Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Transporte Sentimental



Terça-feira, 19.02.13

4 países 2 continentes várias vozes

Image.jpg

«Outras margens» de Manuel G. Simões
Manuel G. Simões (n.1933) é poeta, tradutor, organizador de antologias,
professor (Lisboa, Bari, Veneza), editor (Nova Realidade) mas também ensaísta.
Como neste livro recente e no anterior «Tempo com espectador – Ensaios de
Literatura Portuguesa) de 2011. Ligado a duas importantes revistas culturais -
«Vértice» (1967-1969) e «Ressegna Iberística» (1978-2012), a faceta de hábil
divulgador surge na sua plenitude neste volume sobre as obras de Jorge Amado,
Adonias Filho, Jorge de Lima, João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de
andrade, Clarice Lispector, Agostinho Neto, Luandino Vieira, Costa Andrade,
José Craveirinha e a literatura de Cabo Verde: «A literatura cabo-verdiana não
é insensível ao problema da seca, sendo este um dos epifenómenos mais
influentes no tecido social do arquipélago. Anos houve em que morreu por vezes
de 10 a 30 por cento da população, devido às frequentes estiagens, provocando a
carência de géneros básicos como o milho, o feijão, a mandioca, a batata-doce e
a forragem para o gado». Em relação à literatura nordestina Manuel G. Simões
refere: «A seca impôs três destinos, três saídas para o Nordestino: ou se lança
no crime e se torna cangaceiro, ou emigra pacificamente (o chamado retirante)
ou então procura em práticas supersticiosas (misticismo) aplacar a fúria de
Deus e termina matando em nome de Deus».
Uma breve nota para destacar o texto de MGS sobre Carlos Drummond de Andrade, a
relação entre memória e escrita, entre vida e poesia. Por um lado em «A rosa do
Povo» o poeta avisa («Não faças versos sobre acontecimentos») mas já em
«Sentimento do Mundo» afirma: «Tive ouro, tive gado, tive fazendas / Hoje sou
funcionário público / Itabira é apenas uma fotografia na parede / Mas como
dói!». O poeta é o que diz - «Não sei fazer visita / e dizer as amenas / frases
que toda a gente / traz no bolso da calça» - mas também o que pergunta: «E
agora, José? / A festa acabou / a luz apagou / o povo sumiu / a noite esfriou /
e agora, José?».
Livro de quatro países, dois continentes e várias vozes, este volume de MGS é
um irresistível convite à leitura.
(Editora: Edições Colibri, Editor: Fernando Mão de Ferro)
José do Carmo Francisco
--

Autoria e outros dados (tags, etc)

por José do Carmo Francisco às 17:31

Terça-feira, 19.02.13

livros das escadinhas de são cristóvão às do duque

Image.jpg

Alfarrabistas - As livrarias, os livros e as lágrimas
A desolação cultural assentou arraiais por aqui. A Câmara Municipal de Lisboa
não faz nada pela cultura desta zona, limita-se a assobiar para o lado. No
Chiado já existem demasiadas lojas estrangeiras. Os alfarrabistas e as
livrarias continuam a fechar a um ritmo alucinante. Bocage, Camões, Barateira,
Portugal, Petrony, Guimarães, Citação, Rei dos Livros e Biblarte são nomes que
desapareceram do nosso mapa de livros e afectos. As duas livrarias do Largo da
Misericórdia podem acabar em Agosto e não se sabe onde continuam. A Biblarte
foi a mais recente e com ela perdeu-se a memórias viva de Fernando Pessoa e
Eliezer Kamenesky, o «Alma errante». Esse mesmo. Nasceu uma nova livraria na
Rua do Trombeta, nº 1 D ao lado da Rua da Rosa, perto do Calhariz. Oxalá se
mantenha e viva muito tempo. Mas os teimosos não desistem e aparecem todos os
dias nas livrarias que restam. Outro dia descobri nos Bonecos Rebeldes das
Escadinhas do Duque nº19 o livro «Os melhores postais antigos de Lisboa» de
Marina Tavares Dias. Além dos postais, o livro inclui vários textos, um deles
de facto espantoso sobre a morte violenta em 1908 de uma varina de 13 anos.
Maria dos Anjos de seu nome, uma quase-criança, foi degolada numa azinhaga
perto do Areeiro para lhe roubarem o cordão de ouro. Marina Tavares Dias assina
o texto que me emocionou. Horas depois descobri na livraria de Simão Carneiro
ali às Escadinhas de São Cristóvão o «Dicionário do Calão Casapiano».
Incansável colecionador de dicionários, este livro de 1976 organizado por
Eduardo dos Santos, Manuel Passetti e Fernando Cardote, vem juntar-se, entre
outros, a «O calão» de Eduardo Nobre, ao «Dicionário do palavrão» de Orlando
Neves e Carlos Pinto Santos e ao «Novo dicionário do calão» de Afonso Praça.
Aqui temos livrarias, livros e lágrimas – tudo junto.
José do Carmo Francisco
--

Autoria e outros dados (tags, etc)

por José do Carmo Francisco às 15:14


Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

Pesquisar no Blog  

calendário

Fevereiro 2013

D S T Q Q S S
12
3456789
10111213141516
17181920212223
2425262728