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Transporte Sentimental



Segunda-feira, 26.11.12

outras leituras de 2007

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«Procissão dos Passos» de Abel Varzim

O Padre Abel Varzim (1902-1964) foi uma das figuras mais importantes do
catolicismo português do século XX. Com um doutoramento em Lovaina na área das
Ciências Politico-Sociais, foi o grande impulsionador da LOC (Liga Operária
Católica), dirigiu o jornal «O Trabalhador e foi professor do Instituto de
Serviço Social.
Faz agora 50 anos que o Padre Abel Varzim saiu da paróquia da Encarnação para
onde tinha sido nomeado em 1951. Este livro corresponde às suas memórias
atribuladas desse tempo pois foi já com 48 anos que o Padre Abel Varzim se viu
confrontado com uma situação nova na sua vida sacerdotal. Vejamos algumas
palavras: «Não foi difícil nem sequer demorado descobrir que, na área da
paróquia, se acoitavam dezenas e dezenas de lupanares. O Governo Civil, a meu
pedido, forneceu-me a lista completa deles, com a respectiva localização. Num
mapa da freguesia marquei então cada uma dessas casas, para ter, diante dos
meus olhos, a triste e detestável realidade. Não supunha, porém, a enorme chaga
tão extensa nem tão profunda. Depressa verifiquei que a prostituição se
entranhava no Bairro Alto como se fosse a medula dos seus ossos. Autêntico e
temível cancro a invadir tudo e tudo corromper, que poderia construir de útil,
sem atacar a raiz do mal? Depressa observei que muita gente da paróquia,
incluindo frequentadores da igreja, vivia da prostituição, alugando quartos às
prostitutas, tratando-lhes das roupas, cuidando-lhes dos filhos, acoitando
mancebias, facilitando adultérios, encobrindo ligações precoces. Desde que lhes
pagassem, tudo lhes parecia permitido.»
(Editora: Multinova, Apresentação: Paulo Fontes, Comentário: Inês Fontinha,
Apoio: Montepio Geral, Patrocínio: Câmaras Municipais de Barcelos e Póvoa do
Varzim))
José do Carmo Francisco
--

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por José do Carmo Francisco às 22:02

Segunda-feira, 26.11.12

outras leituras de 2007

36.jpg

«Nenhuma palavra nos salva» de Rute Mota

Rute Mota é uma jovem autora (1980) mas convoca no que escreve muita
experiência adquirida nos jornais (como «DN Jovem») ou nas revistas como
«Periférica» e «Pessoal». Há um evidente domínio da linguagem poética que
reflecte sobre o seu próprio modo de criação:
«Tudo quanto escrevo / cabe em dois ou três versos / como por exemplo /
terra-de-ninguém / debaixo dos passos.»
Tal como reflecte também a sua relação com o Mundo:
«Não é poesia isto que faço / tão só corda que entreteço / e agarro / –
para não cair do mundo.»
Os poemas, tal como tudo na vida, não se medem aos palmos. Vejamos a sabedoria
deste três versos: «São os mortos / que sustentam a terra / e a tornam
habitável.»
Entre o inevitável da morte e a fragilidade do amor, o poema é um intervalo:
«Um barco sem nome singra / na memória – a outra vida.»
As palavras são pronunciadas por uma voz mas vários são os sentidos dessa
pronúncia: «Se a voz, pequeno segredo / se desfaz / na voz, outro segredos / se
levantam.»
Um excelente livro de estreia, num volume de 90 páginas com uma poesia de
síntese, alheia ao excesso e fascinada pelo rigor.
(Edição: Livro do Dia Editores, Capa: Rui Gil)
José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 21:59


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