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Transporte Sentimental



Sexta-feira, 19.10.12

mais leituras de 2007

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«El lugar, la imagen – O lugar, a imagem» de Ruy Ventura

Este livro de Ruy Ventura (n. Portalegre – 1973) é uma edição
bilingue da Editora Regional de Extremadura com poemas traduzidos por
António Saez Delgado e capa de Julian Rodriguez. Se toda a obra de arte
surge como uma humana rejeição da morte, um poema que canta a alegria do
encontro do poeta com essa mesma obra de arte é um duplo registo da negação
das sombras, do esquecimento e do desespero.
Este livro abre com um poema dedicado a uma escultura em barro do século
XVIII:
«um corpo nasce nas mãos do oleiro / um corpo desce. procura / a raiz, a
porta, a lareira / acenderá o mundo com o seu sopro / com a sua voz.»
Segue-se a meditação sobre uma escultura de madeira do século XVII:
«em que palavras leste a semente desse brilho? / no verbo que ele guardou
no teu silêncio? / no coração, ardendo na memória? /ergues os olhos,
saciando /o cálice em que saciámos a nossa sede.»
Mas pode ser também uma moeda romana do século I depois de Cristo, o motivo
do poema. Ou uma estela funerária. Ou uma escultura em Lagos. Ou uma casa
em Arronches. Depois pode ser uma catedral em Compostela, uma fortificação
templária em Aveyron ou um poço num certo lugar em Penamacor. Livro feito
(com diz o título) de lugares e de imagens, em todas as suas páginas vibra
uma voz poética a ligar a Natureza e a Cultura. Como por exemplo em
«arquitectura», poema escrito perante o castelo e a judiaria de Valência de
Alcântara:
«subimos à torre para melhor vermos / o círculo que nos une a esta terra /
desce o firmamento. hesita esta memória / em tocar o bosque cuja língua
desaparece. / de súbito, uma águia /a música que escrevemos. para sempre.
/de regresso à largueza / da floresta» Assim se prolonga poeticamente a
rejeição da morte o mesmo é dizer a negação das sombras, do esquecimento e
do desespero.

José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 17:09

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«A Terceira Atlântida» de Fernanda Durão Ferreira

A partir do site «www.aterceiratlantida.com» a Editora Contraponto publica
este recente trabalho de Fernanda Durão Ferreira, jornalista, investigadora
e sócia da Sociedade Portuguesa de Geografia – secção de História.
Esta ligação parece confusa mas não é: já Vitorino Nemésio tinha escrito «A
Geografia, para nós, vale tanto como a História.» A partir de textos de
Platão que descrevem a Atlântida e de uma observação no terreno sobre
algumas tradições terceirenses, a autora chega a uma conclusão: «as
culturas tradicionais transformam-se; não desaparecem». As touradas à
corda, a justiça da noite, o sangue cozido nas festas tradicionais
terceirenses, o azul, o açor e o próprio nome da Ilha são aqui estudados à
luz da relação entre os textos de Platão e a realidade real da Ilha
Terceira. O nome da Ilha pode ter uma relação directa com as ideias de
Joaquim de Fiore para quem a idade do Pai compreendia o tempo desde a
criação do Mundo até Moisés e a idade do Filho era o tempo desde Moisés até
Jesus Cristo. A terceira idade, idade do Espírito Santo, era uma resposta à
corrupção que grassava na hierarquia da Igreja do século XIII. Outra
hipótese é o nome Terceira derivar na verdade de outro facto: depois das
primeiras (Cabo Verde) e das segundas (Madeira e Porto Santo) as ilhas
açorianas seriam as Ilhas Terceiras. Um aspecto igualmente curioso e
fascinante neste texto é a semelhança claríssima entre o mapa da Ilha de S.
Miguel e a parte inferior do chamado painel do Arcebispo pintado por Nuno
Gonçalves. O Infante D. Pedro, filho de D. João I, era o donatário de S.
Miguel e as cordas estão dobradas numa semelhança quase total com o recorte
da Ilha de S. Miguel. Na Net ou em papel, um texto fascinante.

José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 17:08

Sexta-feira, 19.10.12

outras leituras de 2007

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O livro negro da condição das mulheres (organização de Christine Ockrent)

Não é fácil «resumir» em poucas linhas um livro com 734 páginas que desenvolve
temas como a segurança, a integridade, a liberdade, a dignidade e a igualdade
das mulheres no nosso Mundo. Vejamos apenas um destes aspectos num texto de
Malka Markovich, uma das colaboradoras do volume: «Diversas agências
internacionais afirmam que a exploração de seres humanos é muito mais rentável
que os tráficos de armas e de droga e que as penas previstas para a primeira
permanecem globalmente inferiores às que visam estes dois últimos. Em 2002 as
Nações Unidas estimavam que o tráfico de seres humanos se traduzia em lucros
entre os cinco e os sete milhões de dólares americanos e que, anualmente,
afectava quatro milhões de pessoas. Em 2003 a OSCE referia lucros variando
entre os sete e os doze mil milhões de dólares. A Europol informava que em 2003
quinhentas mil vítimas tinham sido encaminhadas para os 15 países da União
Europeia. Pino Arlacchi, director do Gabinete das Nações Unidas para o Controlo
da Droga e a Prevenção do Crime, informava que o tráfico para fins de
prostituição tinha feito 33 milhões de vítimas no Sueste Asiático durante os
anos 1990, o que se traduz num número de vítimas três vezes superior aos
números referentes ao tráfico de escravos africanos durante um período de 400
anos, estimado em 11 milhões de almas. Estas projecções não são exageradas
quando se sabe que em 2003 duas mil mulheres saíram diariamente das Filipinas à
procura de uma vida melhor no estrangeiro.»
(Editora Temas e Debates, Capa Vera Braga)
José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 17:06

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«Não sabia que a noite podia incendiar-se nos meus olhos» de Graça Pires

Graça Pires, neste seu nono livro de poemas, organiza o texto poético em
dois registos bem diferentes: Cultura e Natureza. Os primeiros onze são
poemas em prosa, numa recriação muito pessoal do célebre episódio de Marta
e Maria no Evangelho de São Lucas. Entre Marta (atarefada) e Maria
(contemplativa), o poema inscreve-se em duas memórias. Uma real («Olho pela
janela à procura da minha infância e reparo que já esqueci a paisagem e os
rostos desse tempo»); outra imaginada: «E perdoou à adúltera a quem queriam
apedrejar por saber que só é culpado quem não procura ser feliz.» Desse
cruzamento de memórias surge a escolha: «Por isso escrevo. Escrevo
desesperadamente. Escrevo para não esquecer.» O segundo núcleo de 22 poemas
não trata já da Cultura mas da Natureza, o mesmo é dizer a Geografia: «Pelo
lado interior do tempo / assinalo, com traços de luz, / a cidade litoral
onde nasci / rente à fragilidade do Outono. / Era Novembro / e uma estranha
sede / pairava sobre a terra / ávida de líquidas paisagens / quando minha
mãe me tomou nos braços / e disse: esta é a minha filha / O seu corpo doía
de tanta comoção. / Agora, que uma luz difusa me fascina / retenho a idade
em que não ousava / fazer do coração um lugar de conflito. / Escoa-se de
meus lábios / sem aviso prévio / um excessivo odor a maresia / como se o
Verão atasse ao meu pescoço / a sombra das dunas e todos os ventos /
afugentassem a inevitabilidade da morte. / É de musgo, a vertigem / onde
demoro as mãos, / para tornar legível a emoção.» Tornar legível a emoção é
o grande projecto de qualquer poeta. Graça Pires já o consegue desde 1990
quando se estreou com «Poemas».
(Capa – Katarina Rodrigues, Foto – Manuel Fazenda Lourenço)
José do Carmo Francisco
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por José do Carmo Francisco às 17:04


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