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Transporte Sentimental



Quarta-feira, 11.09.13

do campo de santana ao rossio - alguns trajectos possíveis

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Comecemos pelo princípio, o Campo e a Cidade: Trindade Coelho (1861-1908) escreveu em 1891 que «Lisboa não é terra de ninguém. Os que são de cá não têm terra. A rua é de todos e não é de ninguém». José Cardoso Pires (1925-1998) em «Lisboa livro de bordo» refere o Campo de Santana e o «santo» Sousa Martins (1843-1897) que, tendo sido um ateu em vida, «transitou, contra a vontade, da heresia para a santidade.» O Campo de Santana começou por ser Campo do Curral por efeito da «carniçaria» (hoje matadouro) que foi criada no Largo do Mastro em 1461. A actividade deu origem às salgadeiras, mulheres que salgavam as tripas dos animais mortos. Havia vazadouros públicos, hoje lixeiras. Era uma colina com pouca gente, algumas capelas, poucas ermidas e um convento. Em 1551 Santana era uma arrabalde integrado na freguesia de S. Justa tendo a paróquia sido criada em 1569 pelo cardeal D. Henrique que a separou da mesma S. Justa. O nome da igreja foi mudado para Senhora da Pena em 1705. A freguesia civil da Pena foi criada em 1742. O nosso ponto de encontro é o Largo do Mitelo, conhecido em tempos como «sítio das casas nobres» por oposição aos casebres dos trabalhadores do matadouro. O nome vem de um desembargador de nome Alexandre Metelo em 1737 e Mitelo é sua corruptela. O palácio teve vários ocupantes ao longo do tempo e um deles foi o farmacêutico que ensinou o praticante Fialho de Almeida entre 1871 e 1880. Em 1941 o edifício foi adquirido pelo Instituto Superior de Serviço Social. Quase ao lado fica o Posto Geodésico da Escola de Guerra e a Torre com um relógio antigo. D. Catarina de Bragança (1638-1705) foi rainha de Inglaterra entre 1662 e 1685 mas depois de ficar viúva do rei inglês veio por terra para Portugal em 1693 e mandou em 1694 (e não 1649 como por lapso se indica no livro de Norberto de Araújo) construir este palácio onde muitos cadetes da Academia Militar fazem seus casamentos com sabres e guarda de honra. Aqui ao lado existe o Pátio do Costa: simpático, pequenino e sossegado. No local do Arco de Santana está hoje a Faculdade de Ciências Médicas, formando clínicos em competição com os da Faculdade de Medicina em S. Maria. Diziam os médicos dos Hospitais Civis com quem convivi na vida militar que, para eles, o doente estava em primeiro lugar; não o médico, a sua vida e a sua carreira. Vasco Santana ali passou com distinção mas tudo começou com a célebre frase dita por um preto: «Vou para este exame completamente em branco!». Piadas de Parque Mayer que até fica perto. A hoje Rua de Gomes Freire chamava-se Carreira dos Cavalos pois por aí vinham para Lisboa cavalos, touros e carroças. A Feira da Ladra antes de ir para Santa Clara esteve no jardim do Campo de Santana entre 1835 e 1882. As touradas aqui eram animadas pelo Conde Vimioso, por D. João de Meneses e pela preta Cartuxa que anunciava as festas taurinas em tipóia no meio de barulho e escárnio. Tinha uma língua viperina, parece. Inaugurada em 1831, a praça de touros local foi demolida em 1891 para dar lugar à do Campo Pequeno em 1892. Os Mártires da Pátria que dão desde 1880 nome oficial ao Campo de Santana, foram os heróis da conjura de 1817, 13 dos quais aqui foram enforcados e o mais famoso dos quais é Gomes Freire de Andrade. Ao lado do desactivado Palácio do Patriarcado, existe o prédio da antiga Faculdade de Direito, criada em 1913 sendo o seu primeiro director do Dr. Afonso Costa. Ao lado funciona o Goethe Institut onde Curt Meyer Clason deixou saudades. Já foi Legação e Embaixada Alemã em Lisboa no tempo dos Kaiser. Seguimos para o Torel, espaço que deve o nome ao desembargador Cunha Thorel. Torel é o jardim/miradouro que a CML fez em 1928 por Quirino da Fonseca como Torel era o nome dos Serviços de Investigação Criminal em 1927. Por lá passaram os «vadios, mendigos e equiparados». Dois casos: Mário Cesariny e Pepe. Mário Cesariny tinha apresentações semanais na Polícia pois foi apanhado nos urinóis metálicos de lisboa (as vespesianas) a engatar marujos. «O marujo das cinco já cá canta!» chegou ele a dizer aos amigos do Café Gelo às seis da tarde. Ele odiava o sistema que o oprimia por isso, como dizia Luís Pacheco, na sua poesia havia muito ódio que é o contrário do amor. Para o Mário a «Salve Rainha» era um dos grandes poemas da Humanidade, feliz contradição num homem de contradições. O caso de Pepe, jogador famoso de Os Belenenses, morto com apenas 23 anos de idade foi resolvido pela Polícia de modo discreto. Descobriu-se que foi a mãe do jogador que usava lentes bem grossas a enganar-se na cozinha colocando na sopa de grão-de-bico potassa em vez de borato de soda. O processo foi arquivado para evitar um segundo desgosto à senhora. A seguir ao Torel desce-se para a casa onde viveu Venceslau de Moares (1854-1929) um grande escritor português apaixonado pelo Japão e suas gentes. Sobe-se ao Elevador do Lavra inaugurado em 1884 a ligar o Largo da Anunciada à Travessa do Forno do Torel. No livro «Transporte Sentimental», edição da CML Divisão de Cultura, pode ler-se o poema da autoria deste modesto escriba. Elevador ou Ascensor dá pano para mangas. Ao lado do Instituto Câmara Pestana surge uma casa apalaçada adquirida em 1928 pelo Governo da Ditadura Nacional. Ao lado ficou a Ermida de Santana e sobejam hoje as placas camarárias de 1935 sobre os ossos de Camões, poeta desditoso até na posteridade. «No país onde Camões morreu à fome muitos enchem a barriga à custa de Camões» - Jorge de Sena disse. A Escola Municipal foi até 1887 no largo das Forçureiras, sentido diferente do actual. Tal como as salgadeiras, tem a ver com as vendedoras de bofe e fressura, carne mais barata. Na Calçada de Santana 180 funciona o INATEL antiga FNAT. Na Travessa da Pena viveu Ramiro Leão (1857-1934) com sua casa e sua fábrica que dá acesso à Vila Serra Fernandes onde surge o seu magnífico miradouro semi-particular como lhe chama o escritor Rui Zink no livro de contos «A palavra mágica». Na Calçada de Santana nº 177 surge a interessante Livraria «Pessoa & Cia» misto de alfarrabista e novidades. Na mesma Calçada nº 139 terá vivido Camões conforme registo de 1867 de Manuel José Correia e no pátio nº 2 da Rua Martim Vaz nº 84 nasceu Amália Rodrigues em 1920 conforme testemunho camarário de 1997. No Beco dos Birbantes (nome antigo dos patifes) existe um belo relógio de sol. Segue-se o Convento da Encarnação e o respectivo Recolhimento da Encarnação, entregue à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Continuando a descer, chegamos ao Pátio do Salema com bela vista para as chaminés do Palácio da Independência, para a estação da CP do Rossio, para a estátua de D. Pedro IV, para o Carmo e a Trindade sem esquecer o nível do mar – 27, 51 metros. José do Carmo Francisco --

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por José do Carmo Francisco às 13:02

Terça-feira, 10.09.13

um trovador no miradouro de s.pedro de alcântara

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É uma voz cheia de apelos que atravessa a minha rua envolvida no seu timbre e no som da água. O mesmo é dizer – da água, nas suas partículas minúsculas às quais o sol ajuda a dar o peso do cristal. É uma voz pura, cheia, alta, sempre a soltar-se das cordas da viola que são como as linhas de um caderno escolar. É uma voz que vem de longe, traz no seu bornal de afectos as canções de Jacques Brel, o frio das cidades do Centro da Europa, os seus eléctricos pontuais e a sua neve teimosa nas ruas e nas palavras tristes do Inverno que, nessa altura do ano, todos nós trazemos no coração. Há na tessitura desta voz uma mistura do campo e da cidade. De um lado o vagar do lume no forno para o pão, do outro a pressa para o autocarro que se pode perder no negro do asfalto. De um lado a chuva como bênção na terra onde germinam as sementes, do outro lado uma água inoportuna que atrasa a vida de quem se desloca na cidade entre o trabalho imposto e o descanso insuficiente. No calor de Setembro, debruçada sobre o rio à direita, o castelo em frente e a cidade à esquerda, a voz de Manuel Gaspar irrompe do silêncio dos turistas em grupo e da sua maravilhada contemplação da paisagem deste miradouro. Não há nada igual na Europa, parecido é apenas Edimburgo na Escócia; mas lá é tudo mais pequeno. Aqui é tudo grande, alto e cheio como a voz de um trovador que faz da noite de Lisboa o seu lugar de ser diferente. É um jogral do século XXI porque entre as palavras e a música, sacode a pasmaceira do tempo que parece parado e feito de postais ilustrados. Aqui a sua voz de jogral do século XXI tem partículas de vida. Tal como a água da fonte que o sol ajuda a ganhar o peso do cristal. José do Carmo Francisco --

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por José do Carmo Francisco às 15:48

Quinta-feira, 05.09.13

47 anos passaram num instante

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Parece que foi de propósito. O recente levantamento dos carris na Rua do Ouro foi para os mais distraídos apenas um monte de ferros mas, para mim e para muitos outros que lá viveram, foi um pouco da nossa história que foi levada no camião da sucata. No ano de 1966 quando eu comecei a trabalhar no nº 110 da Rua do Ouro (Rua Áurea…) trabalhava-se ao sábado até à uma da tarde, era a «semana inglesa» como então se dizia. Aos sábados e domingos o eléctrico «28» subia a Rua Augusta e parava no Rossio ao pé das floristas. Depois descia pela Rua do Ouro até à Rua da Conceição e subia para a Estrela. No momento em que escrevo estou a pensar em publicar «on line» uma fotografia da Rua do Ouro com um eléctrico mas dos mais velhos, vamos a ver se consigo. O que mais me espanta não é terem passado 47 anos num instante, é não haver termos de comparação. Posso dizer que ganhava 900 escudos por mês mas isso não é 4 euros e meio. Os 9 escudos que eu descontava para o Sindicato dos Bancários não são 4,5 cêntimos nem os 16 escudos do Fundo de Desemprego são 8 cêntimos. Não dá para comparar porque não tem comparação. Nesse tempo um jornal, um selo de correio e um café, tudo custava dez tostões. Não fujo à verdade se disser que tive uma carreira atípica como bancário. Basta ver as datas das minhas promoções e os níveis: 1-7-76 ao nível 6, 1-1-79 ao nível 7, 1-1-86 ao nível 8, 1-1-90 ao nível 9 e 1-12-96 ao nível 10. Depois do 25 de Abril foram muitos anos perdidos porque era preciso ajudar os nossos colegas que vieram de Moçambique e tirá-los do Rossio, coitados. As ordens vinham de cima e por isso, nós ficámos a marcar passo anos seguidos. Era comer e calar mas, enfim, todas as injustiças são sempre relativas. Uns a rir outros a chorar, como no quadro da morte de S. Bernardo em Alcobaça. José do Carmo Francisco --

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por José do Carmo Francisco às 21:41

Quarta-feira, 04.09.13

que será feito hoje do carlos serafim?

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A vida é um mistério. Nunca um negócio. E mistério porque dois amigos juntam-se numa terça-feira de sol a uma mesa de restaurante, unidos pelo futebol enquanto memória, emoção e magia, e o que os junta nessa mesa não é o almoço (muito bom) mas o facto de um ser «azul» e o outro «verde» mas o «azul» sabe que o «verde» publicou um livro com dois poemas seus em tom de azul – um sobre o jogo de Elvas do campeonato nacional de 1945/46 e outro sobre a cigarreira de prata e o drama nacional que foi a morte do Pepe. Num dado momento da conversa falando eu («verde«) de jogadores do passado lembrei ao meu amigo («azul») o nome de Carlos Serafim, o malogrado Carlos Serafim, grande e enorme jogador, cuja perna estoirou um dia durante um jogo (com a CUF? com o Bétis?) e o estrondo da fractura ouviu-se na bancada. E tudo aquilo foi arrepiante. Sou do tempo em que se gostava de futebol e talvez por isso fui capaz de acompanhar as memórias do meu amigo no restaurante em panorama sobre a Avenida da Liberdade e o Torel. Ali na esquadra do Torel, freguesia da Pena, foi onde a Polícia de Investigação (antecessora da P.J.) descobriu que foi a pessoa que mais amava o Pepe (José Manuel Soares) que se enganou por causa da miopia e deitou soda cáustica na sopa quando queria colocar borato de sódio para apressara a cozedura do grão. Disse-me Homero Serpa, grande jornalista e eterno investigador do caso, que tudo lhe foi confirmado por uma irmã do Pepe a viver em Lourenço Marques. Por isso o processo não foi para o Ministério Pública. Era uma questão de bom senso – não fazer sofrer a dobrar com um julgamento absurdo quem já tinha tido o maior desgosto que é ver morrer aquele a quem se deu a vida. E ficámos pela tarde a falar do Carlos Serafim, um sonho interrompido pela tragédia no relvado. José do Carmo Francisco --

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por José do Carmo Francisco às 10:19

Terça-feira, 03.09.13

joão rasteiro - «o cheiro generoso da terra esculpe / e destrói a memória

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«No centro do arco» de João Rasteiro João Rasteiro (n.1965) organiza este seu livro de 31 poemas em 3 capítulos («Tronco, Raízes, Folhagem») fazendo da árvore um espelho da vida e do seu absurdo: «Quando começa o frio as árvores despem-se» - escreve Amadeu Ferreira de Almeida. O ponto de partida é a voz do poeta: «A solidão é uma paisagem árida / que floresce nos átrios da casa») e o ponto de chegada é o arco, outro nome do poema: «O arco deixará o seu casulo doirado / como por uma fenda no tempo moldado do tronco / tocando com as asas o furor dos punhos / e o desejo basta-me para conter a força da sede / o único sabor que me resta nas tuas mãos / por tudo o que aquieta a aspereza dos dias.» No intervalo entre a partida e a chegada, surge a exaltação dos dias: «A cor dos dias nas árvores / em frágeis dedos de espuma, / uma só linha os conduz / na embriaguez do verbo vegetal / parede crua de fogo / onde, difícil, aprendo a arte do silêncio.» Ou então as planícies: «Sob a sombra atenta às nossas pegadas / animais ávidos de sangue meigo / preparam em comum as próximas batalhas.» Ou o amor das mães: «Sob a folhagem da água, mães cansadas / da aridez que as toca, incendeiam-se através / dos filhos.» Ou por fim as viagens: «Às vezes braços abertos em cratera / um estrondo que começa nos alicerces da boca / como se uma única fogueira na margem das aves / alimentasse o animal que se toca a medo / e emudecesse as palavras e todas as estrelas.» João Rasteiro sabe que, como escreveu Camilo Castelo Branco, «a poesia não tem presente: ou é esperança ou saudade». (Edição: Palimage Editores, Prefácio: Graça Capinha, Capa: Wassily Kadinsky) José do Carmo Francisco --

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por José do Carmo Francisco às 14:31

Segunda-feira, 02.09.13

a pena era uma espécie de alfama de segunda

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«A palavra mágica e outros contos» de Rui Zink Ficcionista, ensaísta, dramaturgo e tradutor, Rui Zink n.1961) inicia este seu livro de 13 contos com o poema de Carlos Drummond de Andrade «A palavra mágica», provando assim que toda a literatura é uma homenagem à literatura. Um dos contos tem a forma de poema mas é uma reflexão sobre a poesia no Mundo. Começa pelo convite («Entrem, entrem, não façam cerimónia»), prossegue com a definição («Um poema não é uma narrativa (…) um poema será uma casa mas não é um labirinto») e conclui : «É que o poema pode muito bem passar sem o mundo. Mas já imaginaram o que seria o mundo sem o poema?» Admirador da escrita de Dinis Machado, Rui Zink faz oscilar o seu registo entre o cómico e o trágico, à maneira do autor de «O que diz Molero» que, até nos funerais, procurava sempre o lado cómico de tudo aquilo. Num país de analfabetos Rui Zink vê assim «o bicho da escrita»: «Todos os meus amigos escrevem. As outras pessoas também. Os meus vizinhos escrevem – poemas. O senhor que entregava as cartas agora também escreve – livros de viagens, acho. A empregada do café escreve romances policiais, o funcionário do banco escreve novelas de amor, o dono da mercearia escreve – romances históricos. A minha mãe escreve ficção científica, os meus irmãos escrevem banda desenhada». Num Mundo em chamas, este autor vislumbra a ironia em «Não me falem de A.»: «Toda a gente fala de A. O que eu peço é que não me venham falar mais de A. nem dos que estiveram em A. (…) Olhem para eles agora. Ponham os olhos no Médio Oriente. Não vêm do que eles são capazes de fazer a inocentes quando estão por cima?» Eis uma ironia sobre a idade dos escritores: «Um escritor tinha de ter para cima de cinquenta anos se queria alguma credibilidade. Agora eram outros tempos. Antigamente ninguém respeitava um escritor novo. Agora ninguém queria para nada um escritor velho.» A narrativa que dá título ao volume de 135 páginas é uma viagem num tempo («1969») e num lugar («A Pena») que era «uma espécie de Alfama de segunda» e onde rapazes da zona paupérrima da Mouraria subiam encosta acima em expedições diárias». Durante um jogo de futebol de rua no Largo do Convento, perante uma canelada do adversário, aconteceu: «Eh, o Zinco disse uma asneira!». O mesmo é dizer uma palavra mágica. E viva, tantos anos depois. (Editora: Dom Quixote, Capa: Henrique Cayatte/Rita Múrias, Desenhos: Cristina Sampaio, Revisão: Manuela Gomes da Silva) José do Carmo Francisco --

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por José do Carmo Francisco às 18:22

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