da fase final como muito bem entendesse. A má notícia chegou num «telex» ao hotel e obrigou os portugueses a fazer de novo as malas, andar 400 quilómetros de comboio mais o autocarro para o hotel em Londres. Seja como for os jogos estavam previstos para Liverpool (Portugal-Inglaterra) e para Londres (URSS-RFA) mas os organizadores lá organizaram tudo para que a Inglaterra ganhasse o campeonato. Como ganhou graças ao erro crasso de um árbitro que já antes tinha «arranjado» um golo ao SLB na final da Taça dos Campeões com o Barcelona em 1961. Um suíço, Dienst. Joaquim Campos – nem tudo forma rosas em Londres O árbitro internacional Joaquim Campos estreou-se em 1958 na Suécia num Alemanha-Irlanda do Norte. Tinha 34 anos e agradou. No ano seguinte apitou em Wembley o clássico Inlgaterra - Escócia. Em 1966 foi fiscal-de-linha no França-México, no Alemanha-Argentina e no URSS -Hungria. Arbitrou o Argentina-Suíça em Sheffield com vitória dos argentinos por 2-0. Anos depois Joaquim Campos soube da existência de um livro publicado por Tofik Bakhramov, seu fiscal de linha no Argentina-Suíça. No livro o árbitro acusa Joaquim Campos de beber whisky de um frasco que trazia no bolso. Fez diligências junto da FIFA mas ficou tudo em águas de bacalhau. Um aspecto negativo da campanha dos árbitros tem a ver com o facto de ao chegarem ao hotel depois das dez da noite já não havia jantar para os árbitros. Uma bolsa com sanduíches e fruta, dada mais tarde, não resolvia o problema. Outro aspecto – num passeio ao Tamisa os árbitros foram obrigados a andar a pé até ao cais de embarque, tanto na ida como na volta. José Pereira – desaparecido no nevoeiro de Barcelona José Pereira foi, depois de Carvalho do SCP no Portugal-Hungria, o guarda-redes titular da selecção portuguesa nos restantes jogos da campanha do Mundial 66 mas ninguém sabe dele. Fernando Capitão, correspondente do jornal «Record» na Catalunha andou anos à sua procura mas sem resultado. Dizem que casou com uma senhora de Barcelona e que, por isso, não está registado na embaixada portuguesa, dizem que se exilou e se isolou de tudo e de todos de Portugal. Será uma espécie de «Frei Luís de Sousa» moderno. A lesão de Pelé – afinal não foi «cassado» como escrevem alguns brasileiros No dia 12-7-1966 a equipa do Brasil defrontou e venceu por 2-0 a Bulgária mas Voutsov atingiu Pelé com uma entrada violenta. No dia 15-7-1966 contra a Hungria Tostão rendeu Pelé mas no dia 19-7-1966 contra Portugal o técnico Vicente Feola decidiu arriscar e colocou Pelé a jogar sem condições além de ter feito entrar na equipa um grande número de jogadores nunca antes utilizados: Manga, Fidelis, Brito, Orlando, Rildo, Silva e Paraná. Foi um risco demasiado elevado, o resultado só podia ser um desastre: Portugal, 3 – Brasil, 1 com 2-0 ao intervalo. 1986 – a maldição de Saltillo A campanha de 1986 começou com uma classificação algo inesperada – Portugal venceu a RFA em Estugarda no dia 16-10-1985 com um golo de Carlos Manuel. Quase em cima da hora da partida surgiu o nome de dois jogadores a entrarem na comitiva - Jaime Magalhães e Sobrinho. E também o árbitro Carlos Valente. Nas vésperas do embarque sai Veloso e entra Bandeirinha mas é a bronca de Saltillo que dá côr ao Mundial de 1986. A imagem das reivindicações dos jogadores correu mundo mais do que os resultados – vitória sobre a Inglaterra e derrotas com a Polónia e Marrocos. Hoje sabe-se que Jordão, Mário Jorge e Manuel Fernandes (só o melhor marcador do campeonato!) poderiam ter dado outro futebol em Saltillo. Mas nunca se saberá ao certo porque a História não anda para trás. --

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por José do Carmo Francisco às 08:42


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