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Vinte Linhas 801 Eduardo Ungar – a memória e a esperança ou o fervor de uma cidade Podia chamar-se «entre a esperança e a memória» a este conjunto de quadros. Eduardo Ungar (n. 1946) faz um inventário de cores e de luzes, uma sucessão de bares, cafés e pastelarias – onde se joga o bilhar, as cartas e se bebe até ao fim da noite. Noutros quadros regista ruas e avenidas, varandas e terraços, pátios e palanques com quatro músicos e uma cantora de tango. Sem esquecer as floristas e as paragens de autocarro, entre a teimosa alegria e o cinzento quotidiano. O que estes quadros revelam é um tempo de encontro – seja no baile, no jogo de cartas, no beijo ou no bilhar jogado na mesa verde. Entre a memória do passado e a esperança do futuro, está o fervor de uma cidade onde o tango pode ser também (como escreveu Jorge Luís Borges) «uma forma de caminhar». As acácias e os jacarandás das ruas desconhecidas e das praças de Buenos Aires, são contraponto da festa e da reunião dos homens e das mulheres que povoam estes quadros. Um certo mundo vegetal sorri ao mundo sentimental de quem pede uma chave, compra flores, recebe um beijo ou dança ao ar livre num clube de tango. Ou de quem passa ao longe a gritar as alegrias de uma vitória do seu Bairro – podem ser os Chacarita Juniors. Mas podem ser também os atentos jogadores de cartas quando os seus talismãs de cartolina criam mistérios em quatro homens num café da cidade, suspensos no «sete de ouros» e numa esperança teimosa que não se repete todos os dias. Entre corvos e pombas, na luz dos pátios de Buenos Aires, um grupo de homens e de mulheres dança para juntar nos seus passos a voz da cantora, o som do piano, as cordas do violão e as harmonias do bandoneon – tudo na convocação nocturna e feliz da mais elementar alegria. José do Carmo Francisco --