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Transporte Sentimental



Quarta-feira, 07.11.12

estamos longe da europa

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Um livro por semana 301
«Ruben A. – Uma biografia» de Liberto Cruz e Madalena Carretero Cruz
Ao contrário do que um dia disse ao seu filho Cristóvão («quando eu morrer
ninguém mais se vai lembrar de mim») Ruben A. (1920-1975) tem uma obra com cada
vez mais leitores atentos além de uma bibliografia activa em desenvolvimento.
Ruben Alfredo Andresen Leitão cedo mostrou o seu gosto pela escrita. Em 1927
escreve a sua mãe: «já sei escrever só e gosto muito». Em 1929 assiste ao
naufrágio do cargueiro alemão «Deister» na Foz do Douro, facto que o marca na
sua relação com a tragédia. Mais tarde em 1938 viaja para a Alemanha e descobre
Berlim, uma cidade que «todos os dias os jornais aclamavam centro do mundo,
dando ordens, impondo a sua vontade, nova Roma cheia dos desejos de um velho
Nero».
A sua Autobiografia abre de forma exemplar: «Dos quarenta aos cinquenta
limpa-se a casa. Põem-se telhas onde falta, instala-se um novo sistema
sentimental e, no jardim das delícias, no passeio depois do jantar, nas
madrugadas sem Deus, ouvimos uma voz que nos buzina que dali para a frente a
contagem é outra». Entalado entre a esquerda e a direita, entre o neo-realismo
e o surrealismo, deu tudo por Portugal sem o deixar de considerar um país
estranho: «Sempre implacável para com os seus cidadãos e sempre pronto a
aporrinhá-los, era no entanto muito condescendente para com os cretinos». O seu
afastamento do leitorado de Português em Londres, decidido por Salazar a partir
da leitura das suas «Páginas II», é trágico: «As porcarias, as obscenidades, os
palavrões juncam o livro. Explora-se o reles, o ordinário, o palavreado porco
não só da língua literária mas do falar corrente» - despachou o ditador.
Ruben A. escreveu um dia: «Estamos longe da Europa, pior longe do Médio
Oriente, mais atrasados do que a inércia dos árabes. O problema aqui não tem
nada a ver com política, é um problema de inúteis, de incapazes, de sugadores
do bem nacional. A coisa atingiu o abuso máximo, ninguém trabalha, ninguém é
responsável, pratica-se a inércia como trabalho e passatempo. Está tudo com
ferrugem, obsoleto e quando se diz qualquer coisa espetam com um discurso ou
com um decreto que ninguém percebe. Estamos subdesenvolvidos de espírito, de
acção cívica e humana».
(Editora: Estampa, Colecção: Memória das Letras)
José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 17:56

Quarta-feira, 07.11.12

capa do livro «a sagração da primavera»

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por José do Carmo Francisco às 17:10

Quarta-feira, 07.11.12

a capa do livro «salir d´outrora»

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por José do Carmo Francisco às 15:55


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