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Transporte Sentimental



Sexta-feira, 02.11.12

outras leituras de 2007

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«D. Afonso Henriques» por José Mattoso

Este livro é dedicado a Luís Kruz pois foi este investigador (entretanto
falecido) o primeiro convidado a escrever a biografia de D. Afonso
Henriques. José Mattoso (Leiria, 1933) escreveu grande parte do original em
Timor tendo completado o trabalho já em Portugal. O ponto de partida não é
fácil pois existem já muitas «biografias» do nosso primeiro rei escritas
por Alexandre Herculano, Oliveira Martins, Gonzaga de Azevedo e Torquato
Soares. Mas há outras dificuldades, explica o autor, além da escassez de
documentos: «O facto de ter sido ele o criador do Estado imprime-lhe um
sentido que transcende a sua personalidade individual. Não se pode falar
dele sem, desde logo, procurar na sua existência os sinais que o projectam
para lá da sua época, não só como rei mas também como fundador da
monarquia.» E conclui: «quando se quer separar o mito da história, fica-se
reduzido a muito pouco. Sem o mito, o passado aparece como um poço vazio.»
José Mattoso explica que o rei não estava sozinho: teve auxiliares tão
importantes como São Teotónio, D. João Peculiar, Egas Moniz, Ermígio Moniz,
Fernão Cativo, Gonçalo Mendes de Sousa e Vasco Sanches, entre outros.
Este volume de 318 páginas lê-se com o interesse dum romance. Por exemplo
quando descreve o casamento do rei ou as ligações aos monges de São
Bernardo: «Alcobaça tornou-se um dos dois mosteiros mais ricos e com maior
influência cultural e política do reino, a par de Santa Cruz de Coimbra. A
sua projecção plena, todavia, só se verificou depois da morte de Afonso
Henriques. Mas o rei deve ter previsto a importância que os mosteiros
cistercienses, sobretudo Alcobaça, viriam a ter em Portugal, como se pode
deduzir da protecção que lhes concedeu.»
(Edição: Círculo de Leitores, Capa/Design Gráfico: Rochinha Diogo)
José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 22:17

Sexta-feira, 02.11.12

outras leituras de 2007

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«O bosque cintilante» de Amadeu Baptista

Premiado com o Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama 2007 das Juntas de
Freguesia de Azeitão (São Lourenço e São Simão), este livro organiza-se de modo
a que cada poema tenha por título uma peça musical. Por exemplo a «Marcha
militar» de Schubert antecede este poema (excerto):
«Os que nela desfilam são soldadinhos de chumbo / para melómanos / que marcham
ordeira mas puerilmente / jamais deram um tiro / e a única coisa que mataram /
foi a fome de um compositor / por acaso austríaco, por acaso desinteressado do
império militar / da Áustria triunfante.»
Ouvi no leitor de CDs um minueto de Beethoven pode ser um programa de vida:
«Escuta, toca a terra, recebe do fascínio / o que é imperceptível e
momentaneamente / é nítido e perfeito, sob a leveza / surge para que algo
renasça, vivifique, avance. / Adere ao que conheces e ignoras / A música da
sombra e do prodígio.»
A marcha triunfal da «Aida» de Verdi conduz a uma reflexão:
«Há quem chame milagre a isto de estar vivo. / Há quem passe pela vida e jamais
acredite / Há quem não tenha fé ou simplesmente a use / para exorcizar os medos
soterrados / sobre outros medos sempre inconfessáveis / com esse rosto terrível
de não terem rosto.»
Livro pleno de maturidade dum poeta cujo percurso se iniciou em 1982 com «As
passagens secretas», neste «Bosque cintilante» apetece fica perdido entre o som
das músicas e a viagem das palavras. O mesmo é dizer entre «sombra e prodígio».

(Edição: Juntas de Freguesia São Lourenço e São Simão, Capa: Rogério Ribeiro,
Apoios: Câmara Municipal de Setúbal e Associação Cultural Sebastião da Gama)
José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 22:13

Sexta-feira, 02.11.12

não é um caso de vida ou de morte, é muito mais do que isso

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Os gatos de Ruslam Botiev e de Manuel António Pina
Ruslam Bootiev, escultor e pintor, veio da Mongólia para Portugal e, depois
de muito frio e muita chuva nas ruas de Lisboa, fixou-se como artista
residente na Livraria Sá da Costa ao Chiado. Tem um espaço próprio onde
pinta e dialoga com os futuros compradores dos seus trabalhos. Estes gatos
pretos de Ruslam Botiev lembram os gatos de Fernando Pessoa mas sem
esquecer os de Fialho de Almeida. O inevitável eléctrico «28» que passa
aqui em frente a abarrotar de turistas, também aparece nos seus quadros mas
hoje fiquemos pelos gatos. Para fazer a ponte com os gatos de Manuel
António Pina (1944-2012), o poeta que tinha uma dúzia de gatos (eram
treze!) na sua casa do Porto. A gata Pipas, a decana, chegou em 1985. A
paixão do poeta pelos gatos surge num poema de 2004:
«Há um deus único e secreto
Em cada gato concreto
Governando um mundo efémero
Onde estamos de passagem.
Um deus que nos hospeda
Nos seus vastos aposentos
De olhos, músculos, movimentos.
E de longe nos observa.
Somos intrusos, bárbaros amigáveis,
E, compassivo, o deus
Permite que o sirvamos,
E a ilusão de que o tocamos.»
No livro «Dito em voz alta», da editora Pé de Página, colectânea de
entrevistas da MAP com apresentação de Inês Fonseca Santos, surge na página
26 a seguinte frase: «Como Bobby Robson disse do futebol, a poesia não é
uma questão de vida ou de morte, é muito mais importante do que isso.» Ora
o autor dessa frase é Bill Shankly (1913-1981), jogador originário do
Preston North End e depois treinador que levou o Liverpool da segunda à
primeira divisão em 1959 e, em 783 jogos, venceu 3 vezes a I Liga inglesa,
2 Taças de Inglaterra e 4 Supertaças.
A frase de Bill Shankly é a seguinte: «Some people believe football is a
matter of life and death, I am very disappointed with that attitude. I can
assure you it is much, much more than that.» Em versão livre a frase de
Bill Shankly e não de Bobby Robson será assim: «Algumas pessoas acreditam
que o futebol é um caso de vida ou de morte. Estou muito desiludido com
essa atitude. Posso garantir que é muito, muito mais do que isso».
José do Carmo Francisco
--

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por José do Carmo Francisco às 18:25


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