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Transporte Sentimental



Quarta-feira, 28.11.12

outras leituras de 2007

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«Os teatros de Lisboa» de Júlio César Machado e Rafael Bordalo Pinheiro

Esta obra junta dois autores muito ligados ás Caldas da Rainha. As ilustrações
de Rafael Bordalo Pinheiro são um primor de génio. Júlio César Machado está
ligado mais propriamente a «A dos Ruivos» que não é longe da cidade das termas.
O texto original é de 1875 e disserta sobre os três mais importantes teatros de
Lisboa naquele tempo: São Carlos, Dona Maria e Trindade. Estas páginas retratam
um teatro e um país no tempo em que os actores e actrizes tinham quase sempre
um só nome: Rosa, Epifânio, Soller, Tasso, Sargedas, Teodorico, César, António
Pedro, Melo, Amélia Vieira, Virgínia, Falco, Gertrudes, Emília Adelaide, Amélia
Rey, Rosa Damasceno, Delfina, Ana Pereira, João Rosa, Augusto Rosa, Brasão,
Ribeiro, Queirós. Vejamos um excerto deste livro: «Nenhuma das actrizes desse
tempo era feia e todas mais ou menos tinham disposições para a arte; os que me
estão lendo bem se lembram ainda delas; hoje, gordas, velhas – coitadas!
– já não há forma de adivinhar em suas pessoas os belos olhos de outrora,
a sedução, o chiste, o ar catita, a cintura de silfo, o pé cambré. E depois com
actrizes portuguesas não pode viver-se bem sem lhes fazer a corte, são uma
espécie de pastéis de sentimento: o amor é o seu primeiro guia, assim que podem
engatinhar fazendo firmeza nas mãos, aos seis anos já namoram e já falam disso;
a actriz é extremosa em tudo: amizade é uma palavra fabulosa, que devemos sem
cerimónia substituir por amor. E o mais é que todo o mal vem daí! Ama-se de
mais! E estuda-se de menos!...»
(Editora: Frenesi, Capa e Paginação: Paulo da Costa Domingos)
José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 22:24

Quarta-feira, 28.11.12

outras leituras de 2007

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«Sortilégios da Terra» de Zetho Cunha Gonçalves

O projecto deste livro é um regresso: «Mudar de sol – regressar / à
pele interior do ar.» Nascido em Nova Lisboa (1960) é em Lisboa que o poeta
recorda os sortilégios da terra: «Tabaibeiro não morre de velhice / nem de
sede, doente – fruto esquecido de apanhar logo se transforma em folha
– escultura mudável, permanente. / Não tarda – sortilégios da
terra: dá fruto.» A poesia deste livro surge da memória de um tempo
passado. Para o fazer viver de novo o poeta canta no presente: «Loengueiro
não se planta – nasce: / sortilégio da terra, / no meio do mato, /
pelas terras todas / do Huambo – até ao mar.» O poema não só nomeia o
espaço e o tempo; inscreve-se como espaço e tempo: «Churiungo / é das
palavras mais antigas – a voz, / fruto bilingue / da infância.» O
poema tem a forma da cabaça porque a cabaça tem a forma de poema: «Crescem
ao rés da terra / sob a manta longa / de frescura e sombra – para
lugares de repouso / fermentação da quissângua e da capata – as
cabaças. / Crescem ao rés da terra / imputrescíveis, / esculturados poemas
– as cabaças.» O poema surge como uma ponte entre as terras do fim da
Europa e as terras do fim do Mundo: «No Cutato as montanhas dançam –
de gente / e de caminhos do mato / ao meio-dia em ponto. / No Cutato /
entre Vila da Ponte / e o Chilandangombe / a caminho de Menongue / ou do
Chitembo / abrem-se as portas das terras do fim do Mundo» Este é um livro
de quem conhece bem a terra, seus ritmos («Criança come goiaba – vai
no mato: nasce goiabeira. / Quatro luas e uma chuva depois.») e seus
desígnios: «a Terra que tudo dá, tudo, tudo devora!»
(Editora: Bonecos Rebeldes, Capa: José António Coelho, Foto: João Prates)
José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 22:22

Quarta-feira, 28.11.12

outras leituras de 2007

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«A misteriosa chama da Rainha Loana» de Umberto Eco

A partir de um AVC que o protagonista da história sofre em 25-4-1991 e das
complicações inerentes («Não, o senhor não se chama Ismael. Faça um esforço.»)
há nestas 414 páginas um regresso à infância: os livros, a escola primária, as
brincadeiras, a catequese, a rádio: «Sabes que não sou saudosista mas às vezes
apetece-me ouvir os hinos fascistas, para me sentir de novo como naquelas
noites ao pé do rádio.» O AVC acontece em Milão, a convalescença é em Solana,
na casa de campo do avô do protagonista: «Tinha uma loja na vila onde eu nasci,
quase um armazém de livros velhos. Não livros antigos e com valor, apenas
livros usados e muitas coisas do século XIX.» É no sótão da casa do avô que, ao
longo de oito dias de paixão, entre caixas (cigarros, sabão, selos, biscoitos,
comprimidos, brilhantina, aparos, cacau) surge o título deste livro em banda
desenhada, «A misteriosa chama da Rainha Loana», uma história um bocado parva:
«Aquilo que tinha fecundado na minha memória não tinha sido a história em si
mas o título. Uma expressão como a misteriosa chama tinha-me enfeitiçado para
não falar no suavíssimo nome de Loana, embora na verdade fosse uma pequena
galdéria caprichosa disfarçada de bailarina. Tinha vivido durante todos os anos
da minha infância cultivando não uma imagem mas um som.»
(Edição: Círculo de Leitores, Capa: João Rocha, Tradução: Simonetta Neto)
José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 22:19


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