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Transporte Sentimental



Quarta-feira, 17.10.12

«uma noite em lisboa» na fabula urbis

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Um livro por semana 298
«Uma noite em Lisboa» de Erich Maria Remarque
A Livraria Fabula Urbis organiza um ciclo de palestras sobre a cidade de Lisboa
na Literatura. Erich Maria Remarque (1898-1970) é o autor deste livro e não
hesita em misturar alguma realidade na ficção. Quando em Paris um refugiado de
guerra, prestes a morrer, oferece o seu passaporte ao protagonista, este pede a
um «artista dos passaportes» que lhe coloque a sua foto no mesmo e a data de
nascimento inscrita é a do próprio autor do livro: 22 de Junho de 1898.
Numa Lisboa de 1942, a fervilhar de intriga e de negócios escuros, dois
refugiados alemães encontram-se junto a um navio fundeado no Tejo e combinam
uma estranha permuta: um deles oferece ao outro dois bilhetes para uma viagem
marítima até New York a troco de uma noite de atenção para que lhe possa contar
toda a sua história. Aceites os termos do contrato, os dois deambulam por
alguns cafés, dancings e tabernas da cidade de Lisboa. Acabada a noite, acaba a
história e o alemão que tinha ficado viúvo na tarde anterior, explica a sua
decisão: não precisa dos dois passaportes pois vai para a Legião Estrangeira
onde ninguém pergunta pelo passado.
Um aspecto curioso do livro tem a ver com os jornais alemães. Setenta anos
depois parece que nada mudou: «Os artigos de fundo eram uma vergonha.
Arrogantes, cheios de mentiras, sequiosos de sangue. Falava-se numa Europa
degenerada, traiçoeira, estúpida que não merecia outra coisa senão ser tomada
pelos alemães. Simplesmente inacreditável!».
(Editora: Publicações Europa-América, Tradução: Maria da Luz Mota Veiga)
José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 15:27

Quarta-feira, 17.10.12

em lisboa existem escadinhas, escadas é outra coisa

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Vinte Linhas 835
O elevador do Havre, o jogador Francisco Alvim e as escadas de Lisboa
Para quem, como eu, ainda se lembra do chinês a vender gravatas no Cais do
Sodré em 1966, o postal na loja dos chineses foi mais que uma surpresa. A
imagem estava bem mas a legenda estava péssima: por sobre a foto do Largo da
Anunciadas com o elevador do Lavra parado, uma inesperada legenda: elevador do
Havre. Alguém soprou e alguém percebeu mal.
Aqui há uns anos fui ao estádio da Luz com o meu amigo Silvestre Ricardo. O
ponto de encontro foi um café na Quinta da Luz e lá ouvi durante toda a tarde
desportiva o locutor de serviço anunciar uma homenagem ao jogador Francisco
Alvim. Ora até um sportinguista como eu sabe o nome correcto do jogador do
jogador da velha guarda do SLB que era conhecido por chamar «tempero» ao prémio
de jogo – Francisco Albino. Tal como sei que o Moreira tinha a alcunha de
«Pai Natal». Alguém soprou e alguém percebeu mal.
Estou a ler o romance «Uma noite em Lisboa» de Erich Maria Remarque e na página
9 da minha edição (Europa América) surge o seguinte: «Deixámos o táxi e
seguimos a pé por escadas e ruelas angulosas». Até pode estar «escadas» no
original mas a tradução devia ter percebido que em Lisboa há escadinhas –
Escadinhas de São Crispim, Escadinhas do Duque, Escadinhas de São Cristóvão.
Tal como há pátios, casais, vilas e quintas. Mas escadas só mesmo dentro dos
prédios – o que não é o caso. Há outras questões na tradução como chamar
Burgúndia à Borgonha ou pastel a um pastelão mas esta fez-se saltar a tampa.
Não há escadas em Lisboa por muito que o escritor alemão Erich Maria Remarque
(1898-1970) possa ter escrito essa palavra no original do romance «Uma noite em
Lisboa». Mas traduzir não pode ser um acto mecânico; isso é o que qualquer
máquina pode fazer. É preciso perceber.
José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 11:38

Segunda-feira, 15.10.12

ainda leituras de 2007

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«D. Afonso IV» de Bernardo Vasconcelos e Sousa

D. Afonso IV nasceu em 1291, subiu ao trono em 1325 e veio a morrer em
1357, depois de um reinado de trinta e dois anos. Pois, apesar da duração
do seu reinado, trata-se de um dos reis menos conhecidos da primeira
dinastia. De um modo geral fala-se deste rei a propósito da morte de Inês
de Castro ou do seu cognome de «O bravo», palavra que na Idade Média tinha
um significado diferente do que tem hoje. Este livro acompanha a sua vida
preenchida e agitada. Enquanto jovem pegou em armas contra o seu próprio
pai e manteve uma guerra civil entre 1319-1324 mas, depois de instalado no
trono, desenvolveu uma política de reforço do poder do rei impondo-se
contra bispos, nobres e municípios. Ao lado de outro Afonso (Afonso XI de
Castela), este rei português travou em 30 de Outubro de 1340 a decisiva
batalha do Salado, pequeno rio do mesmo nome na região de Tarifa e nas
proximidades de Gibraltar. Embora não se conheça em pormenor a evolução da
batalha é bem possível que Afonso IV tenha derrotado o exército granadino
enquanto o seu genro e sobrinho terá desbaratado as topas vindas do Norte
de África. Esta retumbante vitória do Salado revestiu-se de grande
significado militar e teve um enorme impacto na cristandade ocidental. A
ameaça de uma investida muçulmana na Europa a partir de Península ficava
ultrapassada.
Um dos aspectos mais curiosos da sua vida tem a ver com o facto de na
juventude ter lutado contra seu pai D. Dinis mas acabou mais tarde por
enfrentar o seu filho D. Pedro, revoltado e querendo vingar a morte de Inês
de Castro.
(Editora – Círculo de Leitores, Capa – F. Rochinha Diogo)
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por José do Carmo Francisco às 11:08

Segunda-feira, 15.10.12

outras leituras de 2007

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«Dicionário do Nome das Terras» de João Fonseca

Todos nós temos uma terra – e aí de quem a não tiver… Ninguém pode
viver sem uma avó e sem uma aldeia. Este livro fala das origens, das
curiosidades e das lendas de muitas terras portuguesas.
Caldas da Rainha não podia faltar: «Caldas provém de cal(i)de (quentes) e aquae
(águas) e Rainha de D. Leonor, mulher de D. João II. Segundo a tradição, no
Verão de 1484, vinda de Óbidos, a Rainha ter-se-á banhado nestas águas, tidas
como milagrosas. Com o dinheiro das próprias jóias e das terras que vendeu a D.
Manuel I, mandou construir um hospital (1503) ao redor do qual se desenvolveu a
povoação, cidade desde 1927.» Alcobaça também surge: «Alcobaça terá sido
fundada pelos Romanos que a terão baptizado de Helcobatie e que os árabes terão
chamado Alcoboxa (artigo al e coboxa significa «carneiros»).
A letra «O» abre com Óbidos: «Com a primitiva designação de Oppidum, que
significa «cidade fortificada», a povoação (fundada nos séculos IV-III a.C.)
recebeu de D. Sancho I o primeiro foral em 1195. Antes do actual nome,
proveniente de Oppidum, foi baptizada por D. Dinis de «Casa das Rainhas» pelo
facto de o rei ter dado o seu senhorio à Rainha Santa Isabel. Óbidos identifica
também a lagoa que terá sido mais extensa do que é actualmente, chegando mesmo
a alcançar o sopé da colina onde se ergue a vila.» Por fim Torres Vedras:
«Tamuja terá sido a designação pré-cristã de Torres Vedras. O nome Turres
Veteres foi-lhe dado pelos godos e traz consigo a ideia de remota antiguidade.»
De «A» a «Z», de Abaças (Vila Real) a Zevão (Vila de Rei) passando pelos Açores
e pela Madeira, aqui está um belo mapa português de lendas e de memórias.
(Editora – Casa das Letras, Capa – Marta Amorim)
José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 11:06

Sábado, 13.10.12

tomás a passear junto ao paragon

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Vinte Linhas 834
Dissertação para um pequeno homenzinho de seis anos
Hoje sábado, dia 13-10-2012, o telefone fixo tocou na casa da minha filha Ana
em Londres e foi atendido pelo meu neto Tomás. Do alto dos seus seis anos de
idade feitos em Julho, lá se explicou primeiro com a avó e depois com o avô.
Esclareceu que o pai estava no jardim e a mãe a dar o almoço ao bebé Lucas. Com
toda a calma falou na sua escola em Brooklands Park e da estrela que recebeu
esta sexta-feira como prémio ao melhor aluno da semana.
O que mais me deixou emocionado foi o tom seguro, o à-vontade e o desembaraço
do meu neto que já é um homenzinho. Nunca tinha atendido uma chamada no
telefone fixo e a partir de hoje tudo será diferente. Fico feliz por ele e
pelos pais – Ana e Ian. Pela avó Amália e pela outra avó – Joan.
Por todos nós que estávamos a seu lado no Hospital Universitário de Londres em
2006. Os anos de 1929 (bisavó), 1951 (avô) e 1978 (mãe) marcam o nascimento dos
seus antepassados que iniciaram gerações. Ele vem de 2006 e hoje mostrou ser
capaz de atender o telefone em nome da família de Blackheath Park. Comovido com
a sua conversa, recordei o meu primeiro dia de trabalho em 9-9-66 e o matinal
telefonema que atendi no primeiro andar do nº 110 da Rua do Ouro. O seu tom de
voz decidido, prático e explícito, ligou estas duas realidades com 46 anos de
intervalo. Eu em Lisboa e ele em Londres, eu na velha casa frente a São Pedro
de Alcântara e ele a passear junto ao Paragon depois de atravessar a Morden
Road onde viveu Charles Gounod. Ainda mais comovido fiquei quando fui buscar as
palavras da minha avó de Santa Catarina que me recomendava: «Nunca dês parte de
fraco!». Tomás provou ser já um homenzinho mas a recomendação não se perde. Vem
do tempo em que o avô tinha a mesma idade do Tomás e chega embrulhada em
lágrimas quentes e teimosas.
José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 22:38

Sábado, 13.10.12

a vida não é um negócio e vale mais que um negócio

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Vinte Linhas 833
A febre, o delírio e a alucinação das esplanadas
Vivo no Bairro Alto desde 1976 e em 2002, quando a EMEL assumiu o controlo
do espaço de estacionamento na zona, comecei a ser multado. Na rua onde
vivo, existe um muro a todo o comprimento da mesma, sem janelas nem portas,
mas a EMEL só marcou 4 lugares em vez de 12. Para evitar multas e neuroses,
vou estacionar em Sete Rios e na Graça, onde a EMEL ainda não chegou. Isto
explica que não estou de acordo mas sou obrigado a aceitar o que a EMEL faz
no Bairro Alto. Há dias a Polícia Municipal rebocou uma viatura estacionada
num lugar gerido pela EMEL. Mas se desde 2002 existem espaços marcados na
zona pela entidade responsável, pode parecer estranho que só em 2012
apareça uma reclamação. E logo dirigida à entidade errada: PM em vez de
EMEL. E logo resolvida da pior maneira: multar o morador que estacionou
legalmente. Mas nada é estranho no Bairro Alto. O que se passa é uma febre,
um delírio e uma alucinação colectiva pois qualquer comerciante aspira a
ter a sua esplanada. Não interessa à custa de quê. Pode até ser à custa de
um lugar de estacionamento gerido pela EMEL. Ganhar dinheiro custe o que
custar e doa a quem doer, é mais importante do que tudo o resto. O espírito
de favela está a ser imposto aos poucos. Minutos depois de o morador ter
sido multado já as mesas da esplanada estavam colocadas no espaço gerido
pela EMEL. E bastaria a PM ter contactado a Junta de Freguesia para saber
da ilegalidade da esplanada. A PM não pode tomar partido contra os
moradores. A vida não é um negócio e vale mais que um negócio. Não conta a
desculpa esfarrapada «estava muito perto da porta» porque esse é um assunto
da EMEL e desde 2002 ninguém se queixou dessa proximidade. Na febre da
esplanada uma conclusão: quando a Municipal bate na Municipal quem se lixa
é o mexilhão. O morador.
José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 08:55

Sexta-feira, 12.10.12

a cml está sempre do lado errado

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Vinte Linhas 832
Mais uma atitude contra os moradores do Bairro Alto
Acabei de saber que a Polícia Municipal multou um morador do Bairro Alto
cuja viatura estava bem estacionada num espaço criado e sinalizado pela
EMEL. Pode parecer um caso isolado mas não é; como dizia o poeta Eduardo
Guerra Carneiro «isto anda tudo ligado». O facto de a Polícia Municipal não
ter hesitado e ter multado o dono da viatura que estava legalmente
estacionada, significa que os poderes tomam partido no conflito de
interesses e sempre contra os residentes. A CML quer mesmo rebentar com a
vida dos moradores. Falando por mim sinto que a minha casa vale cada vez
menos em vez de aumentar o seu valor. Vivo aqui desde 1976 e pedi um
empréstimo para comprar a casa em 1980. Paguei as prestações até 2005.
Foram 25 anos de sacrifícios. Muitas vezes cheguei ao fim do mês e levantei
cheques na tesouraria do Banco onde trabalhava. Outras vezes fazia as
compras na Cooperativa dos Bancários com uma requisição do Grupo Desportivo
do BPA. O efeito era simples; num tempo em que não havia cartões de
crédito, tanto o cheque pago na tesouraria como a requisição do Grupo
Desportivo, davam uns dias para pagar mais tarde. Esta casa, paga com tanto
sacrifício, está a ser desvalorizada todos os dias pela CML. Por exemplo:
da janela da cozinha da minha casa via-se o rio Tejo mas depois de umas
obras clandestinas no prédio em frente agora já não se vê. A venda e o
consumo de bebidas alcoólicas nas ruas, o vomitado, as garrafas partidas,
os dejectos humanos, o cheiro nauseabundo, os copos de plástico, o barulho
ensurdecedor, a falta de respeito pelos direitos do morador, a ausências de
inspecções aos estabelecimentos ilegais, tudo isto leva um vizinho a fazer
humor: «os bares ilegais não têm casa de banho porque eles próprios são do
tamanho de casas de banho.» Mas isto não tem graça nenhuma.
José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 18:50

Sexta-feira, 12.10.12

continuando em 2007

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«Querido traficante» de Júlio Conrado

Embora seja mais conhecido como crítico literário, Júlio Conrado (Olhão –
1936) tem neste «Querido traficante» já o seu oitavo romance. Foi vencedor do
Prémio Vergílio Ferreira em 2006 com o seu próximo livro de ficção «Estação
ardente». As personagens deste romance movimentam-se num cenário recente: a
passagem do milénio. A ponte de Enre-os-Rios que «tombou como uma peça de
dominó no rio Douro», os peelings e os liftings das damas do jet set, o crime
de Fortaleza, o assalto às torres gémeas de Nova Iorque: «De um instante ao
outro se esfanica a aura de uma América impune e arrogante.» Este é o tempo mas
o lugar é Portugal, onde também chegou (mas tarde) uma certa ideia de Europa:
«o povo, mergulhado em duradoura melancolia e sem vislumbrar saída para os seus
agravos, vivia resignadamente aquilo a que um escritor além-Pirinéus chamara um
dia «os tempos cobardes da democracia». Os encontros e desencontros deste
enredo são múltiplos: começam num jantar no Guincho com diplomatas de dois
países a propósito das palavras de um deputado português sobre um país da
América Latina e acabam num crime com um velho retornado a matar a sua mulher.
Pelo meio um jogo de acasos faz com que um assalto a uma exposição com desenhos
de Picasso se intrometa na vida dum traficante aflito e sem dinheiro cuja irmã
é uma modelo bem cotada no mundo da moda. E também uma escritora light que
deixa morrer uma professora universitária que gostava de meninas e falava muito
de Roland Barthes. Este livro lê-se com prazer no ritmo dum policial até à
página 222; nela se descobre que o acaso é o grande mestre.
(Editora – Campo da Comunicação, Capa – Duarte Camacho)
José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 16:30

Sexta-feira, 12.10.12

mais um livro de 2007

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«D. Duarte» de Luís Miguel Duarte

Não por acaso este volume tem o subtítulo de «Requiem por um rei triste». Na
verdade D. Duarte, o décimo-primeiro rei de Portugal, filho de D. João I e de
D. Filipa de Lencastre foi um rei muito especial. Nascido em Viseu no ano de
1391 e armado cavaleiro aos 24 anos, casou-se em 1428 com D. Leonor de Aragão
tendo sido aclamado rei em 1433. Faleceu em Tomar no ano de 1438 deixando um
reino dividido entre o seu irmão D. Pedro e a sua viúva, a rainha D. Leonor.
Marcado desde o século XIX pela imagem fortemente negativa que dele traça
Oliveira Martins, a vida de D. Duarte é fascinante: escreveu dois livros,
deixou outro de notas e apontamentos, ajudou D. João I na governação, foi pai
de nove filhos, sofreu uma depressão, durante o seu reinado os Portugueses
dobraram o cabo Bojador e perderam uma batalha – e ele perdeu um irmão
– em Tânger.
Um dos aspectos mais curiosos da sua vida tem a ver com a sua especial relação
com a escrita: «D. Duarte introduz pela primeira vez na língua portuguesa
alguns latinismos que depois se tornaram vocábulos de raro sucesso: fugitivo,
evidente, sensível, abstinência, infinito, circunspecto ou intelectual são
alguns deles. De resto algumas das melhores páginas do Leal Conselheiro são
precisamente aquelas em que ele medita sobre a língua: é o caso da análise de
campos semânticos como tristeza, nojo, aborrecimento, pesar, desprazer,
saudade, avisado, percebido, previsto e circunspecto. O que lhe faltou
eventualmente em fluidez e elegância de escrita, sobrou-lhe em visão política,
em capacidade de articular o passado e o futuro ao serviço de uma ideia de
reino.»
(Editora – Círculo de Leitores, Capa – F. Rochinha Diogo)
José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 16:28

Quinta-feira, 11.10.12

outras leituras de 2007

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«Pezinhos de coentrada» de Alice Vieira

As crónicas publicadas nos jornais e nas revistas perdem-se poucos minutos
depois de serem lidas. Recolhidas em livro, podem aspirar a alguma posteridade.
Este volume de Alice Vieira recolhe textos publicados no «Jornal de Notícias» e
nas revistas «Tempo Livre», «Audácia» e «Activa». Um dos textos tem o sugestivo
título de «Ir à terra» e recorda uma visita da autora com Carlos Pinhão à Rua
do Grilo, ali no Beato, uma das muitas aldeias de Lisboa: «Pareces o emigrante
quando chega à aldeia – digo-te por brincadeira. Para o trabalho que
tinha em mãos e para o qual pedira a tua ajuda naquela Lisboa para mim
desconhecida, já não precisava de ver mais nada. Mas tu insistias: querias ver
os lugares que existiam ainda e aqueles de que já nem sequer rasto havia. «Ali
onde está aquela tabacaria, era a alfaiataria do meu tio. Eu ficava horas
sentado à máquina de costura a pedalar, a pedalar, sentia-me o Trindade e o
Nicolau… Depois o meu tio saía e dizia: «Vou entregar a obra aos
fregueses».
Ainda hoje sempre que tenho um artigo para entregar na Bola ou um original para
a editora, digo sempre: «Vou entregar a obra aos fregueses». Entramos na escola
primária, casarão imenso onde os degraus de madeira rangem tanto que até se
deve ouvir lá fora, andamos por ruas e travessas, vilas e pátios, e
reencontramos os olhos azuis da tua primeira namorada que engordou uns quilos e
está cheia de rugas e cabelo branco e que, ao ouvir-te contar o tempo que
passavas escondido só para a veres aparecer na rua, desfaz os teus sonhos com
uma sonora gargalhada: «Olha que nunca dei por nada, palavra de honra!».
«Fez-me bem ir à terra», disseste em jeito de adeus.
(Editora – Casa das Letras, Capa – Neusa Dias)
José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 22:26



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