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Transporte Sentimental



Sábado, 04.06.16

um jornal no século xix com uma capa do século xxi

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Cito «Mágico folhetim – literatura e jornalismo em Portugal» de Ernesto Rodrigues (Editorial Notícias). A imagem é do jornal do Museu das Notícias (Sintra) e é um pretexto para comparar a nossa era (indústria) com o século XIX (artesanato); ou seja, do computador aos granéis de chumbo. Na página 216 o texto de João Chagas em 1906: «Há vinte e cinco anos o Primeiro de Janeiro, como a maioria dos jornais do Porto, estava entregue aos cuidados de dois únicos redactores que entravam ao meio dia, se sentavam em frente um do outro em duas escrivaninhas pequenas, acendiam cada um o seu cigarro e redigiam o jornal, isto é, liam as folhas estrangeiras e as do país, traduzindo de uma ou recortando de outras, retocavam as informações da polícia, os testamentos e os resumos da edilidade local, compunham uma revista política, vertiam para português um folhetim que era em geral de Xavier de Montépin, acusavam a recepção das publicações recebidas, saudavam um ou outro forasteiro de passagem no Porto, feito o que, por volta das seis horas, cada um punha o seu chapéu e ia jantar. Às oito (…) abria o correio, verificava as ocorrências da tarde, dava uma demão na gramática e, algumas vezes, uma demão de estilo a um ou outro sucesso de consideração trazido de fora pelo informador, registava o tempo se tinha estado mau, anunciava o espectáculo da véspera ou o do dia seguinte, redigia os telegramas de Lisboa, que eram poucos e sóbrios, até que, por volta das dez, começavam a chegar as provas. Os jornais não tinham então revisores ou tinham apenas um – velho e moroso. Às duas, às três da madrugada, ainda se viam provas. Então, os dois únicos redactores baixavam à tipografia onde, com um cachenez enrolado ao pescoço e mãos nas costas, guardavam a paginação, redigiam à pressa, ao canto de uma mesa, a notícia do incêndio à última hora ou davam vazão a um derradeiro telegrama da meia-noite noticiando os despachos da justiça.» --

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por José do Carmo Francisco às 14:32


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