Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Transporte Sentimental



Domingo, 18.09.16

«a vida como ela é...» de nelson rodrigues

529.jpeg

Nelson Rodrigues (1912-1980) foi jornalista, cronista, dramaturgo, contista e romancista. Este volume «A vida como ela é…» integra 60 contos foram publicados no jornal «Última hora» de 1951 a 1961. Jornalista desde os 13 anos, o autor viu uma senhora matar seu irmão Roberto porque o jornal publicou a notícia da sua separação judicial que ela pediu que não fosse publicada mas a bala era para seu pai que não estava naquele momento. Mais tarde, noutro jornal, ouviu de uma nova e bonita funcionária da secretaria esta frase lapidar: «Comigo só casando!» Bastam estas duas razões para Nelson Rodrigues ser o autor óbvio de «A vida como ela é…» pois era ele a pessoa indicada para escrever estas histórias. Há nelas muita crueldade mental, muita gente sórdida como aquela mãe-galinha que matava as noivas do filho ou do pediatra que levava de automóvel a esposa para se prostituir e fazia o preço: «Meu marido é que trata dos preços. Dois mil cruzeiros.» Considerado por muitos leitores como reacionário, conservador e moralista, Nelson Rodrigues já tinha advertido no livro «O anjo pornográfico» de Ruy Castro: «O buraco da fechadura é, realmente, a minha óptica de ficcionista. Sou (e sempre serei) um anjo pornográfico». O ponto de partida do livro é uma conversa entre sogro e genro: «Desconfie de esposa amável, de esposa cordial, gentil. A virtude é triste, azeda e neurasténica». Noutra conversa com outros protagonistas a advertência é parecida: «Num casamento o importante não é a esposa, é a sogra. Uma esposa limita-se a repetir as qualidades e os defeitos da própria mãe». Neste universo de advertências, o beijo é perigoso: «Tudo o que acontece de ruim entre um homem e uma mulher, começa num beijo!» Não admira que surjam traições nestas páginas: «Regina compreendeu que certas esposas precisam trair para não apodrecer». Sem esquecer uma frase forte de uma mulher que se matou noutra história: «As mortas não traem». Um aspecto discutível é a não existência de um glossário com as palavras cujo sentido o leitor português não conhece: acuada, abacaxi, amola, às pampas, araque, bate-bocas, bucho, bola, biruta, bobagem, boca-de-siri, besta, batata, boteco, bagulho, barbada, bode, coriza, calcinha, carambolas, cédulas, cochilando, costume, chamego, chope, camisola, chispa, chiquê, chover canivete, dengues, droga, descartado, dente de coelho, desquitado, de piteira, entrar de sola, estrepe, espeto, esbaldando, espinhas, flerte, faixa, fez quarto, gentinha, gude, isola, jacaré, lelé, lotação, mico de circo, mancada, meio-frio, melodia, ojeriza, outros bichos, ônibus, pipocas, poste, papai, peso, passa-fora, papagaio, pão duro, papel, pílulas, periquito, pau, rachar, sinuca, sopa, zebu e zebra. Sem esquecer as diferenças de escrita como «embaixo» por em baixo, «demais» por demais e «malcontada» por mal contada. (Editora: Tinta- da- China, Selecção e prefácio: Abel Barros Baptista, Capa: Vera Tavares, Apoio: Ministério da Cultura/Fundação Biblioteca Nacional – Brasil) --

Autoria e outros dados (tags, etc)

por José do Carmo Francisco às 15:07

Domingo, 18.09.16

memória sobre um quadro de cesare novi em florença

Il mercato in Piazza Santo Spirito a Firenze 35x45

Nunca estive na cidade de Florença, o mais perto que consegui foi uma ida como enviado especial do jornal «Sporting» a Bolonha em 1998 e duas idas a Veneza em 1998 e 1999 mas há uma memória de filmes, leituras e fotografias que me aproximam desta praça onde se realiza um mercado semanal. À esquerda a torre, à direita a igreja, oiço os sinos e percebo que todo o tempo é de memória para todos os meus mercados, todas as minhas feiras, a Praça da Fruta nas Caldas da Rainha e eu a caminho do Quartel em 1972 com tempo para uma bica e um bolo na Pastelaria Machado ou no Gato Preto. Conforme a volta. Sou desde 1966 um produto do Curso Geral de Comércio, comecei a trabalhar aos quinze anos no Departamento de Estrangeiro de um Banco, o mesmo é dizer Importação e Exportação. O quadro de Cesare Novi levou-me numa viagem ao passado. Eu estou de novo em todas as praças, em todas as feiras, em todos os mercados, vejo o comércio como um exercício feliz, um encontro entre os que precisam de comprar e os que podem vender os produtos transformados em mercadorias. Quando eu tinha treze anos, acabado o Ciclo Preparatório, escolhi o Curso Geral de Comércio e tive um professor (Terêncio Anahory) que me ensinou a olhar de outra maneira para as Noções de Comércio, o Direito Comercial e a Economia Política. Mais tarde em TVP (Técnica de Vendas e Publicidade) tudo se tornou mais claro para mim. Era aquilo que eu queria. Por isso em 1966 quando comecei a trabalhar não estranhei as letras, as facturas, os conhecimentos de embarque, os certificados de seguro, os certificados de origem e as notas de embalagem. Só muito tempo depois (via Manuel Ferreira) percebi que Terêncio Anahory era o poeta que pela primeira vez usou a expressão «caminho longe». O Mundo é pequeno e o acaso é grande... --

Autoria e outros dados (tags, etc)

por José do Carmo Francisco às 09:15


Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

Pesquisar no Blog  

calendário

Setembro 2016

D S T Q Q S S
123
45678910
11121314151617
18192021222324
252627282930