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Sobre «Melodia desconcertante» de Ribeiro Farinha Na Galeria Municipal de Proença-a-Nova exibe-se até 31-12-2012 um conjunto de 13 telas e 2 painéis cerâmicos de Ribeiro Farinha (n. 1933). A tela «Melodia desconcertante» chamou a minha atenção por se tratar de uma natureza viva ao contrário do que à primeira vista parece – uma natureza morta. Porque no centro da tela surgem 3 maçãs, 1 cacho de uvas, 1 abacate, 2 romãs e 1 girassol. O contraponto é dado pelas ruínas de uma casa à direita do quadro. Nessa casa, sem janelas nem portas, o vento e a chuva de Novembro fazem os seus estragos. Porque à esquerda um grupo de arbustos verdes, jovens trepadores, faz a sua afirmação de vida por oposição à desolada paisagem do lado direito da tela. Porque ao fundo há um pinhal onde já não há tempo para a recolha do mato e da caruma para os currais e para os pátios onde a chuva antiga fazia o seu trabalho - devolvendo o mato à terra de semeadura transformado em estrume na Primavera seguinte. As telas de Ribeiro Farinha incorporam essa memória qualificada de um tempo anterior quando o Homem dialogava em directo com a Natureza e integrava no seu quotidiano os ciclos do Tempo, da Terra e dos Animais. Desde a sementeira à colheita, desde os dias cheios do Verão aos dias breves do Inverno, desde o calor do pão à frescura da água, desde os sabores da lareira e do forno aos saberes transmitidos com toda a naturalidade dos mais velhos para os mais novos, desde o trabalho voltado para a Terra à oração voltada para o Céu. E sempre a memória da pequena aldeia (Figueira) ou d aldeia maior (Sobreira Formosa) onde a sua infância o fez pastor de um rebanho de cores, hoje disperso pelo Mundo. Tal como o poeta no poema, o pintor reúne de novo no perímetro da tela tudo o que o tempo separou. José do Carmo Francisco --