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Transporte Sentimental



Quarta-feira, 30.04.14

«lâmina» de jaime rocha

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O título do livro contém em si variadas significações. Desde logo a vida com a música (suas lâminas) e os retratos, pinturas e orações mas também a morte (espadas) sem esquecer a botânica e a anatomia. Aqui se reúnem poemas já publicados em antologias, jornais e revistas entre 1990 e 2013, resgatando do relativo efémero um conjunto de poesias a ganhar vida nova neste volume. Uma parte substancial desta recolha são poemas dedicados a poetas e artistas cuja vida civil acabou mas que continuam na memória do Poeta: Fiama, Sophia, Ruy Belo, António Ramos Rosa, Mário Cesariny, Sylvia Plath e Elisabeth Siddal. Estas figuras, o seu legado e o discurso por si motivado ajudam a fixar aquilo que se pode considerar a paisagem e o povoamento deste livro: «E o mesmo poeta escreveu que a paisagem se tornou silenciosa /porque estamos infinitamente mortos / sobre um fundo dourado». O ponto de partida desta recolha rigorosa entre tanto material disponível é dado no espanto do homem: «o soluço do homem / em frente do seu próprio rosto». De um lado temos a cidade («Uma cidade perdida entre os telhados com uma estrada de fogo a cortar-lhe os braços»), do outro lado temos o homem na cidade: «Porque o homem pertence a um mundo / desfeito e a sua alma é puxada para / um abismo por duas cordas gigantes / presas ao seu corpo.» Entre a cidade e o homem, um rio sujo com mais de duzentos peixes mortos: «Esse rio existe nas ruínas, não está desenhado / num livro. Os corvos que lá vão também existem / porque bebem a água todas as manhãs. E isso / é um alimento sedutor. Alguém escreveu a tinta / junto à árvore do canto mais antigo das ruínas. / É onde antes iam mulheres lavar a roupa / e se banhavam mergulhando com os corvos / quase sempre para nunca mais voltar.»

(Editora: Língua Morta) José do Carmo Francisco --

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por José do Carmo Francisco às 10:20

Domingo, 27.04.14

uma antologia do porto - vasco graça moura (1942-2014)

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Por um destes acasos tenebrosos da pequena história quotidiana de cada um de nós, só hoje, dia 27-4-2014, descobri este livro de Vasco Graça Moura (1942-2014) que deveria ter aqui recenseado em Janeiro. Estava afinal junto ao volume colectivo «a vista desarmada – o tempo largo», uma antologia de 34 poetas de homenagem ao Poeta numa edição da Quetzal. O título deste livro está na página 60 e acaba por ser o nome ideal para uma antologia poética, logo pessoal: «visto da margem sul do rio o porto não explode / sob a tarde de verão. A água reflecte / renques de casario humilde a encastelar-se / irregular em ocres e granito, manchas, vãos, recantos.» Mas a abordagem do Porto cidade não se fica pela paisagem («as résteas do sol morrendo / por sobre os renques de espuma / nos mirantes da foz velha / e no granito das ruas») e vai até à memórias das palavras: «falando de arte moderna as pessoas diziam «picassadas» / e havia outras palavras, «bodega», «chuchadeira» que a gente aos quinze anos ainda ouvia em casa». Os poemas do livro oscilam entre a vida («esta manhã na foz, onde eu nasci, o mar da cor do chumbo / mugia contra o molhe») e a morte: «o meu pai está em leça da palmeira, lá perto do farol da boa nova / num cemitério varrido pela nortada e pelo cheiro a maresia, não longe do lugar onde nasceu, numa casa depois demolida para as obras de leixões.» A Literatura, forma precária da rejeição do efémero, surge como memória de alegria («era um livro pequeno, a catorze de fevereiro / quando num sobressalto fui buscá-lo ao tipógrafo e o levei à livraria») mas também como um lúcido legado ao futuro: «sempre esperei das letras o que elas não podiam dar-me / até desesperar e então deram-me tudo, mais ou menos tudo / insensatamente: os ácidos, os gumes, as minhas dinamenes, / os ângulos agudos. Citei vezes abundantes os meus mestres / trinta anos de os pastar, bem os servi e fui discreto.» (Editora: Modo de Ler, Prefácio: Gaspar Martins Pereira, Aguarelas: António Cruz, Fotografias: Maria Manuela Graça Moura, Foto do autor: João Menéres, Design: Rui Mendonça) José do Carmo Francisco --

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por José do Carmo Francisco às 17:59

Sábado, 26.04.14

novas leituras de 2009 - camilo castelo branco

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Trata-se de uma miscelânea literária («vou ao jazigo das minhas ilusões») dispersa numa série de livros entretanto reunidos em volume. A crítica («Morte de D. João»), a polémica (Teófilo Braga), a incursão na História (Egas Moniz), a novela («Aquela casa triste»), a opinião sobre os jornais: «A imprensa diária tem olheiros que superintendem em estupros, facadas, roubos e incestos mas a alçada destes espias não chega até ao esquife do defunto sem testamento». Mesmo nos lapsos, Camilo consegue fazer humor: «já escrevi a necrologia de um que, por sinal, estava vivo e nem sequer me agradeceu com um bilhete-de-visita, ser eu a única pessoa de Portugal que lhe ajuntou ao nome esquecido quatro palavras de saudade e dó». Sobre a situação política de 1874 vejamos esta nota: «A abstenção política é mais do que a morte: é a indiferença pelos males sociais, é a história deste torpe individualismo que nos corrompe, é a gangrena moral desta sociedade em dissolução, é a anasarca sintomática da lesão orgânica que despedaça a nossa existência, é o maior de todos os crimes porque é uma tranquilidade fictícia, comprada à custa dos legados que nós íamos entesourando para as gerações futuras. A democracia agoniza nos século dezanove quando desabrochava e se abria em flor na árvore que nós todos plantámos, regada com o sangue precioso de tantos mártires, em nome dos quais deviam colher e adorar no futuro o fruto dos nossos trabalhos.» Mesmo na simples miscelânea, Camilo está presente com a sua força de grande escritor. (Editora: Bonecos Rebeldes, Capa: Fernando Martins, Revisão: António Bárcia) José do Carmo Francisco --

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por José do Carmo Francisco às 11:08

Sexta-feira, 25.04.14

maria teresa do carmo mourão no clube dos autores de livros

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No passado dia 13 de Abril de 2014, um domingo à tarde, no meio de uma euforia legítima, transbordante e merecida, a minha sobrinha Maria Teresa do Carmo Mourão (n.1984) entrou no pequeno clube familiar de autores de livros. Trata-se do quarto elemento. Que chegue em boa hora! O primeiro da lista fui eu (n.1951) que vi editado o meu livro de estreia em 1981 («Iniciais») pela Moraes Editores. A segunda foi a minha filha Ana Maria (n.1978) cujo primeiro título de micro-narrativas é de 2003 («Personagens para um lugar memorável») e foi divulgado pela Black Sun Edições. O terceiro foi o meu filho Filipe (n.1981) com o seu primeiro volume (a partir da tese de mestrado em História) publicado pela Editora Tribuna da História - «O primeiro Marquês de Alorna». Um dia li que «se as gerações não se sucedessem umas às outras a vida seria o esplendor do desespero». Isto ou algo parecido. Sendo a minha sobrinha co-autora de um livro sobre cuidados paliativos logo, por ironia do destino, foi o volume lançado no dia em que fazia 19 anos da morte (civil) da sua avó e minha mãe – Olímpia do Carmo Almeida (1929-1995).Em 1995 os cuidados paliativos eram ainda uma miragem, as pessoas nos Lares e Casas de Repouso faziam o melhor que sabiam e podiam. Se fosse hoje as condições seriam outras e o sofrimento seria menos atroz. Mas porque só a vida pode ser resposta à morte aqui está, 19 anos depois a minha querida sobrinha a escrever um capítulo de um livro sobre cuidados paliativos que tanta falta fizeram de modo sistemático em 1995 à minha querida mãe. Uma última coincidência: esta crónica de júbilo entre lágrimas como é tudo na vida, tem o número 1025 hoje que passa o dia 25 de Abril, quarenta anos depois do dia «inicial, inteiro e limpo» como escreveu Sophia de Mello Breyner Andresen. José do Carmo Francisco --

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por José do Carmo Francisco às 10:50

Quinta-feira, 24.04.14

reabilitação em cuidados paliativos - ana costa e marília othero

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Partindo da definição da Organização Mundial de Saúde sobre cuidados paliativos («conjunto de medidas destinadas a promover qualidade de vida para doentes e familiares que enfrentam uma doença ameaçadora da vida»),este livro de 381 páginas constitui-se como um autêntico manual de consulta permanente na sua área de actividade. Integra o trabalho de duas coordenadoras (a portuguesa Ana Costa e a brasileira Marília Othero) além de 24 participações de autores/as portugueses/as e de 35 autores/as brasileiros/as. A história mostra que os chamados cuidados paliativos actuais são os herdeiros dos antigos «hospice» ingleses (hospedarias abrigo) onde peregrinos e viajantes eram recebidos e cuidados a meio das suas viagens e peregrinações pelo país na Idade Média. Nos anos 60 do século XX surge no Reino Unido o St. Christopher Hospice, fundado pela médica Cecily Saunders. Na década de 70, Elisabeth Kubler-Ross, uma médica psiquiatra suíça, cria um «hospice» semelhante na cidade americana de Connecticut. Estava lançada a semente dos modernos cuidados paliativos. Segundo o prefácio da médica Isabel Galriça Neto que citamos com a devida vénia «esta obra sistematiza com rigor aspectos tantas vezes dispersos e vagos, aborda detalhes importantes de uma prática que quer ser rigorosa e apresenta experiências de trabalho concretas que, ainda que com algumas peculiaridades, partilham o mesmo objectivo: melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Recomendamos a leitura desta obra.» (Editora: Lusodidacta, Capa: Cláudia Costa, Prefácio: Isabel Galriça Neto) --

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por José do Carmo Francisco às 15:54

Quarta-feira, 23.04.14

crónica na pátria da chuva - à maneira de fernando alves

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Na varanda da casa das três meninas, o olhar de Paula suspende o tempo. É a mulher-menina no seu esplendor. Entre Ana e Margarida, o sorriso sereno de Paula faz, na tarde a declinar entre a campina e a serra, o que só um poema pode fazer: anular o presente porque alcança ser duas coisas. Ou sonho ou saudade. Sonho do futuro, saudade do passado. Sonho no olhar de mulher, saudade na voz de menina. No meio da pátria da chuva, o olhar de Paula respira um tempo que mistura a luz feliz da infância com as nuvens escuras do porvir. Sobe da terra, minutos depois do fim dos aguaceiros, uma placa escura de dúvidas sobre o dia de amanhã, os nomes das primas e das amigas da Faculdade que emigraram à procura de pão menos incerto e mais seguro seja na Grâ Bretanha ou na Austrália, seja nas Franças e Araganças onde foram parar. O sino da capela dá as horas da tarde mas não está ninguém para as receber. A vida não pára: o pastor saiu de manhã com os animais, Margarida acelera para Vila Velha, Ana foi a Évora, a mãe organiza o sabor e a paciência dos queijos, o pai desce vagaroso do tractor com abóboras entre o pó da terra e o óleo negro da máquina. Na varanda da casa das três meninas, o olhar de Paula é a mais inesperada vírgula na tarde. A tristeza, a melancolia e as sombras surgem no horizonte sem causa definida. Como as linhas invisíveis de uma música triste, uma velha pauta esquecida, uma canção levada pelo vento, uma alegria abreviada pelo peso do quotidiano e suas solicitações. A vida é um mistério. Nunca saberemos, no meio da pátria da chuva, quais os limites do sorriso e da tristeza no olhar de Paula. Qual a força serena que, nesta foto, está a empurrar Paula, na esquina dos dias, entre a cinza da morte e a luz da vida. José do Carmo Francisco --

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por José do Carmo Francisco às 19:59

Quarta-feira, 23.04.14

novas leituras de 2009 - fernando botto semedo

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A partir de uma citação de João Rui de Sousa («Azul é quando um homem se ultrapassa») e de uma dedicatória («para o avô Diogo»), organiza-se este volume de poemas. O ponto de partida é a infância: «Na minha infância já escrevia poemas sem o saber: / era a minha surpresa perante tudo novo / a cada dia era o meu sonho, a minha dor / o meu afastamento da realidade como hoje». O ponto de passagem é a alma: «A minha alma é um sol de lágrimas puras / bailando pelos campos de uma Primavera eterna / onde todos os seres mortos ressurgem, límpidos / aos olhos das papoilas brancas que existem / quebradas de dor em nuvens / de uma música simples e irreal / onde coloquei o meu primeiro poema, rasgado (…)» O ponto de chegada é o amor: «Doem-me estes poemas tão pobres, tão humildes / eles são a minha mais pura alegria na casa / da dor e do absurdo e trazem sempre consigo / todas as namoradas que perdi quando caí / por todos os abismos pelos quais tento transpor-me» Só assim poderá concluir: «Planto aqui um poema humílimo. / Sou o poeta feliz que desde sempre criança foi / em chama de água, em coração de vigília». Depois de «Poemas simples» e «Poemas de um livro rasgado» de 2007, este «Chama de água» confirma a coerência dum trajecto poético iniciado em 1982 com «Ágoas Livres» (Capa: Fernando Botto Semedo, Execução Gráfica: Gráfica 2000) José do Carmo Francisco --

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por José do Carmo Francisco às 14:30

Sábado, 19.04.14

um português numa reportagem de gabriel garcía márquez

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Entre 1957 e 1959 Gabriel García Márquez foi jornalista numa época e numa circunstância que ele próprio definiu numa frase certeira «Eu era jovem, feliz e indocumentado». Autor de contos, novelas e romances, Prémio Nobel da Literatura em 1982, interessa-me sublinhar a sua ligação ao jornalismo que já vem de 21-5-1948 quando começou no jornal «El Universal» de Cartagena. Por isso o volume «I» da sua «obra jornalística» tem o título de «Textos costeños». Em «Estos ojos vieron 7 sicilianos muertos» que ocupa as páginas 149 a 157 deste livro GGM relata as desventuras dum certo tempo na Venezuela quando no dia 25-2-1955 desapareceram quatro emigrantes sicilianos. Seguiram-se outros três e por fim, como escreve GGM - «Era como si los siete italianos se los hubiera tragado la tierra». E o tempo da Venezuela em 1955 era um tempo de bufos, de delatores, de informadores (dizia-se que só em Caracas eram 5 mil) mas também do chamado «sexteto da morte» que fazia «serviços» para a SN – Seguridad Nacional, a polícia política de Pedro Estrada. No relato de GGM surge uma mulher italiana Ada Di Tomaso (dona de uma agência de Turismo) e seu marido o «obscuro português Angiolino Apolinário. O coronel Oscar Tamayo Suarez organiza uma equipa de gente boa no gatilho com a ideia de assassinar Marcos Pérez Jiménez por 400 mil bolívares. Afinal o «complot» contra esse homem era, na verdade, uma farsa e os sicilianos foram todos liquidados. O tal português Apolinário abandonou a Venezuela em condições pouco claras. Sua mulher, a italiana Ada Di Tomaso, desapareceu 24 horas depois de ter sido ouvida por um «juiz de instrucção» em Caracas. O redactor do jornal italiano da Venezuela («Voce d´Italia»)foi aconselhado a «não caminhar sobre dinamite». E o caso ficou por ali. José do Carmo Francisco --

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por José do Carmo Francisco às 17:57

Quinta-feira, 17.04.14

crónica para manuel sequeira . júlio césar machado e as gralhas

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Não sou nem nunca fui dos que dizem bem do antigamente. No vertiginoso tempo que tenho vivido desde 1951 até quando Deus quiser, posso testemunhar o progresso que veio alterar a vida dos jornalistas e sempre para melhor. Hoje pode escrever-se uma crónica e segundos depois, graças ao «Email», ela está pronta a ser publicada na Inglaterra, no Brasil, nos EUA ou na Austrália. Quando em 1978 comecei a colaborar nas páginas de quinta-feira do «Diário Popular», havia nas suas oficinas um mar de gritos, homens nervosos, chumbo e granéis. Quando o meu primeiro livro («Iniciais») foi publicado pela Moraes Editora em 1981 a composição era a chumbo e os homens da tipografia usavam batas azuis porque brancas nem pensar… Mas vamos aos factos. Descobri hoje um livro antigo (sem data) de Júlio César Machado. Seu título é «Salvador e Madalena» embora inclua também dois textos - «O chá» e «Duas músicas». Trata-se do volume 37 da «Pequena antologia de Obras-Primas», o preço era de 4 escudos, a capa de Bernardo Marques e a direcção literária de Manuel do Nascimento. Tudo muito bonito mas no melhor pano cai a nódoa. Na apresentação lê-se «Júlio César Machado nasceu no dia 1 de Outubro de 1858» mas ao lado pode ler-se que o seu primeiro livro («Cláudio») é de 1852 e assim um dos dois está completamente errado. Para tirar possíveis dúvidas procuro um livro de Vítor Wladimiro Ferreira («Júlio César Machado – estórias e paparocas») uma edição do Museu Municipal do Bombarral. Nas suas páginas confirmo a data certo do nascimento do nosso «petit Machado» - ano de 1835. Como morreu em 1890 viveu apenas 55 anos. Tão breve a vida para tão grande talento. É o grande escritor do Oeste. Pouco lido embora. --

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por José do Carmo Francisco às 12:25

Terça-feira, 15.04.14

do auto da páscoa 2014 à memória da sexta-feira de 1995

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Faz agora 19 anos que o dia 13 de Abril calhou a uma Sexta-feira Santa, o tempo voa, parece que foi ontem mas já passaram tantos anos no registo civil. Morreu minha mãe nesse dia mas as mães não morrem mesmo quando estão mortas e recordo a propósito um verso terrível de Hélder Macedo: «Agora os filhos da morta já não são irmãos». O contexto é outro mas a realidade não perdoa e o que me custa mais nesta minha aventura de viver é a morte de quem me deu a vida. Adiante que o tempo é curto e há muito para contar. Pois estava eu na emoção de mais um ano de memórias daqueles dias negros de Abril de 1995, daqueles sinos da torre da nossa igreja em toques dobrados pelo luto, daquele som que parece uma lágrima sonora colectiva e social, chorada por uma aldeia inteira num sábado à tarde, num sábado santo, quando um jogo do acaso me colocou à porta da igreja de São Roque em Lisboa. Era uma missa com Kyrie, Credo, Sanctus e Agnus Dei mas não uma missa como as outras. Composta pelo maestro argentino Daniel Schvetz e interpretada pelo Coro de Câmara de Lisboa dirigido por Teresita Gutierrez Marques ao lado de um grupo musical de primeira água (Ana Pereira, Ana Filipa Serrão, Joana Cipriano, Ana Cláudia Serrão, Pedro Wallenstein e Pedro Santos) esta missa especial de homenagem ao Papa Francisco criou no meu espírito uma sensação de plenitude, como se de repente a minha mãe ali estivesse a ouvir e a vibrar com a massa sonora levantada pelas vozes e pelos instrumentos musicais habilmente combinados entre si. Termino com uma conclusão, provisória como todas as conclusões. A vida é um mistério, não é um negócio. Tudo isto não pode ser comprado nem vendido, só pode ser vivido e contado mesmo correndo o risco de não ser fácil de entender.
José do Carmo Francisco --

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por José do Carmo Francisco às 22:15

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